Pequenina, mas competitiva

21 de novembro de 2005 | Sem comentários Comércio Mercado Interno
Por: Estadão








Pequenina, mas competitiva
Carros, fertilizantes, lingerie, colheitadeiras: eis a receita de Catalão para criar um dos pólos mais vibrantes do Centro-Oeste
Nely Caixeta
CATALÃO – Quem viaja de Uberlândia para Brasília pela BR-050, uma rodovia esburacada que corta pastagens e plantações de soja e café na região dos cerrados, depara, na altura do quilômetro 282, com enormes galpões industriais instalados em ambas as margens da estrada. Ali, no Distrito Minero-Industrial de Catalão, cidade de 70 mil habitantes no sudeste de Goiás, consolida-se um dos pólos econômicos mais diversificados do Centro-Oeste.

Do parque automotivo que se instalou na cidade goiana no final dos anos 90, saem veículos cobiçados como o jipe Pajero TR-4 da Mitsubishi Motors do Brasil. Sai também dali a colheitadeira de cana-de-açúcar Cameco CH2500B, produzida na vizinha fábrica da John Deere. O modelo pesa 19 toneladas e é vendido aos usineiros pela bagatela de R$ 600 mil.

Um pouco mais à frente, na margem oposta da BR-050, estão as minas e as instalações industriais da Ultrafértil, empresa do Grupo Fosfértil, da Copebrás e da Mineração Catalão, essas duas últimas subsidiárias da sul-africana Anglo American. Maior pólo de produção mineral de Goiás, Catalão explora depósitos de nióbio, metal usado como liga pela siderurgia, e de fosfato. A cada ano, são extraídos 11 milhões de toneladas do minério que, convertidas em fertilizantes, adubam as lavouras do Centro-Oeste.

Até meados da década de 70, Catalão era uma cidade de economia estagnada que vivia da pecuária extensiva, da agricultura de subsistência e de um comércio incipiente. O cenário hoje é outro. Nos últimos 15 anos, cerca de US$ 1 bilhão foi injetado na economia da cidade, que detém hoje o quinto maior PIB de Goiás. Carros, colheitadeiras, minérios, grãos, gado de corte, confecções de moda íntima e um comércio aquecido fazem de Catalão o terceiro município mais competitivo de Goiás, segundo estudo da Secretária de Planejamento e Desenvolvimento do Estado, atrás de Anápolis e de Rio Verde. “Acontece na cidade o mesmo fenômeno que ocorreu no norte do Espírito Santo com a chegada da Aracruz Celulose”, diz Francisco Gros, presidente da Fosfértil, que acaba de investir US$ 40 milhões na ampliação de suas instalações. “A vinda dessas empresas foi fundamental para impulsionar a economia e a qualidade de vida na região.”

Abandonada até o começo da segunda metade do século XX, Catalão foi recolocada no mapa com a construção de Brasília, distante 300 quilômetros. Mas o empurrão decisivo veio em meados da década de 70. Em pleno choque do petróleo, o governo brasileiro restringira as importações de fosfato e passara a incentivar a exploração do minério no País. Justamente nesse momento, a fronteira agrícola começava a se expandir rumo aos cerrados. A partir daí, as grandes empresas do setor investiram pesado em Catalão.

No Brasil, que ainda importa metade de suas necessidades, o consumo de fosfato – cerca de 3,5 milhões de toneladas por ano – aumenta a um ritmo anual de 8,6% ante um crescimento no restante do mundo inferior a 1%. Em 2003, a Copebrás, com sede em Cubatão (SP), investiu US$ 150 milhões em Catalão para produzir 1,1 milhão de toneladas de fertilizantes por ano. “Assim, evita-se o passeio do minério de Goiás até São Paulo e sua volta ao Centro-Oeste na forma de fertilizante”, diz Jarbas de Melo, gerente-geral da Copebrás.

Em torno das mineradoras, começa a surgir um pólo de misturadoras de fertilizantes. Quatro delas, entre as quais a americana ADM, já operam no Distrito Industrial, outras três estão se instalando e mais três estão a caminho. O comércio também mudou de feições. Com uma renda per capita de R$ 16,3 mil por ano ante uma média de R$ 6 mil da média de Goiás, a cidade mudou seu padrão de consumo e o varejo foi atrás. Há quatro anos, a Associação Comercial local contava com apenas 230 lojistas associados. Hoje, são 650. “As fachadas das lojas estão mais atrativas, a oferta de produtos e serviços se ampliou, os postos de gasolina foram reformados e até a cidade está mais cuidada”, diz César Alberto Safatle, presidente da associação. Por outro lado, faltam bons hotéis, restaurantes e até mesmo táxis convencionais – a frota é de apenas meia dúzia de carros ante perto de 200 mototáxis.

Outra dificuldade é adequar a mão-de-obra local, inexperiente, às necessidades das empresas. “Tivemos muita dificuldade para recrutar pessoal”, diz Eduardo de Souza Ramos, controlador da fábrica da Mitsubushi em Catalão. “Hoje, 90% de nossos funcionários provêm da região.” Todos concluíram o ensino médio. “Essa é uma população que está buscando a educação”, diz Antônio Ilídio da Silva, diretor do Senai na cidade . Os demais funcionários contratados fora são engenheiros, analistas e executivos, especialidades não supridas pelas três faculdades locais.

A distância do militantismo sindical dos grandes centros sempre foi um fator de atração para indústrias que tomam o rumo do interior. Nas últimas semanas, porém, os sindicatos aumentaram o tom de suas demandas. Na Mitsubishi, houve uma paralisação de duas horas para exigir maior participação nos resultados. “Falam que a cidade ganhou com a chegada das empresas, mas a riqueza não está sendo distribuída”, diz Carlos Albino, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Catalão.

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