Portugueses mudam de hábitos por causa da crise. Estabelecimentos tentam, a todo o custo, atrair clientes: alguns reduzem o preço da tradicional bica
Os hábitos de muitos portugueses estão a adaptar-se à crise económica e o consumo do café não é uma exceção: aumentam as compras de capsulas e a procura dos estabelecimentos com preços mais baratos.
A subida do IVA no início do ano não levou a uma subida imediata do preço dos cafés nos estabelecimentos comerciais e há mesmo quem tenha optado por baixar o valor de venda, já que o setor está há muito ameaçado pelo consumo em casa, graças à proliferação das capsulas.
O consumo, esse, tem vindo a aumentar. A culpa é do «surgimento das cápsulas que tem incentivado as pessoas a consumirem café a baixo custo em casa», como disse à Lusa João Dotti, diretor geral da Nutricafés, empresa que concentra a Nicola e a Chave D’Ouro.
«Tomar o café fora de casa já não é prioridade para os consumidores portugueses pois agora têm a oportunidade de o fazer a um preço mais reduzido em casa», disse João Dotti.
«O volume de vendas de cápsulas na nossa empresa está a aumentar, ao contrário da venda de café para o setor da restauração e hotelaria».
Para tentar contrariar esta crise, vários estabelecimentos em Lisboa ainda cobram 50 cêntimos por cada bica. São o caso de O Sonho, Sandwich Bar e Pastelaria Snack-Bar Central do Rato.
O gerente desta última, Carlos Ribeiro, relembrou à Lusa que, no ano passado, a bica ainda fazia parte do quotidiano dos clientes: «À hora do almoço chegávamos a ter três filas de pessoas, hoje isso já não acontece. As pessoas já não têm esses luxos».
Há três anos, a pastelaria vendia o café a 25 cêntimos, mas os aumentos sucessivos do custo do produto obrigou a preços mais elevados: «Desde o aumento do IVA para 23% tivemos de aumentar o preço para 50 cêntimos. Este preço baixo não compensa mas se queremos manter os clientes temos de fazer este esforço».
Opinião semelhante tem Manuel Carlos, proprietário do snack-bar O Sonho, que há dois anos mantém o preço mas acaba por não vender, «apesar de ser o café que vende mais barato na zona».
Ercília Santos, proprietária do Sandwich Bar, que reduziu o café para 50 cêntimos há uma semana, confessou sentir o mesmo: «Eu vendia o café a 60 cêntimos mas baixei o preço para atrair clientes, mas não está a adiantar de muito».
Ao suportar o custo do IVA, Ercília Santos espera conseguir recuperar esse encargo «através da venda dos outros produtos».