Redes são referência para agricultura familiar no Paraná
Pesquisadores do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) estiveram esta semana na propriedade do agricultor Irineu Montagna, em Umuarama, noroeste do Paraná. “Seu” Irineu faz parte do projeto Redes de Referência para a Agricultura Familiar, que busca, entre outros objetivos, disponibilizar informações e propor métodos para o treinamento de pequenos agricultores em administração rural, ofertar tecnologia e atividades que aumentem a eficiência dos sistemas e realizar testes e validação de tecnologias. O projeto Redes é realizado pelo Iapar em conjunto com a Emater.
No caso da propriedade visitada, os pesquisadores trabalharam na resolução de um problema sério: a falta de comida para o gado de leite. Segundo a pesquisadora do Iapar Simony Lugão, o principal gargalo da propriedade do agricultor era a escassez de pasto. Depois de um trabalho de adubação da pastagem, os resultados começaram a aparecer. A produção mensal de leite subiu de 1.900 litros, em média, para 5.736 com apenas 20 vacas, sendo que antigamente, quando a produção era menor, “seu” Irineu mantinha mais animais no pasto.
Atualmente, o produtor de Umuarama mantém seis animais por hectare, um número bastante expressivo para pecuária leiteira, já que a média é apenas um bovino por hectare. De acordo com Simony, o lucro do agricultor chega a R$ 800 por hectare, um número bom na avaliação dela, mas que pode melhorar ainda mais se aumentar o número de vacas por hectare, o que não é impossível para a pesquisadora. “Vamos trabalhar para isso”, afirma Simony.
A pesquisadora afirma que os bons resultados do projeto se devem em grande parte ao trabalho de “seu” Irineu, que se dedica muito ao que faz e que está sempre buscando melhorar, produzir mais e com qualidade. Ela também destaca a importância da pesquisa do Iapar aplicada ao dia-a-dia do agricultor. “Uma coisa é a experimentação, outra é a aplicação na lavoura. Com esse trabalho, nós estamos buscando uma aproximação com o agricultor e os problemas que ele vive no cotidiano”, argumenta Simony. Ela também destaca a importância do agricultor fazer como Irineu, que tem a pecuária como principal atividade, mas também tem uma “poupança” com café. Em torno de 80% da área de seis hectares é usada para pasto e os outros 20% com pés de café. Isso garante uma outra fonte de renda para o agricultor, de acordo com a pesquisadora, que também destaca um outro trabalho desenvolvido na propriedade, o silvipastoril, ou seja, o plantio de árvores no meio do pasto para sombreamento.
Comemorando resultados numa época de muitas dificuldades, “seu” Irineu diz que hoje não tem do que reclamar. Pelo contrário, o agricultor faz planos com a família para continuar produzindo cada vez mais e melhor. “Desde que o pessoal do Iapar chegou aqui a melhora foi de 1.000%. Eles me ajudaram a melhorar e desenvolver as pastagens, a reduzir os custos, a aumentar a produção e, o mais importante, me deram estímulo para continuar no campo”, comemora o agricultor. “Se eles não tivessem me ajudado, não sei o que estaria fazendo hoje”, afirma.
Para os pesquisadores recém-contratados do Iapar, que conheceram pessoalmente o trabalho das Redes, a iniciativa é importante para que a pesquisa chegue cada vez mais perto do agricultor. “Se a gente fica preso no laboratório, o trabalho da gente muitas vezes mal sai da biblioteca, ou seja, não tem aplicação no campo. Quando a gente conhece propriedades como essa, e projetos como o Redes de Referência, nós podemos perceber de que forma a pesquisa pode contribuir para resolver os problema da agricultura”, afirma o pesquisador Alessandro Pellegrini Minho.
O projeto Redes de Referência para a Agricultura Familiar, que atende “seu” Irineu Montagna, existe há oito anos e atualmente auxilia 240 pequenos agricultores em diversas regiões do Estado.