12/04/2013
Por James Anderson | Associated Press, de Caracas
Os venezuelanos costumam reclamar que tudo o que põem no prato vem do exterior: bife, do Brasil; arroz, da África do Sul; parmesão, do Uruguai; aveia, do Chile. Até o café, num país famoso por ele, não raro vem da Colômbia.
Sob o governo socialista implantado por Hugo Chávez, os consumidores nunca sabem se conseguirão comprar açúcar, farinha de milho e outros produtos quando vão aos mercados. “Não dá para encontrar nada”, diz Ermis Rodriguez, uma aposentada de 75 anos, no movimentado mercado Guaicapuro, em Caracas. “Votei no Chávez, mas não vou votar no Maduro. As coisas estão piorando.”
Chávez fez da reforma agrária um pilar da sua “revolução” e prometeu transformar a Venezuela numa potência autossuficiente e exportadora de alimentos. Ao longo dos últimos 12 anos, o seu governo expropriou 2,3 milhões de hectares de terras agrícolas que, segundo Chávez, eram mal usadas. Ele nacionalizou empresas produtoras de alimentos cujos proprietários estariam explorando o povo, conspirando contra o governo, ou ambos. No caso de alguns produtos, como arroz e café, a participação de mercado do governo passou a ser de entre 40% a 75%.
Nos últimos sete anos, a Venezuela conviveu com faltas esporádicas de alimentos básicos como leite e manteiga. O país ainda importa quase 70% dos seus alimentos. E tem que comprar produtos que não precisava antes de Chávez, como carne bovina e arroz.
Gerardo Barreto, presidente da Câmara da Indústria do Estado de Carabobo, afirma que Chávez destruiu a indústria cafeeira ao expropriar as principais empresas. Segundo ele, o resultado da ação foi a degradação do produto, já que companhias com décadas de know-how foram substituídas por estatais sem experiência.
Barreto diz ainda que a expropriação da Agro Islena, produtora de sementes e fertilizantes, também afetou a produção agrícola. De acordo com Barreto, os fertilizantes importados pelo governo são mais caros e difíceis de serem obtidos. “Toda a cadeia de produtividade foi desorganizada”, afirma.
José Agustín Campos, presidente da Confederação Nacional de Agricultores e Pecuaristas, pró-governo, defende as políticas de Chávez. Campos diz que Chávez reduziu as taxas de juros para empréstimos agrícolas e impôs um salário mínimo para trabalhadores rurais, equiparado ao dos urbanos, para encorajar a mão de obra a ficar no campo. Ele também acrescenta que a dependência da importação de alimentos é um antigo problema, que antecede Chávez.
As tentativas de reforma agrária nos anos 1960 patinaram após o governo redistribuir terras sem fornecer o conhecimento técnico e o capital necessários, o que resultou na queda da produção. Quando Chávez chegou ao poder, em 1999, um censo descobriu que 90% da terra entregue aos pobres haviam voltado a latifundiários.
Chávez prometeu não repetir os mesmos erros, mas os pobres continuaram a migrar para as cidades; sem expertise, fazendas expropriadas produzem menos e menos. Produtores privados frequentemente têm prejuízo devido às centenas de preços controlados que Chávez impôs em uma luta inglória contra a inflação em disparada.