São Paulo, 16 de
Dezembro de 2005 – O trigo foi o mais afetado. Seu Valor Bruto da Produção
(VBP), ou faturamento bruto, caiu 59%, para R$ 984 milhões. O milho encolheu
26,1%, para R$ 10,2 bilhões, e o arroz 25%, para R$ 6,6 bilhões. A pecuária deve
fechar 2005 com faturamento de R$ 30,6 bilhões, 5% menor que o apurado no ano
passado. Os dados são de um estudo realizado pela CNA e pelo Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP.
“Trigo, milho, soja, arroz,
algodão e pecuária de corte representam 45% do VBP da agricultura. Quando eles
vão mal, têm grande impacto sobre o resultado geral”, diz Pernambuco.
A
crise reflete a seca na região Sul do País – que provocou uma quebra de quase 20
milhões de toneladas na safra de grãos -, o aumento do custo de produção e a
desvalorização do dólar, o que reduziu a rentabilidade do agronegócio.
Na contramão, foram bem as lavouras de laranja, cana-de-açúcar,
café e suínos. Juntas, elas
faturaram R$ 32,8 bilhões, nível 7,2% maior que o de 2004. “Mesmo as lavouras
que foram bem não tiveram desempenho excepcional”, ressalta. Enquanto as maiores
quedas do VBP foram da ordem de dois dígitos, o maior aumento, o do café, ficou em 7,9%.
Para 2006,
Pernambuco diz que o PIB pode voltar a crescer porque a safra deve ser maior, o
que deve compensar a projetada queda de preços. “Uma recuperação que não vem
acompanhada por aumento de preços não é um indicador sólido de recuperação de
renda”.
A redução do faturamento da soja não surpreendeu Luiz Nery
Ribas, secretário-executivo da Associação dos Produtores de Soja do Estado de
Mato Grosso (Aprosoja/MT). “A queda de 32% da renda é grande, mas devo ressaltar
que a sensação no campo é de que a retração foi ainda maior”.
Ele
explica que não faltaram fazendas que demitiram funcionários, reduziram o uso de
tecnologia e adiaram investimentos em função da crise. Em 2005, informa a CNA, a
oferta de emprego com carteira assinada no campo teve o pior desempenho dos
últimos 4 anos.
Para o presidente da Federação das Associações dos
Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Valter Pötter, a queda de 25% do
PIB do segmento resulta do excesso de oferta do grão no mercado nacional. “As
importações do Mercosul e os grandes estoques nacionais provocaram queda
significativa no preço”, diz. Segundo ele, a saca de arroz é negociada de R$ 21
a R$ 22, valor quase 19% menor que há um ano.
Na laranja, um dos setores
que cresceram em faturamento, os citricultores dizem que só a indústria – que
tem pomares próprios – tem se beneficiado. Os produtores independentes ficaram
de fora. “Nossa perda pode ser atribuída ao câmbio e ao aumento do custo de
produção em razão da maior incidência de doenças que exige investimentos em
defensivos e renovação dos pomares”, diz Flávio Viegas, da Associação Brasileira
de Citricultores. Na cana, Maurílio Biagi, presidente da Usina Moema, diz que
“tudo que se ganhou em preço foi perdido com o câmbio. Mesmo assim, os usineiros
não têm do que reclamar.”
Para Wolmir de Souza, da Associação
Catarinense dos Criadores de Suínos, o aumento do PIB é resultado da aposta em
tecnologia e rastreabilidade.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados
– Pág. 12)(Lucia Kassai, Isabel Dias de Aguiar e Chiara Quintão)