TERRA & VOCÊ
09/12/2010
Plantas que toleram seca
Pesquisa identifica gene que confere resistência ao estresse hídrico
O aquecimento global e a escassez cada vez maior de água é uma das preocupações com quem trabalha com agricultura. Em busca de soluções para esses problemas iminentes, a pesquisa agropecuária busca plantas que sofram menos com a falta de água. Agora, uma nova porta se abre para estudos nessa área. Os pesquisadores Eduardo Romano, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, e Márcio Alves Ferreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e suas equipes, identificaram um gene que confere alta tolerância à seca.
Esse gene se encontra normalmente em plantas de café e os pesquisadores, além de identificá-lo, conseguiram demonstrar que quando ele é transferido para outras plantas elas se tornam altamente resistentes à seca. Já foi registrada patente do gene no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) e o próximo passo é testar seu desempenho em outras plantas de interesse agronômico, como soja, cana de açúcar e algodão. A identificação desse gene foi possível graças ao pioneirismo do Brasil, que em 2004 sequenciou o genoma do café. Isso resultou em um banco de dados com cerca de 200 mil sequências de genes, dos quais, mais de 30 mil já estão identificados. Esse banco está à disposição das 45 instituições que compõem o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, distribuídas em 14 estados brasileiros, entre as quais se incluem a Embrapa e a UFRJ.
Foi desse diverso manancial genético que saiu o gene identificado e testado pelos pesquisadores. Segundo Eduardo Romano, essa fase, chamada de pós-genômica ou genômica funcional é aquela em que os pesquisadores identificam e estudam os genes na busca de características de interesse agronômico, como tolerância a estresses climáticos e resistência a pragas e doenças.
TOLERÂNCIA
Para chegar ao gene que confere tolerância à seca, os pesquisadores submeteram plantas de café arábica – a variedade mais utilizada comercialmente no Brasil e no mundo – a dez dias sem água. Com o passar do tempo, eles verificaram, por análises moleculares, que a expressão desse gene aumentava a cada dia em condições de seca. \”É o que chamamos de restabelecimento da homeostase, a defesa natural da planta para sobreviver em condições de estresse\”, explica Romano.
Com essa informação, os pesquisadores isolaram o gene e o transferiram por engenharia genética para plantas modelo em laboratório. O objetivo era checar se a planta se tornaria mais tolerante à seca e se teria condição de passar essa característica para suas próximas gerações. \”Essa é a fase à qual chamamos de validação gênica. Para que uma tecnologia possa ser validada cientificamente, é preciso provar que o gene realmente confere a característica desejada – no caso a tolerância à seca – e se é capaz de passá-la para as suas futuras gerações\”, esclarece o pesquisador. As plantas geneticamente modificadas e suas descendentes permaneceram saudáveis após 40 dias sem água, tornando-se muito mais tolerantes que as plantas que não receberam o gene. Com esses resultados, os pesquisadores passaram então para a fase de registro de patente junto ao Inpi.
Saiba Mais
Essa pesquisa foi premiada como melhor trabalho científico no II Congresso de Genética Molecular Vegetal, em 2009. O fato de a patente ter sido registrada por instituições públicas brasileiras é muito positivo para o Brasil.
A cobrança de royalties será realizada 100% por este setor que reinvestirá em pesquisa e poderá oferecer variedades tolerantes à seca para o setor produtivo nacional por custos reduzidos.
O próximo passo do trabalho é transferir esse gene para outras culturas agrícolas de importância para o País, como soja, algodão e cana- de- açúcar.
As pesquisas com essas outras culturas têm como objetivo obter variedades tolerantes capazes de produzir nas condições de seca da Região Nordeste, no caso do algodão, e diminuir os custos com irrigação, no caso de soja e cana-de-açúcar.