Pesquisa da Gelre revela a importância do crédito rural para a geração de empregos

A população ocupada na agricultura, de mais de 16 milhões de pessoas, diminuiu em 4% em relação a 1997 e os incentivos para a mão-de-obra rural são uma saída

6 de dezembro de 2005 | Sem comentários Novas Técnicas Tecnologias

Recife, 06 de Dezembro de 2205 – Os recursos do PRONAF – Programa de Apoio a Agricultura Familiar  precisam ser utilizados em favor da produção familiar, especialmente do Nordeste. Faltam estímulos aos produtores para que incorporem esse crédito como um componente de suas atividades produtivas. A conclusão é do economista Henrique de Barros, professor de Economia Brasileira Contemporânea e Desenvolvimento da Agricultura Familiar da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE – no quarto fascículo da Coletânea Gelre – Série Estudos do Trabalho.

Em seu estudo, intitulado: Nossa terra tem mais vida: agricultura e emprego rural no Brasil na virada do milênio, desenvolvido por iniciativa da Gelre  empresa especializada em Relações Humanas no Trabalho, em atividade há 42 anos no Brasil – o economista e professor faz um apanhado histórico da produção agrícola e das relações de trabalho no campo desde o século 18, com os escravos eram vistos como os pés e as mãos dos senhores de engenho, até o novo milênio, com a consolidação da agricultura familiar, mostrando a realidade de uma população na área rural em que, de acordo com o Censo de 2001, 78% das pessoas são pobres – enquanto na área urbana, 46% estão nessa situação.

A visão histórica apresentada pelo professor Barros é fascinante e nos mostra acertos e desacertos do passado, dos quais deveremos tirar ensinamentos para construir um mundo do trabalho rural melhor para o hoje e o amanhã, diz o presidente da Organização Gelre, Jan Wiegerinck.

De acordo com o professor Henrique Barros, somente no ano passado, os recursos do PRONAF, originados em sua terça parte do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador-, foram de R$ 4,5 bilhões e, para o ano de 2005 o montante previsto é de R$ 7 bilhões. No entanto, até 2004 o Nordeste só conseguiu receber 20% dos recursos do PRONAF – apesar dessa região incluir 48% dos estabelecimentos considerados familiares.

Ferramenta essencial para o desenvolvimento rural do país, esse sistema de crédito rural, específico para as condições da agricultura familiar, representa um avanço sem precedentes para o fortalecimento da agricultura familiar e da pequena agroindústria, diz o professor Barros, para quem a distribuição regional dos empréstimos do PRONAF ainda precisa ser melhorada.

O estudo Gelre sobre agricultura e emprego rural aborda ainda as diversidades regionais e as relações de trabalho no mundo rural brasileiro, analisando não só a produção familiar como também o regime de meação, predominante nos plantios de cebola ao longo do trecho médio do Rio São Francisco e os novos padrões do trabalho assalariado que, a partir dos anos 70 predominam na área da cana-de-açúcar.

A Modernização dos anos 1970: a agricultura estimulada pela indústria é outro tema desse novo estudo Gelre e mostra que os avanços tecnológicos, desenvolvimento das áreas química e de engenharia mecânica, assim como da genética e da agronomia trouxeram transformações positivas e negativas no campo. No Sertão do Nordeste, mais precisamente no Vale do São Francisco, a agricultura de frutas ganha impulso ao logo dos anos 1980 e 1990, estimulada pela abertura de mercados e pelas vantagens comparativas das condições de produção, complementa Barros.

Por outro lado, o economista afirma que a trajetória do trabalhador rural, na economia, aponta para as cidades. E a agricultura permanece como setor em transição. Somente nos anos 1990, a produção rural começa a buscar uma identidade e a imposição de novas alternativas de trabalho no meio rural exige uma adaptação a novas ocupações, que agregam valor ao produto agrícola. As estratégias desenvolvidas foram engenhosas e variadas. Os arranjos familiares tinham como base a chamada família estendida, formada pelos sogros, genros, cunhados, tios, sobrinhos e outros parentes próximos, diz o professor da URFPE.

O estudo Gelre mostra ainda que o cenário do setor agrícola aponta para a diversidade de formas de ocupação no meio rural, segmentadas por atributos, como desenvolver capacidade técnica e melhorar o nível educacional. O acesso a formas de educação objetivas e voltadas para necessidades específicas da área rural será uma condição para agregar valor à mão-de-obra disponível nas áreas rurais, diz ele.

Por isso mesmo, o professor Barros garante que a aliança estratégica entre a produção de conhecimento e a produção familiar deve ser ampliada. E acrescenta: os centros de geração de tecnologias precisam ser revitalizados na direção de um apoio mais decisivo a produtores alimentares, capaz de reforçar a segurança e, sobretudo, a cidadania alimentar.

Em suas conclusões ele afirma também que as oportunidades de valorização da produção rural são crescentes e podem ser oferecidas, por exemplo, pela diversificação da demanda por produtos mais saudáveis e socialmente mais justos. A expansão de redes de consumo orgânico apresenta enorme potencial, ainda apropriado por produtores mais bem estruturados, conclui o professor Henrique Barros.

Coletânea Gelre Estudos do Trabalho



A coletânea teve início em 2004 com o primeiro fascículo Brasil: Estagnação e Crise, numa parceria da Gelre com o Cesit – Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, da Unicamp. A série de estudos foi lançada com o objetivo de oferecer aos empresários, às entidades de relações trabalhistas e até mesmo ao Governo elementos para reflexão por meio de parcerias com renomadas instituições de ensino e pesquisa.


Em fevereiro de 2005ª, foi lançada a pesquisa – Os Jovens no Mercado de Trabalho do Brasil, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e, em agosto deste ano, o terceiro estudo Sexo Frágil? Evidências sobre a inserção da mulher no mercado de trabalho brasileiro, desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

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