Os futuros do café arábica negociados em Nova York subiram cerca de 24% desde o final de outubro em meio ao impacto do clima na produção brasileira
Com a menor oferta de café nos Estados Unidos e preços no atacado em alta, o mercado se prepara para mais problemas com a escassez global de contêineres que afeta o comércio de alimentos.
Os estoques de café caíram para o menor nível em seis anos nos EUA. E, apesar da safra recorde do Brasil, o clima seco no país deve levar a uma grande queda da produção neste ano, causando um déficit global nos próximos meses, justo quando a demanda tende a se recuperar.
“Todo mundo está sentindo o aperto”, disse Christian Wolthers, presidente da Wolthers Douque, importadora em Fort Lauderdale, Flórida, segundo a qual os custos dos embarques da América Latina mais do que dobraram. “Esses gargalos estão se transformando em um pesadelo de contêineres.”
Embora rupturas no fluxo de cargas tenham causado caos no comércio global de alimentos, os desafios no mercado de café mostram que a inflação desses produtos já em aceleração pode ser exacerbada com a reabertura das economias. Por enquanto, torrefadoras podem recorrer aos estoques em vez de aumentar os preços, mas com as reservas em queda e expectativa de safra menor no Brasil, as restrições devem persistir.
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Os futuros do café arábica negociados em Nova York subiram cerca de 24% desde o final de outubro em meio ao impacto do clima na produção brasileira. Em fevereiro, os estoques de grãos verdes não torrados nos EUA caíram 8,3% em relação ao ano anterior, para o menor nível desde 2015, segundo dados do setor divulgados na segunda-feira.
Estoques mais baixos significam menos proteção para amortecer a queda da produção brasileira, agravando o aperto da oferta e dando suporte aos preços, segundo analistas.
Neste mês, a Marex Spectron aumentou a estimativa de déficit global de café para 10,7 milhões de sacas em 2021-22, em comparação com a projeção anterior de 8 milhões de sacas, citando a menor produção de arábica do Brasil devido ao impacto do clima adverso na safra. O Goldman Sachs disse em relatório que se a produção na América Central não melhorar nos próximos anos, o mercado deve entrar em déficit estrutural em meio à recuperação da demanda.
Nas instalações da Dínamo, uma das maiores operadoras de armazéns de café do Brasil, há muito produto parado à espera de contêineres. Na unidade da empresa no município de Machado, em Minas Gerais, os grãos aguardam a chegada de 18 contêineres vazios, disse Luiz Alberto Azevedo Levy Jr., diretor da Dínamo. “Esses contêineres provavelmente levarão cerca de 15 dias a mais para chegar aqui em meio aos gargalos no porto”, disse.
A situação, que se agravou ainda mais em março, provavelmente reduzirá o volume de café exportado pelo Brasil, disse Levy Jr.
“A logística tem sido uma dor de cabeça devido à falta de espaço e contêineres”, disse Marco Figueiredo, operador e sócio da Ally Coffee, na Flórida, uma trading de cafés especiais que importa grãos de países como Colômbia, Guatemala e Brasil. “Estamos monitorando a situação e conversando com os clientes, alertando-os sobre o aumento dos custos.”
Por enquanto, muitas empresas buscam evitar aumentos de preços enquanto tentam atrair clientes de volta para cafeterias e restaurantes. Há um crescimento constante da demanda por café, embora o segmento fora de casa possa levar de dois a três anos para retornar aos níveis anteriores à Covid, de acordo com David Rennie, responsável pelas marcas de café da Nestlé.
Stefano Martin, gerente de vendas e exportação de marketing da rede italiana de cafeterias Diemme, disse que o negócio ainda não sente todo o impacto porque ainda opera com contratos feitos antes dos problemas logísticos. Isso pode mudar à medida que esses contratos forem renovados, disse. A empresa tem 26 restaurantes e cafeterias e, normalmente, importa 30 mil sacas em cerca de 90 contêineres do Brasil, Colômbia, El Salvador, Honduras, Tanzânia e Índia.
“Não há impacto do nosso lado ainda, pois fechamos todos os contratos antes do aumento dos preços”, disse. “Mas, provavelmente no próximo lote de contratos, isso será cobrado.”