quarta-feira, 29 de Julho de 2009 | 14:56 Imprimir Enviar por Email
O «Café Martinho da Arcada», que ameaça encerrar as portas devido à escassez de clientela motivada pelas obras e recentes alterações ao trânsito no Terreiro do Paço, foi inaugurado há 227 anos e é actualmente o mais antigo de Lisboa.
Inaugurado a 07 de Janeiro de 1782 pelo Marquês de Pombal, o Café Martinho da Arcada teve como seu cliente mais conhecido o escritor e poeta Fernando Pessoa, a par das muitas individualidades lisboetas que atravessaram as suas muitas décadas de vida.
Rezam as crónicas que três dias antes de morrer, Pessoa tomou ali café, acompanhado pelo também poeta e pintor José de Almada Negreiros. O autor de «A Mensagem» adoptou o «Martinho» depois de ter sido um dos famosos frequentadores de «A Brasileira», no Chiado.
Em 1782, o estabelecimento abriu as suas portas como «Casa das Neves», devido aos sorvetes que vendia, e teve vários nomes, como «Café do Comércio» ou «Casa do Café Italiano», até ser adquirido por Martinho Bartolomeu Rodrigues, em 1845, que o rebaptizou como «Café Martinho da Arcada».
Além de Pessoa, que ali gostava de fazer as suas refeições e passar horas a escrever, passaram pelas suas cadeiras ilustres personalidades da história portuguesa, entre eles Afonso Costa, Manuel de Arriaga, Bernardino Machado, França Borges, Cesário Verde, António Botto, Augusto Ferreira Gomes, António Ferro, Almada Negreiros, Eça de Queirós, Columbano Bordalo Pinheiro, Bocage Gago Coutinho ou Duarte Pacheco.
Foi igualmente local de tertúlia de ministros, arquitectos e escritores que em comum tinham ideias liberais e revela a história que foi ali que os intelectuais da época se regozijaram quando em 1828 foi criada a Carta Constitucional e onde os homens «iluminados» fizeram juramento do documento, que representava um compromisso entre a doutrina da soberania nacional e o desejo de preservar os direitos régios.
Há dois anos, o 225º. aniversário do Café Martinho da Arcada, foi assinalado numa cerimónia presidida pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.