O prêmio Melhor Estudo do Ano, concedido anualmente pela “Association of Official Analytical Chemistry – AOAC” foi entregue, no dia 11 de setembro último, à pesquisa do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café – CBP&D/Café, “Determinação de Ocratoxina A em Café Verde por Cromatografia Líquida e de Imunoafinidade: Estudo Colaborativo”. A pesquisa foi desenvolvida pelos pesquisadores Eugênia Azevedo Vargas e Eliene Alves dos Santos, do Laboratório de Controle de Qualidade e Segurança Alimentar do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e por Alain Pittet, do Laboratório da Nestlé (Suíça).
A pesquisadora Eugênia Azevedo Vargas, que desenvolve pesquisas do Consórcio em Belo Horizonte, MG, recebeu, ainda, o prêmio de Melhor Diretora de Estudo do Ano. Ambos os prêmios foram entregues na Flórida, Estados Unidos, durante o 119º Encontro Anual da AOAC Internacional.
A AOAC internacional é uma associação científica que há mais de 100 anos está comprometida com a confiabilidade dos resultados analíticos gerados em todo o mundo. Os seus métodos são aceitos internacionalmente e usados por indústrias e órgãos de regulamentação nas áreas de saúde pública e segurança, comércio, monitoramento e controle da qualidade.
A ocratoxina A (OTA) é uma micotoxina produzida por fungos, que pode ser desenvolvida no café principalmente nas etapas de colheita e pós-colheita, sendo que o crescimento do fungo e a produção da OTA são afetados pelas condições ambientais e físico-químicas do grão. O mercado internacional, e principalmente a Comunidade Européia, vem estudando as contaminações de alimentos por diferentes micotoxinas e demonstrado, há mais de 10 anos, preocupação com relação à OTA no café. Mesmo levando em consideração que a OTA só ocorre em cafés mofados e de má qualidade, e que ocorre uma redução, em média, de 68% da contaminação de OTA durante o processo de torrefação, a Comunidade Européia estabeleceu limites para o teor de contaminação dos cafés importados pelos países da Comunidade, que passaram a vigorar a partir deste ano. Para o café verde não foi estabelecido limite, dadas as dificuldades na metodologia de amostragem, fixando-se, para o café torrado, o limite de 5 ppb (partes por bilhão) e para o solúvel, de 10 ppb, estabelecendo assim uma barreira não tarifaria à comercialização do produto, em defesa da saúde do consumidor.
O Brasil tem investido na pesquisa cafeeira, por intermédio do CBP&D/Café, estabelecendo e disponibilizando ferramentas para certificação da qualidade sanitária do café em relação à contaminação por OTA. Além disso, os estudos nessa área possibilitaram o conhecimento das condições que favorecem a ocorrência dos mofos e de OTA, tanto no campo como durante os processos de colheita, pós-colheita, armazenamento e transporte do produto, de modo a poder orientar os agentes da cadeia agroindustrial do café quanto às “Boas Práticas Agrícolas e Industriais” a serem adotadas para se obter produtos completamente saudáveis e isentos de contaminantes.
O método para análise de OTA em café verde, determinado pela pesquisa premiada, foi validado em laboratório e publicado, em 2000, no Diário Oficial da União como método oficial do Brasil. A implementação do estudo colaborativo (validação internacional) foi realizada com a participação de treze laboratórios de países dos continentes americano, europeu e asiático (Canadá, Colômbia, Itália, Japão, Singapura, Suíça, e United Kingdom) e sete laboratórios brasileiros Tecpar, UFSM, LACQSA/LANAGRO-MG/MAPA, FUNED, ITAL, IAAL, IAL e Embrapa Agroindústria de Alimentos.
A importância deste trabalho, além da capacitação técnica de laboratórios, está no fato de ter sido disponibilizado um método oficial internacional harmonizado para uso tanto no Brasil, maior produtor e maior exportador de café, como nos países importadores. Dessa forma, demandas futuras de análise dos segmentos do agronegócio café (produtores, cooperativas, indústrias, exportadores e importadores) poderão ser atendidas visando avaliar a conformidade do café em relação à contaminação de Ocratoxina A em café beneficiado.