01/09/2012
PIB decepciona e cresce apenas 0,4% no 2º trimestre
Pior resultado ficou com a indústria, que recuou 2,5%. Agropecuária foi o destaque: cresceu 4,9%
Rio e São Paulo – O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro voltou a decepcionar no segundo trimestre deste ano, crescendo somente 0,4% (1,6% em termos anualizados), comparado ao trimestre anterior, na série livre de influências sazonais.
O resultado, que ocorreu mesmo com forte redução dos juros e diversas medidas tributárias e creditícias de estímulo desde o segundo semestre do ano passado, consolida o pessimismo em relação ao crescimento em 2012, levando a projeções de 1,5% no ano ou até menos. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em relação ao mesmo período de 2011, a expansão no segundo trimestre foi de apenas 0,5%, pior resultado desde o terceiro trimestre de 2009, em plena crise global.
Recuos na indústria, nos investimentos e nas exportações foram os principais responsáveis pelo mau resultado do PIB no segundo trimestre. Essa retração foi contrabalançada pelo ritmo apenas moderado de crescimento dos serviços e do consumo das famílias, insuficiente para produzir um resultado mais animador do PIB total no segundo trimestre.
Agropecuária
O destaque positivo foi a agropecuária, que cresceu 4,9% (21% anualizado) no segundo trimestre. O setor foi puxado pelo crescimento das safras de milho, café e algodão. Porém, representando apenas 5,5% do PIB, a agropecuária não fez forte diferença no resultado total.
A indústria teve um recuo de 2,5% no segundo trimestre, ante o primeiro, na série sem influências sazonais. No mesmo critério, a indústria de transformação também recuou 2,5%. Na comparação com o segundo trimestre de 2012, a indústria caiu 2,4% e a indústria de transformação teve um forte recuo de 5,3%, pior resultado entre os 11 subsetores da indústria e dos serviços, e quarta queda trimestral consecutiva. Tanto no caso da indústria quanto no da indústria de transformação, são os piores número desde o terceiro trimestre de 2009. Em quatro trimestres até o final de junho, a indústria recuou 0,4% e a indústria de transformação teve queda de 2,9%.
Nos serviços, o principal destaque foi o item ‘administração, saúde e educação públicas’. Segundo Rebecca Palis, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, o segundo ano de governo normalmente tem mais concursos e contratações, após uma certa parada de início de mandato – o que influenciou a alta da administração pública, além das restrições a contratações no segundo semestre de anos eleitorais. Outro crescimento significativo nos serviços foi o dos seguros.
No setor externo, as exportações de bens e serviços tiveram queda de 3,9% no segundo trimestre ante os três meses anteriores, na série dessazonalizada. Já as importações cresceram 1,9% no mesmo critério. Em relação ao segundo trimestre de 2011, as exportações caíram 2,5% e as importações subiram 1,6%.
Os investimentos recuaram 0,7% no segundo trimestre, ante o primeiro, na série dessazonalizada. É o quarto recuo consecutivo nessa base de comparação. Em relação ao segundo trimestre de 2011, a queda foi de 3,7%, a segunda consecutiva.
Repercussão
“Mesmo em uma safra marcada pela quebra na produção de grãos e de preços achatados na pecuária bovina, a agropecuária continua a apresentar dados favoráveis à economia, em função da melhoria de preços das commodities agrícolas no cenário mundial. Isto mostra a importância deste setor neste momento de crise financeira mundial. ”
José Mário Schreiner, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg)
“O dado mais preocupante do resultado do PIB é que a participação de investimentos está diminuindo. O governo aposta numa filosofia de consumo com redução de juros para fazer crescer a economia. E está deixando de investir, para ter dinheiro disponível para empréstimos. Mas chega uma hora em que a taxa de inadimplência vai sacrificar esse modelo, porque as famílias vão estar muito endividadas e o governo também.”
Adriano Paranaíba, economista presidente do Instituto Pró-Economia e professor do Instituto Federal de Goiás (IFG)
“Existe um problema generalizado de mercado e, por isso, já esperávamos uma desaceleração do crescimento. O baixo resultado do PIB é o sinal claro de que a crise está realmente nos atingindo e deve ter reflexos até 2013. “
Sônia Milagres Teixeira, professora doutora da Universidade Federal de Goiás (UFG)
“O setor de construção não está ameaçado ou saturado. A demanda é real, não existe bolha. A desaceleração é reflexo da economia como um todo. Num momento de crise externa, as pessoas acabam postergando o investimento em imóvel, por cautela. O problema é que essas medidas do governo de estimular o consumo para enfrentar a crise são apenas paliativas. É preciso investir mais.“
Ilézio Inácio Ferreira, presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) e empresário da indústria da construção