Estado enfrentou a pior estiagem dos últimos 80 anos e o mau desenvolvimento das plantas tende a afetar a próxima safra do grão
Henrique Bighetti | Guaxupé (MG)
O fechamento da safra de café será no final de setembro, mas a previsão é de redução em 25% na produtividade. A seca, que já é a maior dos últimos 80 anos em Minas Gerais, tem prejudicado as lavouras da região sul do Estado e já preocupa também os estoques para o próximo ano.
No primeiro semestre deste ano, o índice pluviométrico na região foi 45% inferior em comparação com o mesmo período de 2013. Além de comprometer a produção, a seca também afetou o desenvolvimento e a qualidade dos grãos. A meta de produção é pouco mais de quatro milhões de sacas, que foi estabelecida pela Cooxupé, a maior cooperativa de café do mundo, mas este número não deve ser alcançado.
– Nós realizamos um levantamento semanal e se for fazer a média ponderada utilizando o mês da safra até a sexta passada, foi preciso 570l de café para dar um saco de 60 kg. Isso é fora da normalidade, que seria entre 430 e 450l para dar um saco. Se você fizer a conta, vai dar mais de 30% a queda entre o que estava na árvore e o que está sendo ensacado – reclama o presidente da Cooxupé, Carlos Paulino.
A propriedade do cafeicultor Hugo Vilas Boas tem 110 hectares e 30% da produção comprometida. Ele deixou de colher 800 sacos e para 2015 a previsão é uma queda de 40% na safra, isso porque a falta de chuvas deixou os pés de café seco e praticamente sem frutos.
– O grão não formou perfeitamente, ele está cheio de defeitos, ficou pequeno o chamado concinho, outros estão vazios. E é nesta época que a árvore vai se desenvolver para formar a florada em setembro para cobrir em 2015. Tem árvores que crescerem 40% menos. Eu esperava colher ano que vem 2.200 a 2.300 sacos e acredito que vou colher algo perto de 1.550 sacos – lamenta Vilas Boas.
Embora a seca tenha comprometido a produção, os altos estoques brasileiros garantiram um aumento de 35% nas exportações no acumulado de 2014, em comparação a 2013. Segundo dados da cooperativa, até o fim do ano eles devem comercializar 3,7 milhões de café para o mercado externo.
– Para este ano, nós juntamos com os estoques que nós tínhamos e conseguimos atender o mercado. Mas eu tenho a impressão de que nós vamos ter problemas a partir de maio de 2015 até a safra de 2016. Nós teremos problemas em abastecer o mercado – afirma Lúcio Dias, superintendente de mercado interno e internacional da Cooxupé.
O produtor Urbano Lopes Neto tem 47 hectares cultivados. Este ano, o produtor teve 40% da safra comprometida pela escassez das chuvas e altas temperaturas. O prejuízo poderia ter sido ainda maior se não fossem os investimentos feitos e o preparo do solo.
– A gente espera que os preços possam compensar esta diferença. Nós temos visto que os preços estão reagindo, embora ainda tenha muita especulação, mas reagiu. No atual preço do café, ele não paga totalmente o que eu investi. Infelizmente a gente não queria que isso acontecesse, mas isso não desanima, porque o produtor já está acostumado com essas adversidades – explica Lopes Neto.