PR: fim dos estoques públicos de café
Londrina/PR
O fim de uma era. Pela primeira vez na história o Brasil começa uma safra de café sem o guarda-chuva dos estoques públicos reguladores. No Paraná, restam menos de mil das mais de 10 milhões de sacas armazenadas no início da década de 90. Em todo o país, sobraram pouco mais de meio milhão, de um total de 17 milhões de sacas na época. A intenção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é zerar os estoques governamentais ainda neste ano. Nos armazéns do Paraná, eles quase não existem mais.
Das 8.605 sacas (60 kg) remanescentes no estado, 7.635 foram negociadas em um leilão dos estoques do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), realizado ontem pelo sistema eletrônico do Banco do Brasil. Os preços de fechamento oscilaram entre R$ 214,50 e R$ 229 por saca e o faturamento total ficou em R$ 1.709.241. Os grãos ofertados na operação estavam em armazéns nas cidades paranaenses de Apucarana, Cambé e Maringá e foram adquiridos pelo governo na temporada 1986/87.
Poucos anos depois, com a extinção do Instituto Brasileiro do Café (IBC) em 1990, o governo federal interrompeu as compras de novos lotes para recomposição dos estoques públicos reguladores. A única exceção aconteceu no ciclo 2003/04, quando a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) adquiriu, via contratos de opção, pouco mais de 1 milhão de sacas para amenizar uma forte queda na cotação.
No final de 1993, quando foram retomados os leilões de venda, após a extinção do IBC, o Brasil contava com quase 17 milhões de sacas estocadas, mais de 10 milhões delas armazenadas no Paraná. Desde então, sem novas aquisições e com leilões de venda periódicos, esse volume vem caindo ano a ano. No final do mês passado, os estoques públicos do país somavam apenas 540,4 mil sacas, conforme levantamento do Departamento de Café (Decaf), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
A maior parte dos estoques governamentais remanescentes (379 mil sacas) estão em Minas Gerais, estado que hoje é o principal produtor de café do país. No Paraná, que já foi o maior produtor nacional, chegou a ser responsável por 28% da safra mundial no início da década de 60 e hoje ocupa a singela quarta colocação no ranking nacional, o volume armazenado é apenas simbólico.
O levantamento do Mapa, referente ao final do mês passado, acusa estoques superiores a 50 mil sacas no estado, mas na prática a realidade é outra. Armazenados por mais de 15 anos, os grãos adquiridos pelo governo durante a década de 80 perderam qualidade e peso. Das 53,8 mil sacas que constam no levantamento, 7,6 mil foram vendidas ontem; cerca de 6 mil que foram entregues ao governo como garantia de financiamento aguardam decisão judicial para poderem ser comercializadas; mais de 23 mil foram doadas ao Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) para serem usadas como adubo orgânico; e outras duas mil foram roubadas. A conta fecha com a chamada quebra de estoques, que exclui os grãos que já chegaram ao armazém com umidade elevada e os que estragaram com o tempo. São aproximadamente 15 mil sacas. As perdas parecem grandes, mas, diluídas ao longo dos anos, estão dentro da margem prevista, de 2%.
O produto que resta está armazenado nos estados de em Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo deve ser liquidado ainda neste ano. Para evitar a interrupção no fluxo de oferta de café, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou, no final de março, voto que dá ao Mapa autonomia para decidir quais são os agentes operacionais para a venda dos estoques públicos. Até agora, o Banco do Brasil era o único agente autorizado a fazer a operação. “O Mapa, por meio da Conab, irá retomar os leilões dos estoques remanescentes do Funcafé o mais breve possível, tão logo sejam estabelecidos os procedimentos jurídicos e administrativos conforme a resolução do CMN”, prevê o diretor do Departamento de Café, da Secretaria de Produção e Agroenergia (SPAE), Lucas Ferreira.
Não há um acompanhamento oficial dos volumes disponíveis em armazéns privados, mas Ferreira estima que os estoques de empresas e cooperativas totalizem hoje entre 7 e 8 milhões de sacas do grão no Brasil.