Mudanças climáticas podem ocasionar, até 2050, grande perda da área propícia para a produção de café arábica nas regiões conhecidas como Matas de Minas e Montanhas do Espírito Santo.
Mas essa perda pode ser reduzida com a utilização de sistemas agroflorestais, ou seja, o cultivo consorciado de café com árvores. Essas são as principais conclusões do artigo Agroforestry systems can mitigate the impacts of climate change on coffee production: A spatially explicit assessment in Brazil, publicado por pesquisadores da UFV e da Universidade de Wageningen (Holanda), na revista Agriculture Ecosystems & Environment.
Fizeram parte da pesquisa e são coautores do artigo o estudante de doutorado Lucas de Carvalho Gomes, do Programa de Pós-Graduação em Solos e Nutrição de Plantas da UFV, em double degree com a Universidade de Wageningen, e os professores do Departamento de Solos, Irene Maria Cardoso, Elpídio Inácio Fernandes Filho e Raphael Bragança Alves Fernandes.
No estudo, os autores analisaram, por meio de um programa de modelagem, as projeções climáticas para o ano de 2050 e como as mudanças no clima poderão impactar as áreas propícias para a produção de café nas Matas de Minas e Montanhas do Espírito Santo. Segundo Lucas Gomes, as regiões montanhosas estudadas produzem cerca de 22% da produção nacional de café arábica e essa “cultura de café possui uma faixa considerada ótima de temperatura, que varia de 18 a 21°C, sendo muito susceptível às mudanças climáticas.”.
Os resultados apresentados apontam que, caso as projeções se confirmem, a região perderá cerca de 60% da área propícia para a produção de café arábica, principalmente na região entre 600 e 800 metros de altitude. Mas a boa notícia é que, nesta região, especificamente na Zona da Mata de Minas Gerais, como conta Lucas Gomes, nas últimas três décadas “muitos agricultores agroecológicos passaram a manejar o café em sistemas agroflorestais, consorciando o café com árvores”.
Durante esses anos, os agricultores selecionaram mais de 80 espécies arbóreas, que podem ser utilizadas nos cafezais sem prejudicar a produção cafeeira, como o Ingá, por exemplo. Essas árvores propiciam “um microclima mais favorável e têm um grande potencial para mitigar altas temperaturas em um futuro com temperaturas mais altas”, destaca Lucas.
Os pesquisadores indicam como resultado da pesquisa que a utilização de sistemas agroflorestais tem potencial para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e reduzir a perda de áreas da produção cafeeira para 25%, ou menos, a depender do número de árvores utilizado. De acordo com eles, a identificação na região de áreas mais susceptíveis às mudanças climáticas pode contribuir ainda para planejar o manejo do café visando a manutenção de sua produção.
O artigo faz parte do Programa Internacional Forefront, que conta com a UFV, a Wageningen Unviersity, da Holanda, e as universidades mexicanas Colegio de la Frontera Sur e Universidad Autonoma de Mexico.
O Forefront busca contribuir para elaborar estratégias de uso da terra que reconciliem a produção com a manutenção da biodiversidade, responsável por inúmeros serviços ecossistêmicos, importantes não só para as comunidades locais, como para a população em geral. O programa usa métodos comparativos a partir dos trabalhos dos pesquisadores das instituições envolvidas, no Brasil, México e Holanda, e facilita um processo de aprendizado contínuo entre os países. Ele objetiva ainda potencializar as capacidades locais e contribuir para o desenvolvimento de ferramentas que também possam ser aplicadas em outras regiões.
Sabrina Areias – campus Viçosa