Alto poder de destruição |
Rafael Alves As 10 maiores culturas mineiras em produção têm inimigos perigosos e de alto poder de destruição. São percevejos, larvas, bactérias e vírus que preocupam pesquisadores e produtores do estado. As lavouras de Minas conseguiram recentes vitórias no combate de alguns desses predadores do campo. O cancro cítrico, que somente este ano causou prejuízo de R$ 150 mil a produtores de mudas de laranja em São Paulo, não é registrado em plantações mineiras há quase dois anos. Até entre as doenças consideradas impossíveis de serem erradicadas em médio prazo, como a sigatoka negra na banana, é possível fazer trabalhos de controle da infestação, para que ela não se espalhe. Levantamento feito pelo Estado de Minas, com a ajuda da Empresa Brasileiras de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), apontou as pragas e doenças mais comuns nas principais culturas de Minas (veja quadro). São lavouras economicamente importantes e que ocupam uma área plantada total de aproximadamente 45 mil quilômetros quadrados, mais que o dobro de toda a região Central do estado, onde estão 34 municípios, incluindo Belo Horizonte. Nas plantações de café, cana-de-açúcar e soja, produtos de grande influência nas exportações de Minas, as preocupações são redobradas, por causa do alto custo dos investimentos nesses produtos. O café, por exemplo, sofre com uma doença comum no Brasil e na América Central: a ferrugem. Causada por um fungo, atualmente existem mais de 40 tipos de ferrugem registradas em cafezais. O arábica, espécie de café mais comum no país, é bastante suscetível a doenças, apesar de algumas variedades novas terem surgido com mais resistência. O uso de fungicidas específicos tem trazido bons resultados. “Mas o inimigo pode vir também debaixo. Do solo”, explica a superintendente de Produção Vegetal do IMA, Vânia Maria Carvalho. Ela se refere aos nematóides, praga dos cafezais que também ataca diversas outras culturas no estado. Os microscópicos vermes sugam a planta e injetam toxinas, causando deficiência nutricional. “Nos terrenos onde chegam, é praticamente impossível de serem eliminados”, afirma. O problema é que os nematicidas são extremamente caros e perigosos, porque matam todos os outros animais do solo. O controle é preventivo, com escolha de mudas sadias e separação de áreas infestadas de outras que ainda não foram contaminadas. Muitos produtores de regiões montanhosas têm aumentado as curvas de nível entre as culturas altas e baixas, para evitar que a chuva leve os nematóides para áreas sadias. No Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, principais regiões produtoras de grãos do estado, a ferrugem asiática é a preocupação do momento. Este ano, todas as lavouras foram contaminadas, por causa de um plantio equivocado feito no inverno de 2005, o que favoreceu o surgimento do fungo. “Não significa que haverá perda em todas, pois depende do manejo do produtor. Uma coisa é certa: a doença tem dado muita dor de cabeça”, afirma a pesquisadora Dulândula Wruck, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), responsável pelo monitoramento da doença no projeto Sistema de Alerta, construído pela Embrapa para controlar o avanço do mal no país. O agricultores da região foram surpreendidos por uma nova faceta da ferrugem. Antes, nunca tinha atacado plantas jovens, ainda em formação. Segundo a pesquisadora, soja recém-germinada, com apenas 28 dias, já foi contaminada por ferrugem, o que exigiu maior número de aplicações de fungicidas. Quem aplicou o defensivo apenas duas vezes em anos anteriores este ano está caminhando para a quarta pulverização, sem ter certeza de que isso será o suficiente para uma boa colheita. “Não significa que haverá perda em todas as plantações de soja, pois depende do manejo do produtor. Uma coisa é certa: a doença tem dado muita dor de cabeça” – Dulândula Wruck, pesquisadora da Epamig, sobre a ferrugem asiática do Triângulo e Alto Paranaíba |
Os predadores |
Saiba identificar pragas e doenças que atacam as 10 maiores culturas mineiras. São percevejos, larvas, bactérias e vírus que assustam produtores de café, soja, milho, feijão, cana-de-açúcar, banana, cítricos, algodão e tomate. Pesquisadores se preocupam com a rapidez da contaminação e os prejuízos deixados nas lavouras. Minas tem conseguido vitórias no combate a alguns inimigos do campo, graças ao trabalho de prevenção dos agricultores. |
Lavouras doentes |
CAFÉ Provoca perda de 20% a 30% da produção. É uma doença que desfolha as plantas. Entre os métodos de controle da ferrugem, o uso de cultivares tolerantes é o mais econômico e importante. Contudo, os locais infestados são tratados com defensivos químicos que ajudam a reduzir a incidência da doença e garantir a produção do cafezal. Os primeiros sintomas são pequenas manchas redondas e amarelas na parte inferior das folhas. Em fase mais avançada, provoca a necrose do tecido foliar. São vermes microscópicos que sugam o interior das células da planta e injetam toxinas. São considerados grande moléstia em diversas culturas e áreas infestadas dificilmente conseguem boa produtividade. Os sintomas nos cafezais se confundem com os de outras pragas, porque os nematóides também levam à deficiência nutricional da planta. O controle é difícil e os pesticidas custam muito caro e matam todo tipo de animais no solo onde é aplicado, o que pode provocar desequilíbrio na região. É recomendável comprar mudas com certificado de procedência. SOJA Doença causada por fungo que provoca desfolha precoce, impedindo a completa formação dos grãos, o que reduz a produção da área plantada. O nível de dano da doença depende do momento em que ataca a cultura e o clima. Os primeiros sintomas da ferrugem se iniciam pelo terço inferior ou médio da planta e aparecem como minúsculas pontuações mais escuras que o tecido da folha. O controle é feito com aplicações de fungicidas nas lavouras, dependendo do nível de contaminação. MILHO O inseto é considerado a principal praga do milho no Brasil. O ataque ocorre desde o início da vegetação até o surgimento das espigas. As perdas que a lagarta pode provocar chegam a 35% da lavoura. Para identificar a presença do inseto, o produtor pode verificar se houve raspagem das folhas, que ficam transparentes. Com seu desenvolvimento, a lagarta vai para o interior da planta, destruindo o cartucho. Inseticidas e predadores naturais são usados para o controle da praga. FEIJÃO Causada por fungo, essa doença é muito comum nas regiões Sul e Sudeste do país, especialmente em áreas serranas de Minas Gerais. As ocorrências freqüentes de temperaturas moderadas, aliadas à alta umidade, favorecem o desenvolvimento da antracnose. Os sintomas são vistos em toda a planta. Nas vagens, são mais freqüentes e podem ser identificados por lesões arredondadas, de coloração escura, deprimidas e de tamanho variável. No centro das lesões, é possível que apareça também uma massa rosa, provocada pela produção de esporos do fungo. As folhas apresentam manchas, como se fossem queimaduras. Usar sementes sadias e aplicar fungicidas é a alternativa para controle. O inseto é causador de uma das doenças de maior impacto na cultura de feijão: o vírus do mosaico-dourado. Historicamente, as perdas com a presença desse inimigo nas lavouras fica entre 40% e 85%, podendo chegar a 100%, dependendo do estágio da planta e de seu grau de resistência ao vírus. Como apenas uma picada da mosca transmite o vírus, o controle é difícil. Variedades mais resistentes são usadas em larga escala. Alguns inseticidas específicos estão registrados no Ministério da Agricultura e também são comuns no campo. CANA-DE-AÇÚCAR É a larva de uma mariposa de hábitos noturnos que põe seus ovos nos canaviais. As pequenas lagartas penetram no caule e fazem galerias de túneis, levando a planta a perder peso, sofrer atrofia e quebrar, levando a cana à morte. Os furos no caule também abrem espaço para os fungos que causam a doença conhecida como podridão vermelha. As condições climáticas brasileiras não têm dado espaço para bons controles químicos. Por isso, as usinas usam uma pequena vespa, inimiga natural da broca, para o controle da infestação, o que demonstrou ser o método mais eficaz. BANANA É provocada por um fungo de grande poder de dissiminação, que causa pequenas descolorações na parte inferior das folhas, além de estrias de coloração marrom. Outros sintomas da doença são manchas ovais de cor escura na parte de cima das folhas e manchas com centro deprimido e de coloração branco acinzentado. Não tem como ser erradicada e precisa ser controlada com produtos químicos e medidas sanitárias. CÍTRICOS Causado por bactéria, o cancro é a grande ameaça da citricultura brasileira. Não existe forma de ser eliminado. Quando aparece, a medida é exterminar a planta e as mudas contaminadas, que precisam ser queimadas. O cancro é possível de ser visto por lesões nos frutos, folhas e ramos da planta. Em áreas de maior infestação, há queda de frutos e folhas. Os sintomas costumam ser confudidos com o de outras doenças e, por isso, é preciso consultar técnicos para rápida identificação. BATATA É uma das doenças mais comuns, causada por vírus e tem preocupado os produtores mineiros. Os sintomas, como o nome diz, é o enrolamento das folhas, o que prejudica o desenvolvimento da planta. Desde o início da produção da batata-semente no país, o vírus do enrolamento era considerado o único causador de prejuízos, até meados de 1994, quando outra variedade, o vírus Y, chegou de países europeus. O controle deve ser feito com mudas sadias e aplicação de inseticidas para matar o pulgão, que é o transmissor. ALGODÃO Ataca as folhas da planta em períodos de surgimento da gema. A recomendação é fazer vistoria no campo dos 40 dias aos 150 dias do plantio. Os restos de culturas infestadas devem ser destruídas e o uso de variedades de ciclo precoce, de no máximo 130 dias, é recomendado para o controle. O Ministério da Agricultura tem uma lista de inseticidas registrados para o combate da praga, que causa prejuízo anual nas plantações brasileiras de R$ 18 bilhões, segundo agricultores. TOMATE Tem presença constante nos tomateiros, principalmente nos períodos mais secos do ano. As lavouras irrigadas por aspersão ou pivô central são menos atacadas. A traça põe os ovos, de cor branca, para que as larvas penetrem na planta e frutos, onde permanecem por até 10 dias. As larvas podem destruir completamente as folhas e tornar imprestáveis os frutos, além de facilitar a contaminação. O controle mais eficaz é o químico, usando inseticidas especiais para a traça. Mesmo assim, o produtor que fizer corretamente o combate da praga ainda pode perder até 10% da produção. Fontes: Embrapa, IMA, Epamig e mercado |