07/03/2013
Puxada pela agropecuária e pela reação da indústria no fim do ano, economia mineira acelera mais de duas vezes acima da nacional em 2012. Minério e café foram destaques
Marta Vieira
Com uma farta colheita de café no ano passado, um bom desempenho das plantações de soja e forte expansão da construção civil, Minas Gerais ultrapassou, sem dificuldade, a modesta taxa de crescimento da economia brasileira em 2012, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB). O estado cresceu 2,3%, ante 0,9% na média do Brasil. A expansão mineira, a rigor, repetiu o comportamento de 2011 (2,5%), só ganhando, nos últimos 10 anos, da queda de 4% de 2009, período duramente afetado pela crise financeira mundial de 2008, e da expansão de 1,4% verificada em 2003.
À contribuição da commodity agrícola mais importante da produção mineira se juntaram a reação da indústria no fim do ano, o aquecimento dos negócios dos prestadores de serviços, a exemplo das transportadoras, e do comércio em geral. Impulsionada pelo café, a agropecuária mineira avançou 4,4%, taxa idêntica àquela alcançada pela indústria da construção civil, divulgou, ontem, a Fundação João Pinheiro. Em ambos os casos, foi uma performance bem superior às médias nacionais, de retração de 2,3% e alta de 1,4%, respectivamente.
O comércio cresceu 2% em Minas, o dobro da taxa nacional registrada pelo segmento. No setor de serviços, o destaque ficou por conta dos transportes, com crescimento de 2,3% frente a 0,5% no Brasil, como reflexo da safra de grãos muito favorável no estado e da produção aquecida de insumos para o campo e os canteiros de obras, avaliou Raimundo de Sousa Leal, coordenador do departamento de contas regionais da Fundação João Pinheiro. Até mesmo no lado mais fraco do balanço da economia em 2012 – a produção da indústria – houve sinais de recuperação no último trimestre do ano. No fechamento de 2012, o setor apresentou ligeira expansão de 0,7%.
A performance da indústria foi beneficiada pela retomada do consumo de minério de ferro no mercado internacional, principal produto da indústria da mineração, e pelo ritmo da produção de insumos para a construção civil e a agropecuária. Por sua vez, a produção da indústria brasileira encolheu 2,5% no ano passado.
“A economia mineira reagiu com alguma antecedência aos incentivos lançados pelo governo federal, embora com maior volatilidade, explicada pelo peso do setor agropecuário nos resultados”, afirmou Raimundo Leal. O café responde por cerca de 40% do valor da produção agrícola mineira e exibiu um aumento de 20% da tonelagem colhida em 2012 dos grãos do tipo arábica. Os números significam que a cultura cafeeira contribuiu com pelo menos 0,5 ponto percentual da taxa total de expansão do PIB de Minas.
Sem surpresas O retrato da economia mineira em 2012 não surpreendeu o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado Júnior. “A nossa indústria é muito concentrada em commodities (produtos agrícolas e minerais com cotação no mercado internacional, a exemplo do minério de ferro e do café) e o mundo voltou a comprar. O duro é termos de comemorar taxas de crescimento tão modestas. Precisamos aprender com a situação e ver se nos recuperamos este ano”, afirmou.
A secretária de Desenvolvimento Econômico, Dorothea Werneck, observou que, mesmo num cenário adverso, o estado conseguiu resultados melhores que a média nacional em quase todos os setores que compõem o PIB do país e ficou à frente do crescimento de São Paulo (1,3%), estado que representa cerca de um terço da economia brasileira.
Neste ano, a economia mineira não terá o reforço da cultura cafeeira, que cumpre ciclos bianuais de produtividade, os quais se revezam entre alta e baixa produção de forma consecutiva. Segundo Raimundo Leal, da Fundação João Pinheiro, a performance do agronegócio mineiro saiu também favorecida em 2012 pelo fato de Minas ter sofrido menos com a seca em comparação a outros estados, que contribuíram para a queda da produção na média brasileira, de 2,3%. Além do café, as colheitas da soja e da cana-de-açúcar foram representativas, com aumento de 4,5% e 4,1%, respectivamente. Em linhas gerais o PIB estadual foi muito impactado pelo bom resultado do primeiro semestre do ano passado.
Enquanto isso…Europa mergulha na recessão
A queda do investimento empresarial e a relutância dos consumidores em gastar até mesmo no Natal prejudicaram a economia da zona do euro nos últimos três meses do ano, o que autoridades esperam que tenha sinalizado o ponto mais baixo da recessão do bloco. A produção econômica dos 17 países que compartilham o euro caiu 0,6% no quarto trimestre de 2012 na comparação com os três meses anteriores e de 0,9% na comparação com o quarto trimestre do ano anterior, segundo a agência de estatísticas da União Europeia (UE), Eurostat, confirmando a leitura preliminar e marcando a maior queda trimestral num ano de contração. “Este foi o pior trimestre no ciclo de recessão”, disse Mads Koefoed, economista do Saxobank. A Eurostat informou que o bloco monetário está em recessão há 15 meses consecutivos.