Matar a sede dos cafezais com irrigação artificial se tornou uma questão de sobrevivência para a cultura nas regiões menos produtivas. A seca dos últimos meses afetou fortemente o café no Noroeste do Paraná, com perdas de mais de 40%.
O produtor Antônio Fachina, que planta 4,4 hectares em São Jorge do Patrocínio, conta que o rendimento caiu de 18 para 5 quilos de café limpo por saca colhida. “Ficamos 90 dias sem chuva bem na época de enchimento dos grãos. A seca detonou tudo”. Ele diz que a única saída para continuar produzindo será investir em irrigação artificial.
O agrônomo da cooperativa Cocamar César Júnio Maia, que acompanha a situação de 2,2 mil hectares de café na região de São Jorge, Altônia, Pérola e Iporã, afirma que as perdas acima de 30% são comuns. “Esse cálculo é feito em cima de previsões que já consideravam que este seria um ano de baixa, por causa da bienalidade. A produção de muitas áreas vai ficar em 6 sacas por hectare”.
A média estadual é de 18 sacas/ha. Ao todo, a Cocamar abrange 7 mil hectares de café. Na última semana voltou a chover na região, mas já é tarde para praticamente todos os cafezais. Maia afirma que a irrigação se tornou uma questão de sobrevivência para a cultura, por que os preços não sustentam lavouras pouco produtivas.
Em sua avaliação, “os resultados compensam os investimentos mesmo num ano de chuva normal, com incremento de até 50% na produção”. O produtor pode comprovar a diferença comparando áreas vizinhas irrigadas e não-irrigadas, relata. Mas, para adotar qualquer sistema de irrigação, é necessário um planejamento de longo prazo e dinheiro no bolso, constata Fachina.
Ele já pediu orçamento a uma empresa especializada, mas se assustou com a previsão de que gastaria R$ 35 mil para irrigar 1,2 hectare, menos da metade de sua área. “Precisaria R$ 24 mil só para um poço artesiano. É um dinheiro muito alto para mim”. Por enquanto, continuará no sistema tradicional. Neste ano teve de acionar o Proagro, que deve cobrir menos da metade das despesas de produção.
Descendo o mapa do Paraná, na região mais próxima a Rolândia, as perdas foram menores. Na área de 15 mil hectares de café da Corol, a produção ficará próxima do normal, diz o diretor-presidente da cooperativa, Eliseu de Paula. “O déficit hídrico atual teve pouca influência no enchimento dos grãos, mas prejudicou os pés de café e deve afetar a rentabilidade futura”, observa.
O executivo afirma que o produtor não deve se desanimar. “O Brasil vai continuar consumindo de 18 a 19 milhões de sacas por ano e exportando cerca de 30 milhões”. Ele considera que essa demanda pode reduzir os estoques a zero nos próximos anos.
O dirigente analisa que, para o produtor que alcança 50 sacas de café por hectare, média concreta nas áreas irrigadas, a cotação de R$250 por saca é compensadora. A tendência é de investimento em qualidade, ou seja, na produção de grãos maiores e em café menos ácido, observa. Só assim o produtor alcança os maiores preços.