Contra inflação, meta é alcançar produção recorde de 150 milhões de toneladas
Agronegócio contará com R$ 65 bilhões em créditos e agricultura familiar terá outros R$ 13 bi; governo vai ampliar estoques de cereais
DIMITRI DO VALLE DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
O governo federal anunciou ontem o Plano Agrícola e Pecuário 2008/2009 com a estimativa de alcançar a produção recorde de 150 milhões de toneladas de grãos, 5% acima do obtido no período passado.
Segundo a mais recente estimativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a safra atual, 2007/8, cresceu 8,7% em relação à anterior, combalida pela crise que havia no setor agrícola.
O agronegócio terá R$ 65 bilhões em créditos, volume 12% superior ao liberado na safra passada. Hoje, em Brasília, o governo também anuncia o programa de financiamento da agricultura familiar, que terá outros R$ 13 bilhões.
Ao priorizar o aumento dos investimentos para atender às demandas interna e externa, o governo federal tenta conter a escalada inflacionária dos alimentos, além de esperar reduzir o custo de produção.
Para isso, a promessa é que 70% dos recursos (R$ 45,5 bilhões) sejam oferecidos com taxas fixas de 6,75% ao ano à agricultura empresarial. Uma linha de crédito de R$ 1 bilhão foi aberta no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para os produtores que quiserem reverter pastagens degradadas em áreas para plantio. Um dos principais resultados aguardados é conter o avanço da lavoura rumo à Floresta Amazônica.
O ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) disse que o plano “está dentro de uma estratégia de médio a longo prazo” para dar sustentação a outras medidas, como a reestruturação das dívidas agrícolas e a criação do fundo contra catástrofes climáticas para cobrir eventuais perdas do produtor (em discussão no Congresso e cuja implantação está prevista para o ano que vem), além de fundos específicos para financiar pesquisas e investir na defesa de sanidade animal.
Auto-suficiência
Reinhold Stephanes afirmou que o anúncio anual dos planos para a próxima safra deverão ser substituídos em um prazo de três anos por planos qüinqüenais, “já que a agricultura precisa começar a ser pensada a longo prazo”, disse.
Segundo o ministro, até o final deste ano o governo vai terminar um estudo que pode dar ao país -em um prazo de 5 a 10 anos- a auto-suficiência na produção de fertilizantes.
Em alguns casos, até 90% dos insumos são importados e pressionam, com a alta do petróleo usado na fabricação desses produtos e de defensivos, os preços finais das commodities.
Para o ministro, o combate à alta dos preços internacionais dos alimentos depende do incremento de produção das principais nações agrícolas.
“Não é apenas o Brasil aumentando a produção. Ele deve fazer a sua parte”, disse Stephanes, ao citar que espera ver a mesma posição de Estados Unidos, Argentina e, a longo prazo, de países africanos.
O Ministério da Agricultura anunciou que os preços mínimos para a safra 2008/9 tiveram reajuste de até 65%.
A finalidade é recompor a elevação do custeio da produção e dar ao produtor garantias mínimas de preço em caso de oscilações na cotação. Stephanes disse que o governo quer reforçar, por exemplo, os estoques de feijão. “É melhor sobrar do que faltar, diante dessa crise internacional de alimentos”, disse o ministro.
A R$ 80, a saca de 60 kg de feijão anão (o tipo mais comum plantado no país) terá alta de 65,22% ante a safra passada.
A saca de 60 kg de milho custará R$ 13,20 (reajuste de 20%) em Mato Grosso e Rondônia. A saca para Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal e regiões Sul e Sudeste teve elevação de 17,86% e custará R$ 16,50. A saca de 60 kg do arroz em casca passará a R$ 25,80 (reajuste de 17,27%) em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul e o trigo tipo 1 no Sul teve elevação de 20% (a R$ 28,80).