Pesquisador da Unicamp obtém café sem cafeína com alta produtividade

Interesse comercial ainda é pequeno no Brasil; menos de 1% do café no País é descafeinado

29 de junho de 2010

Agência Fapesp

SÃO PAULO –
Em 2004, um grupo de pesquisadores brasileiros anunciou, em artigo publicado na
revista Nature, a descoberta de pés de café desprovidos de cafeína. No entanto,
a ideia de explorar comercialmente o café descafeinado natural tem se mostrado
frustrada pela baixa produtividade das plantas, provenientes da Etiópia.


Agora, utilizando uma técnica para induzir mutação em sementes, um
pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) obteve, a partir de
sementes de um cafeeiro já utilizado comercialmente, sete plantas mutantes que
combinam a produtividade e a ausência de cafeína.


O estudo, apoiado pela Fapesp por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa –
Regular, foi realizado por Paulo Mazzafera, professor do Departamento de
Biologia Vegetal e diretor do Instituto de Biologia da Unicamp. No artigo de
2004, o cientista teve a colaboração de pesquisadores do Instituto Agronômico,
de Campinas (SP).


Segundo Mazzafera, seu experimento utilizou sementes do cafeeiro comercial
Catuaí Vermelho, da espécie Coffea arabica, que foram tratadas com dois tipos de
mutagênicos. As cerca de 28 mil plantas resultantes da germinação foram
analisadas por um método qualitativo que identificava a presença ou ausência de
cafeína.


\”Com o tratamento, obtivemos sete cafeeiros que são praticamente desprovidos
de cafeína. São plantas bastante vigorosas que já estão produzindo flores. Já
fizemos boa parte das análises bioquímicas e moleculares dessas plantas e
procuramos uma empresa brasileira interessada em implantar comercialmente esse
café naturalmente descafeinado\”, disse Mazzafera à Agência Fapesp.


O cientista explica que o campo onde foi feito o experimento tem atualmente
250 plantas. Com as sementes disponíveis, é possível plantar cerca de 5 hectares
para testes. \”Se der tudo certo, vamos fazer mudas com essas sementes e levar
tudo a campo em 2011\”, disse Mazzafera, que é um dos membros da coordenação da
área de Agronomia e Veterinária da Fapesp.


Segundo ele, o interesse comercial pelo café descafeinado é pequeno no
Brasil, diferentemente do que ocorre em outros países. Menos de 1% do café
comercializado em território brasileiro é descafeinado. Enquanto isso, na Europa
e nos Estados Unidos, a divulgação dos efeitos adversos da cafeína tem provocado
um aumento crescente do mercado de café descafeinado.


\”O café descafeinado corresponde a cerca de 10% do total do café
comercializado no mundo. Certamente, é um mercado muito interessante e
valorizado. A alternativa de um café desse segmento que não tem necessidade de
passar por processos industriais para ser descafeinado é bastante promissora em
termos de mercado\”, destacou Mazzafera.


Existem três processos para produção do café descafeinado. O método que
emprega o solvente diclorometano; o suíço, que utiliza água para retirar a
cafeína; e o de gás carbônico supercrítico. \”No método suíço, a água retira a
cafeína, mas leva junto muitos elementos importantes do café, tendo que ser
retornada ao processo. Já o supercrítico exige instalações muito caras\”,
explicou o professor.


Patente


As plantas obtidas pelo processo só apresentaram um problema: a estrutura de
uma flor de café normalmente garante que a planta tenha uma alta taxa de
autofecundação – próxima de 95% -, mas a flor da planta mutante abre
precocemente, quando ainda está imatura, e com isso pode não ter a mesma taxa de
autofecundação.


\”Como a flor abre antes, em tese ela pode receber pólen de plantas com
outros teores de cafeína. O problema, no entanto, não é tão grave, porque
podemos plantar lotes de café formados exclusivamente com as plantas mutantes,
segregados dos lotes com as plantas normais. Ou podemos colocar abelhas nas
plantações do material com baixo teor de cafeína, provocando assim um aumento da
taxa de autofecundação entre elas\”, disse Mazzafera.


Um dos principais resultados do método que envolveu indução à mutação foi a
economia de tempo. \”O melhoramento genético tradicional poderia demorar muitos
anos para chegar a gerar plantas descafeinadas produtivas\”, disse.


O processo mutagênico utilizado para a obtenção das plantas descafeinadas foi
patenteado. \”No Brasil, não podemos patentear o material, por isso patenteamos
o processo. No momento em que uma companhia brasileira se interessar em
implantar o café descafeinado natural, poderemos fazer uma patente internacional
relativa aos produtos provenientes desse café, cobrando royalties para quem for
produzir\”, explicou.


Saiba mais:
http://www.unicamp.br/unicamp/es/divulgacao/2004/06/25/unicamp-e-iac-anunciam-cafeeiro-descafeinado


 

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