PERSPECTIVA PARA O CAFÉ EM 2010
Estamos chegando ao final de 2009 com a conclusão que o café é um gigante na corda bamba. Não há mais como apertar o cinto. Tudo que foi conseguido em produtividade, qualidade, redução de custos, certificação, etc. não se converteu em mais renda. Teremos em 2010, logo no dia 1º de janeiro, um aumento do salário mínimo que será de grande impacto nos nossos custos, cerca de 10%. O real continua sendo o nosso maior problema nos últimos sete anos. De 2003 até hoje, valorizou-se 100,21%. E não tem qualquer possibilidade de desvalorizar-se, pois as condições do país, são extraordinárias para a entrada de recursos. Seja para aplicação em títulos públicos, com nossos juros ainda campeões mundiais, seja para aplicação em atividades produtivas, onde temos opções ilimitadas de aplicação. Todo o setor exportador brasileiro está fragilizado.
Contudo, a expectativa dos produtores para 2010 nunca foi tão boa, tão positiva.As conquistas cientificas e médicas confirmam a vantagem de sua utilização para a saúde humana. Além prazer e alimento, café também é medicamento. O uso habitual pelas famílias de todas as classes sociais, consolidado em casa, aumenta rapidamente fora do lar onde as cafeterias despontam como molas propulsoras. As máquinas de café espresso estão até nas lojas de conveniências. A mídia tem disponibilizado os melhores espaços em horário nobre e nas páginas principais, para promover as qualidades físico-químico-medicinais do café
O consumo continua, assim, crescendo firmemente no mundo, e no Brasil com o maior percentual, nos aproximando da liderança mundial também no consumo. Esperança maior porém vem das informações que nos chegam, às vezes pouco confiáveis, pela nossa fragilidade nos métodos de pesquisas de safra, de que os estoques no mundo estão animadoramente baixos. Poderemos estar virando o ano de 2009 com menos de 15 milhões de sacas no Brasil, o que nos levaria a um estoque de passagem em maio, antes da nova safra, inferior a 5 milhões, um nível preocupante.
Qualquer notícia de problema climático gera uma explosão de preço indesejada por produtores e consumidores. Sem falar em geada, hoje menos preocupante, temos regiões sujeitas a excesso de chuva, como o sudeste, e outras à escassez. No resto do mundo as noticias de problemas climáticos em áreas produtoras são freqüentes e não desprezáveis.
Sem qualquer especulação nem sonho infundado, o produtor acredita que o momento pode ser de recuperação de renda. Isto também irá permitir ao industrial o aumento de sua margem e assim investir mais na qualidade do café oferecido ao consumidor brasileiro, já muito exigente. A busca de qualidade pelo consumidor nos dá garantia de sucesso na luta pelo aperfeiçoamento no processo da produção, buscado nos ensinamentos focados nos concursos de qualidade que têm colocado a Bahia em destaque, revelando campeões nacionais.
O produtor, além de qualquer fato positivo do mercado, espera o apoio do Governo Brasileiro – como já delineado neste ano – no equacionamento do endividamento, no aporte de recursos que permita a entrada da safra no mercado com mais organização evitando a exploração da vulnerabilidade do pequeno produtor; com mais verba para o marketing e para o programa Café e Saúde, instrumentos fundamentais na nossa sustentabilidade. Em pesquisas, que sabidamente temos avançado e nos destacamos brilhantemente no mundo, precisamos continuar investindo.
Nós no Oeste da Bahia estamos adaptando com sucesso as tecnologias importadas de outras regiões, mas, é fundamental a disponibilização de recursos para somar-se aos investimentos dos próprios produtores e da Fundação Bahia na continuidade, sem solavancos.
A redução da carga tributária direta e indireta incidente sobre o setor terá que ser rapidamente revista para manter a cadeia café competitiva frente aos mais de 50 países produtores do mundo, que não têm problemas cambiais.
Conta também o produtor com o empenho diplomático para a retirada da taxação ao nosso produto industrializado em alguns países, e na liberação da cotação do café arábica brasileiro na bolsa de Nova Iorque, livrando-nos dos famosos deságios (diferenciais) nos preços de venda pelos exportadores de cafés descascados e despolpados, um beneficio descabido aos cafés colombianos e centrais.
Que 2010 seja o ano do cafeicultor !
João Lopes Araujo
Presidente da Assocafé- Ass. dos Produtores de Café da Bahia