Durante um ano e meio, três áreas de cultivo de café com idades de plantio diferentes (um ano, dois anos e oito anos) foram monitoradas usando uma RPA.
Uma pesquisa da Universidade Federal de Lavras (UFLA) investigou o potencial de uso de Aeronaves Remotamente Pilotadas (RPAs), popularmente conhecidas como drones, no monitoramento de plantações de café afetadas por geadas. O estudo, realizado em três áreas de plantio em uma fazenda na região de Santo Antônio do Amparo, Minas Gerais, evidenciou que a utilização desse equipamento na agricultura traz benefícios significativos para os produtores de café, permitindo monitorar os efeitos das geadas, quantificar rapidamente seus danos e implementar medidas de prevenção e mitigação.
Durante um ano e meio, três áreas de cultivo de café com idades de plantio diferentes (um ano, dois anos e oito anos) foram monitoradas usando uma RPA. Considerando a possibilidade de serem afetadas por geadas, essas áreas de plantio foram classificadas em zonas de baixo risco (parte superior do terreno) e alto risco (parte inferior do terreno). As imagens multiespectrais obtidas por esse sensoriamento remoto via RPA foram analisadas através de modelos matemáticos, também chamados de índices de vegetação, que permitem avaliar e caracterizar a cobertura vegetal de uma determinada área.
O estudo constatou que as duas plantações mais novas, assim como todas as áreas de alto risco climático, foram as mais afetadas pela geada, e que a plantação mais antiga, ainda que menos afetada, teve maior dificuldade para se recuperar ao longo do tempo. Sobre os modelos matemáticos utilizados, a pesquisa concluiu que os índices de vegetação MSR e MCARI2, que apresentaram o coeficiente de determinação de 92,89%, foram mais eficientes em avaliar os danos em plantios de um ano, enquanto que os índices SAVI, MCARI1 e MCARI2, que obtiveram o coeficiente de determinação de 76,44%, foram melhores para visualizar os danos nos plantios de dois anos.
Esse monitoramento, de acordo com a autora do estudo, Gislayne Farias Valente, começou após a geada de julho de 2021. “Realizamos cinco visitas periódicas (a cada três meses) às plantações de café, durante um ano e meio. Marcamos cada planta e seus ramos para garantir consistência nas medições. A primeira avaliação foi feita três dias após o evento da geada. Nela, medimos a porcentagem dos danos foliares, a altura das plantas e o número de folhas e nós por ramo. Além disso, através de uma RPA, capturamos com uma câmera multiespectral imagens para a análise dos índices de vegetação”.
“Nas demais visitas, foram contabilizados os mesmos parâmetros vegetativos de crescimento e recuperação do cafeeiro, além da realização dos voos com a RPA. Contamos o número de flores durante a floração e o número de frutos na última visita”, assegurou a pesquisadora. O estudo identificou que a plantação de um ano, a mais nova, foi danificada em 80% nas áreas de alto risco de geada. Guiados por esses dados, os agricultores podem tomar decisões mais assertivas, como a poda, a adubação, o replantio ou apenas aguardar que elas rebrotem.
Para a pesquisadora, estudos como esse podem evitar perdas financeiras significativas, já que o Brasil é o maior produtor de café do mundo e Minas Gerais, o estado no qual o estudo foi realizado, é responsável por aproximadamente 70% de toda a produção nacional. Segundo ela, esses estudos abrem portas para uma série de pesquisas adicionais. “Ao compreendermos melhor os efeitos desses eventos climáticos adversos, podemos identificar lacunas no conhecimento e áreas que necessitam de mais investigação. Isso estimula a colaboração entre cientistas, agricultores e instituições de pesquisa no desenvolvimento de soluções inovadoras e estratégias de adaptação mais eficazes”.
A pesquisa intitulada “Aeronave remotamente pilotada aplicada no monitoramento de cafeeiros após a ocorrência de geada” foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola pela então doutoranda Gislayne Farias Valente, sob orientação dos professores Gabriel Araújo e Silva Ferraz, Fábio Moreira da Silva e Felipe Schwerz, todos do Departamento de Engenharia Agrícola (DEA/UFLA).
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig.
Escrito por Pedro Henrique Cardoso.