Texto de revisão técnico-científico sobre pragas e doenças no café x mudanças climáticas, foi um trabalho de conclusão, elaborado por alunos da PG – IAC
PRAGAS NA CAFEICULTURA:
DESAFIOS E ESTRATÉGIAS DE MANEJO FRENTE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Eduardo Prada Neto¹, Marcus Vinícius Fernandes Prior¹, Marina Erê Almeida Hummel Pimenta Santos¹ & Valdenice Moreira Novelli²
RESUMO
O café (Coffea sp.) é uma das comodities agrícolas mais importantes no mundo, cultivado em mais de 80 países nos trópicos. Os surtos de pragas são fatores limitantes para a produção e uma grande preocupação não somente para os países produtores, por afetar diretamente a cadeia produtiva, causando perdas significativas, mas também aos países consumidores. Somente o Brasil é responsável por cerca de 30% da oferta mundial de café; porém, as perdas pela presença de pragas já foram estimadas em US$ 900 milhões/ano. Conheçam aqui, as cinco pragas que mais afetam o café em todo o mundo, aspectos como biologia básica, estratégias de manejo de danos e aspectos de interferência nos comportamentos e relações frente as mudanças climáticas.
Importância da cafeicultura
O cultivo do café, preparo e consumo estão impregnados de tradições que refletem os contextos sociais, econômicos e ambientais de diversas regiões. A cultura do café tem seu início nas terras altas da Etiópia, onde os efeitos energizantes dos grãos foram descobertos por comunidades de pastores denominados “Kaldi”. No século XV, o café espalhou-se pela Península Arábica, onde se tornou parte integrante da vida social, levando a criação de estabelecimento de cafés conhecidos como “qahveh khaneh”. A bebida se espalhou pela Europa no século XVII, promovendo centros de intercâmbio intelectual e discursos políticos. No século XVIII, a introdução do café no Brasil, com o período de exploração e colonização, marcou o início de uma jornada transformadora, moldando definitivamente o quadro agrícola e sociocultural do país. As condições climáticas favoráveis e as diversas características geográficas impulsionaram a ascensão do Brasil como uma potência cafeeira, entrelaçando elementos do colonialismo e dinâmica de trabalho. Atualmente nosso país é responsável pela produção de mais de um terço da oferta mundial de café. Tal sucesso depende de várias práticas agrícolas de cultivo e manejo, visando proteção contra pragas e doenças que podem comprometer tanto o rendimento quanto a qualidade dos grãos.
Segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) existem cerca de 300 mil produtores de café no Brasil, em 900 municípios, distribuídos em 15 estados do território. As duas principais espécies de café de interesse econômico no cenário mundial são Coffea arabica (Arábica) e Coffea canephora (Robusta). De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a abrangência territorial dos pomares é de aproximadamente 1,5 milhões de hectares para o café arábica e cerca de 300 mil hectares de café robusta. O café arábica é conhecido por seu perfil de sabor diferenciado, enquanto o robusta é caracterizado por seu sabor mais forte e amargo devido ao maior teor de cafeína. As plantas de arábica são geralmente cultivadas em altitudes mais elevadas, exigindo temperaturas mais frias, enquanto as de robusta são mais resistentes e pode prosperar em altitudes mais baixas e climas mais quentes. Observando as regiões do Brasil com produção, tem-se destaque no Sudeste, Norte e Nordeste, a qual o estado com maior representação é a Bahia. Os estados que destacam com maior quantidade de área plantada são Minas Gerais que corresponde a 974 mil hectares e São Paulo com 201 mil hectares. A procura por grãos de alta qualidade contribui para o desenvolvimento de estratégias de manejo e cultivares que favoreçam a adaptação e extensão do cultivo. No entanto, as plantações frequentemente representadas por pequenos agricultores enfrentam desafios como a flutuação dos preços de mercado, os impactos ambientais das alterações climáticas e a exploração laboral.
Limitações ao cultivo frente as pragas e alterações climáticas
Simulações dos impactos na cafeicultura brasileira, de um aumento na temperatura média do ar de 1ºC, 3ºC e 5,8ºC concomitante à um incremento de 15% na precipitação pluvial, foram conduzidas por pesquisadores utilizando dados de zoneamento agroclimático do café (Coffea arabica L.) nos estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Os resultados indicaram redução de áreas aptas superiores a 95% em Goiás, Minas Gerais e São Paulo, e de 75% no Paraná, no caso de um aumento na temperatura de 5,8ºC. Esses resultados são considerados válidos se mantidas as atuais características genéticas e fisiológicas das cultivares de café arábica no Brasil, que têm como limite de tolerância temperaturas médias anuais entre 18ºC e 23ºC. Alguns pesquisadores sugerem que o cultivo de café no Sudeste poderá migrar de arábica para robusta, enquanto o arábica poderá encontrar condições de cultivo nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O cultivo do café enfrenta inúmeras ameaças, sendo a presença de pragas de insetos um dos desafios mais significativos, causando danos consideráveis devido à diminuição da produtividade e ao comprometimento da qualidade. Estima-se que no Brasil, os prejuízos decorrentes da infestação de inseto-praga nas culturas predominantes variam de 2% a 43%, com impacto anual de cerca de US$ 14,7 bilhões na economia. As infestações por insetos vão além das perdas financeiras imediatas, abrangem dimensões ecológicas, sociais e econômicas. Dentre as pragas que podem diminuir significativamente a produção do café, temos a broca do café com perda na produtividade na ordem de US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão anuais somente na América Latina. Isto pode ser ainda mais grave aos pequenos agricultores que dependem do café como principal meio de subsistência. Os danos por pragas podem afetar os perfis de sabor do café, cujos frutos destruídos pela broca do café produzem sabores indesejados, levando à um menor valor de mercado e à rejeição do consumidor. Além disto, as infestações de insetos podem perturbar o equilíbrio dos ecossistemas que circundam as plantações de café, ocasionando uma crescente dependência de controles químicos como resposta às pressões das pragas. No país onde o café é um produto agrícola significativo, o fracasso das colheitas pode exacerbar os desafios de segurança alimentar, afetando não só os agricultores, mas comunidades inteiras que dependem da produção de café para a estabilidade econômica. Os danos ambientais resultantes podem levar a reduções na biodiversidade, prejudicando ainda mais as práticas agrícolas sustentáveis.
O uso de inseticidas é uma estratégia comum no manejo de insetos-praga na cafeicultura. No entanto, a sua utilização está repleta de desafios e implicações, principalmente aqueles relacionados aos efeitos na saúde dos agricultores e consumidores, bem como aos impactos ambientais. A dependência excessiva de inseticidas pode levar ao desenvolvimento de resistência entre as populações de insetos, tornando os métodos tradicionais de controle ineficazes. Estudos com as brocas do café por demonstraram que a resistência aos inseticidas pode ser evitada com alteração frequente nas estratégias de gestão química. Somado a isso, inseticidas de amplo espectro podem prejudicar insetos benéficos, como os polinizadores, levando a desequilíbrios ecológicos. As interações tritróficas, considerando mudanças climáticas, podem indicar a eficiência da expectativa frente as pragas do café em situações que podem ter impactos alterados. Avaliações das forças bióticas em experimento global, com modelos de lagartas, observaram um aumento da predação em direção a linha equatorial e em baixas altitudes. De fato, as instabilidades climáticas, projetadas para o futuro, indicam diminuição na predação em regiões tropicais. Métodos abrangentes de detecção e estratégias de mitigação são essenciais para enfrentar esses riscos e promover práticas de cultivo mais sustentáveis. A indústria cafeeira deve navegar no delicado equilíbrio entre o controle eficaz de pragas e a gestão ambiental para garantir a viabilidade futura da cafeicultura, tendo em vista ao mesmo tempo a saúde pública e os ecossistemas.
PRINCIPAIS PRAGAS
BROCA-DO-CAFÉ (Hypothenemus hampei). Originária da África Equatorial, é considerada uma das principais pragas da cafeicultura no Brasil, descrita em 1867 como Coleoptera: Scolytidae. Em escala variada, todas as espécies do gênero Coffea são suscetíveis ao ataque da broca, variando de um ano para outro e até mesmo no decorrer do mesmo ano. No Brasil, foi introduzida em São Paulo em 1913, junto as sementes importadas da África e de Java. Após, foi o inseto disseminou-se por muitos cafezais de Campinas e municípios vizinhos. Nas safras seguintes foram observados os primeiros prejuízos e a partir daí espalhou-se por todas as regiões cafeeiras do Brasil. A broca-do-café sofre metamorfose completa (holometabolia) passando pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto. Devido ao seu ciclo biológico relativamente curto, e grande capacidade de proliferação, é considerada importante problema fitossanitário em quase todos os países produtores de café. Nas Américas Central e Sul, sua proliferação é favorecida pelas condições de cultivo, em lavouras adensadas e topografia acidentada, dificultando o controle químico mecanizado, bem como os regimes pluviais permitem floradas e frutificações praticamente durante todo o ano, favorecendo a sobrevivência da broca. O ataque da broca proporciona porta de entrada para microorganismos, os quais sob condições propícias, podem desenvolver-se, atingindo os grãos e alterando a qualidade da bebida do café. O fruto de café é o alimento para todas as fases de desenvolvimento da broca, seu crescimento e reprodução. Os principais prejuízos são a perda de peso e da qualidade dos frutos atacados, com depreciação devido à alimentação das larvas, queda prematura de frutos e apodrecimento de sementes.
As condições climáticas favorecem ou retardam o desenvolvimento da broca-do-café. O inseto é encontrado em todas as regiões produtoras de Rondônia, região com características climáticas excelentes para o seu desenvolvimento. Os fatores que influenciam na infestação da broca-do-café são as taxas de chuvas, variação de temperatura e umidade. Nos anos onde ocorrem maiores precipitações durante o período de frutificação e maturação dos frutos, a taxa de incremento da população da broca é menor. Ao contrário, a ocorrência de estiagens pode favorecer a infestação da broca-do-café. A temperatura influi diretamente na duração do ciclo da broca, onde altas temperatura causam redução do ciclo de vida do inseto e, consequentemente, aumento do número de gerações e maiores prejuízos para colheita. A umidade relativa influi na infestação da broca-do-café, principalmente durante o inverno, na entressafra. Assim, invernos secos com baixas umidades relativas do ar desfavorecem a sobrevivência da broca, enquanto invernos úmidos favorecem à sua sobrevivência. A baixa umidade relativa do ar provoca ressecamento dos frutos, reduzindo a multiplicação do inseto, interferindo na paralisia de postura, finalizando em sua morte. As fêmeas não ovipositam em frutos com umidade inferior a 12%, 13% e os utilizam apenas como meio de alimentação e abrigo. A tolerância térmica da broca-do-café foi determinada avaliando o tempo (em dias) para desenvolvimento de ovo a adulto em temperaturas crescentes (15, 20, 23, 25, 27, 30, 33 ou 35 ºC). Observou-se que não houve desenvolvimento sob temperaturas extremas de 15oC e 35oC, mas ocorreu aceleração no ciclo quanto maior foi a temperatura (53,7±0,7 dias a 20 oC e 23,3±0,7 dias a 30oC), resultando em maiores danos e dispersão do inseto. Projeções para 2050 sugerem um crescimento do número de gerações de atual 1 a 4, para 5 a 10 em áreas de altas altitudes; e 11 a 16 em áreas de baixas altitudes para os cafezais do leste da África.
O controle biológico da broca-do-café foi iniciado em 1929, no estado de São Paulo, via introdução do micro-himenóptero Prorops nasuta (Hymenoptera: Bethylidae) que recebeu o nome popular de vespa-de-uganda. Liberado em grandes quantidades não só em São Paulo, mas também no sul de Minas, a princípio teve boa performance no controle da broca. Porém, em condições naturais não teve sucesso no estabelecimento; quando, a partir de 1994, outra vespa importada da África (Cephalonomia stephanoderis, Hymenoptera: Betylidae) demonstrou melhor resultado neste controle. Em condições particularmente favoráveis, o fungo Beauveria bassiana também é apontado como valioso no controle biológico das brocas.
BICHO-MINEIRO-DO-CAFEEIRO (Leucoptera coffeella). Conhecido por BMC, o bicho-mineiro-do-cafeeiro (Leucoptera coffeella, Lepidoptera: Lyonetiidae) é uma pequena mariposa, encontrada em diversos países e no Brasil em todas as áreas cafeeiras, com cerca de 4 mm de comprimento, holometabólica, que deposita seus ovos na parte adaxial da folha do cafeeiro. Após eclodirem, as larvas penetram no mesófilo da folha, consomem o parênquima paliçádico e causam danos pela redução da área fotossintética e senescência das folhas com a consequente perda de produtividade e qualidade de frutos. O BMC foi estudado quanto aos potenciais impactos frente as mudanças climáticas, com base no quarto relatório do IPCC, período de 2071 a 2100. Nos cenários avaliados, os resultados indicaram aumento do número de gerações da praga. Impactos sobre a distribuição espacial do BMC, também levam aos mesmos cenários com aumento no número de gerações, em comparativo com dados climatológicos de 1961-1990, sugerindo como consequência em aumento significativo nas infestações de BMC. Trabalhos sobre a flutuação populacional do BMC nos anos de 2015 a 2018, na EPAMIG em Três Pontas/MG, e concluíram que o aumento populacional da praga coincide com o início do aumento da temperatura. Na análise conjunta, com aumento de temperatura há aumento no número de gerações, sugerindo maior número de infestações. Entretanto, não há trabalhos que considerem os efeitos das mudanças climáticas nos inimigos naturais desta praga, demonstrando a necessidade de pesquisas envolvendo interações tritróficas em casos específicos, como do BMC.
COCHONILHAS (Coccus viridis). Dentre o complexo de insetos fitófagos associados ao cultivo do cafeeiro no Brasil, encontram-se várias espécies de cochonilhas (Hemiptera: Coccomorpha), as quais se alimentam das raízes, caule, rosetas, folhas, flores e frutos. Esses insetos causam danos diretos, por meio da contínua sucção de seiva pelas ninfas e adultos, e indiretos pela inoculação de substâncias tóxicas, transmissão de doenças e propiciar o desenvolvimento da fumagina, reduzindo a respiração e a taxa fotossintética das plantas. Atualmente há 14 espécies de cochonilhas pertencentes ao gênero Coccus associadas ao cafeeiro ao redor do mundo, Coccus viridis é polífaga e associada à 66 famílias e 166 gêneros botânicos. Possuem alta capacidade de colonização e adaptação as novas áreas e plantas hospedeiras, sendo insetos ovovivíparos, com reprodução predominantemente por partenogênese e com ciclo de vida variando entre 50 e 70 dias e considerada importante praga em Coffea arabica L. Durante a alimentação, a cochonilha injeta toxinas no sistema vascular da planta hospedeira causando hipertrofia das células cambiais com colapso das células do floema, havendo definhamento, queda de folhas, redução da produtividade e, em casos extremos, a morte da planta. A intensidade do ataque de adultos de C. viridis foi observada ocorrer em períodos de maiores temperaturas do ar e menor precipitação pluviométrica. Enquanto, ataques de ninfas foram mais intensos em períodos de baixa precipitação pluviométrica. Portanto, clima e pluviosidade têm influência direta nas infestações. Até o momento são conhecidas 3 espécies de Coleopteras como predadores naturais de C. viridis: Coccinellidae (Azya luteipes Mulsant, Scymnus e uma espécie não identificada) e Chrysoperla sp. (Neuroptera, Chrysopidae)
NEMATÓIDES. As perdas por nematóides do cafeeiro são estimadas globalmente em 15% e, somente no Brasil, podendo chegar aos 20%. Várias espécies de nematóides estão associadas a cultura do café. Porém, os gêneros Meloidogyne e Pratylenchus são comprovadamente nocivos e introduzidos em novas áreas por meio de mudas contaminadas. As principais estratégias que contribuem para o manejo são uso de mudas certificadas, cultivares resistentes (usados como pés francos ou porta-enxertos), plantas de cobertura (em rotação ou consórcio) e de adubos orgânicos.
Em relação às mudanças climáticas, os fitonematoides tendem aumentar em número de gerações, por consequência, ocorrências de maiores infecções. O Meloidogyne exigua é a espécie mais disseminada nas regiões produtoras de café. A infestação em lavouras de solos férteis, pode passar despercebida pois não causam destruição acentuada no sistema radicular como as espécies M. incognita e M. paranenses. Embora não cause declínio rápido, altas populações de M. exigua levam a deficiências nutricionais, com perda de folhas e prejuízos no desenvolvimento de plantas jovens. As raízes afetadas apresentam dificuldade na absorção de água e nutrientes, com amarelecimento gradual das plantas, deficiências nutricionais generalizadas, queda de folhas, seca dos ramos ponteiros e até morte das plantas. Os sintomas também podem ser observados nas raízes por meio de lesões e galhas. O controle mais efetivo de nematoides é a prevenção. Evitar o plantio em áreas infestadas, usar mudas sadias, desviar as enxurradas provenientes de áreas infestadas, limpar as máquinas e implementos. O uso de cultivares resistentes também é considerada uma prática eficiente no controle, pois mantém a população abaixo do nível de dano econômico. A planta resistente tende a diminuir a população do nematoide impedindo seu desenvolvimento e levando à baixas taxas de reprodução. Consequentemente, não causando danos ao cafeeiro e redução da densidade populacional do parasita no solo.
ÁCAROS FITÓFAGOS. Ácaros fitófagos também são considerados importantes pragas do cafeeiro. Ácaros das famílias Tetranychidae, Tenuipalpidae e Tarsonemidae são hospedeiros de plantas de café, sendo comumente encontrados nos pomares brasileiros as espécies Oligonychus ilicis e Brevipalpus sp. O ácaro vermelho do cafeeiro (O. ilicis), embora não seja considerado como praga-chave, já foi referido como a segunda praga em importância para Coffea canephora no estado do Espírito Santo, e o primeiro relato em Coffea arabica foi no estado de São Paulo, em 1950. Ácaros tetraniquídeos podem ser vistos na face superior das folhas que, quando atacadas, são recobertas por uma delicada teia, tecida pelos próprios ácaros, onde aderem detritos, poeira e suas exúvias, provenientes do processo de ecdise, dando às folhas um aspecto de sujeira. Para se alimentar, perfuram células da epiderme e do mesófilo e absorvem o conteúdo celular extravasado. Em consequência, as folhas perdem o brilho natural, tornam-se bronzeadas, havendo redução da área foliar de fotossíntese. O ataque ocorre geralmente em reboleiras e o controle deve ser feito no início da infestação, com risco de atingir toda a lavoura. Períodos de seca, com estiagem prolongada, são condições propícias à proliferação dos ácaros, podendo causar desfolha das plantas e atraso no desenvolvimento de plantas jovens. A redução da área de fotossíntese em consequência do ataque do ácaro-vermelho, resulta em prejuízo ao desenvolvimento das plantas e alguns trabalhos demonstraram que 59,2% de folhas infestadas pelo ácaro vermelho reduzem em 65% a produção. Outros ácaros emergentes nos cafezais são os do gênero Brevipalpus, vetores da doença conhecida como mancha anular do cafeeiro, causada pelo vírus Dichorhavirus coffeae (Dichorhavirus: Rhabdoviridae). As espécies de ácaros B. papayensis e B. yothersi são capazes de transmitir o patógeno e, quando em alta infestação, afetam a produção e qualidade dos grãos. Estudos da relação entre o aumento do CO2 atmosférico, fenóis e a população de Brevipalpus sp. em cafeeiro, observaram que efeitos distintos em função das cultivares (Catuaí e Obatã) e a sazonalidade seriam determinantes para a composição fenólica, a diversidade de espécies de ácaros e o tamanho da população. Assim como para outras pragas, eventuais aumentos de temperatura e baixa pluviosidade tendem a encurtar o ciclo biológico dos ácaros e, consequentemente, geram maior número de gerações em curto espaço de tempo. O controle químico utilizado no manejo das pragas e doenças do cafeeiro pode também causar considerável aumento populacional de ácaros, em função da eliminação de inimigos naturais ou do estímulo à oviposição. Portanto, assim como nas demais culturas, faz necessário o conhecimento sobre modos de ação, interações entre produtos, rotatividade e especificidade das moléculas para sucesso no controle e manejo de pragas e doenças no cafeeiro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os danos causados por pragas representam ameaças significativas ao cultivo do café, afetando a produtividade, qualidade e colocando em risco os meios de subsistência de milhões de cafeicultores em todo o mundo. Compreender os mecanismos específicos dos danos de cada espécie que ameaça a produção é crucial para o desenvolvimento de estratégias de gestão eficazes. Embora os controles químicos, como o uso de inseticidas, tenham sido em grande parte a solução ideal para o manejo de pragas, não devem ser desprezadas preocupações em relação à resistência, aos riscos à saúde e ao impacto ambiental. A mudança para práticas sustentáveis e gestão integrada de pragas é crucial para garantir a viabilidade a longo prazo do café como um importante produto global. Investimentos em pesquisas e adoção de estratégias inovadoras podem contribuir de maneira decisiva para o enfrentamento dos desafios climáticos e aumento de pragas em todas as culturas e, ao mesmo tempo, promoverem maior êxito em uma gestão ambiental e responsabilidade social.
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