29/05/2012
SYLVIA SAES
ESPECIAL PARA A FOLHA DE SÃO PAULO
Nos últimos anos, com o advento da microeletrônica, passou-se a questionar a crença de que apenas as grandes empresas teriam capacidade para inovar, tendo em vista dispor de mais recursos.
A corrente que se opõe a tal crença tem atribuído à estrutura organizacional mais flexível das empresas de pequeno porte um dos principais fatores que possibilitam o surgimento de uma cultura de inovação e criatividade.
A estrutura organizacional diz respeito à forma como a empresa organiza as atividades e recursos, executa operações, arquiteta fluxos de informação, monitora e incentiva a cadeia produtiva.
Visando investigar essa relação na indústria de torrefação e moagem brasileira de café, está sendo realizada uma pesquisa pela USP/Fapesp, com o apoio da Abic, com as empresas nesse setor.
Segundo pesquisa de mestrado de Grabiela Jardim, os resultados preliminares confirmam que, na indústria de torrefação e moagem de café, as pequenas empresas também apresentam inovações, muitas delas de caráter incremental, particularmente mudanças em características das embalagens e no que diz respeito a novos “blends”.
Observa-se que as estruturas organizacionais plurais (aquelas compostas por um “mix” de relações de trabalho formais e informais de incentivo, controle e monitoramento) são as que mais influenciam a capacidade de inovação das empresas.
Os resultados mostram que a capacidade de inovação se desenvolve em empresas que têm maior flexibilidade de comunicação e incentivos aos funcionários, como também adotam práticas em busca de qualidade nos processos.
Admite-se que essas práticas possibilitam incorporar novas ideias na gestão de todo o longo processo que a inovação exige, isto é, até que gerem resultados positivos para a empresa.
Sendo assim, as pequenas empresas de torrefação que adotam um “mix” de estruturas são as que apresentam maior propensão a inovar, medida pelo lançamento de novos produtos.
Destacam-se as práticas como sistema de avaliação e pagamento por desempenho, controle da qualidade e participação dos funcionários no processo de desenvolvimento de estratégias.
Isso é explicado pelo fato de que quanto maior a participação dos funcionários no processo de decisão, maior o compartilhamento de valores e trabalho em conjunto e capacidade de obter informações do mundo exterior.
Os resultados são interessantes para as pequenas empresas, à medida que podem direcionar esforços visando melhorar a taxa de inovação do setor e tornar-se competitivas em seus mercados.
SYLVIA SAES é professora do Departamento de Administração da FEA/USP e coordenadora do Cors.