No Paraná, cerca de 90% dos alimentos orgânicos são produzidos por pequenos agricultores, com uma média de 2,7 hectares de área plantada por família. Este é um dos dados constatados pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), que coordenou um estudo inédito sobre o mercado de orgânicos no Estado. O resultado do estudo foi apresentado nesta sexta-feira (13), em Londrina. “Mercado de Orgânicos no Paraná – Caracterização e Tendências” foi um dos temas do IV Encontro de Agricultura Orgânica, que aconteceu durante a 47º Expolondrina.
O presidente do Ipardes, José Moraes Neto, explica que a iniciativa de realizar este estudo baseia-se na política estadual de incentivar a agricultura familiar, com apoio à produção de alimentos seguros, livres de agrotóxicos e com sustentabilidade ambiental. “O estudo identifica as principais regiões produtoras no Estado, os mercados existentes, as demandas e carências e aponta caminhos para a formulação de políticas públicas que visem não só ao desenvolvimento do setor, mas principalmente maior inclusão social no campo”, afirma Moraes.
Segundo dados da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, o Paraná é o segundo maior produtor de orgânicos do País, logo atrás de São Paulo, com 78 mil toneladas na safra 2005 – em 2004 foram 66 mil toneladas. A produção pecuária orgânica paranaense em 2004 foi de 65 toneladas de carne bovina, 2 milhões de litros de leite e 53 toneladas de carne suína. No Brasil, a área com produção certificada passou de 50 mil para 842 mil hectares de 2000 para 2004, ficando em segundo lugar entre os países da América Latina e Caribe – o primeiro lugar é da Argentina, com 2,9 milhões de hectares de área com produção certificada.
No Paraná, com dados da safra 2005, observa-se que a soja orgânica é o produto que ocupa a maior área plantada, com 3.586 hectares e 5.772 toneladas colhidas por 500 produtores. No entanto, as hortaliças são a principal fonte de renda entre as famílias que cultivam orgânicos, com 1.208 produtores que plantaram 1.231 hectares e produziram 14.633 toneladas. “A produção ainda é pequena, mas a procura é crescente, o consumidor está mais interessado na busca da saúde dele e da família, procurando alimentos que não tenham componentes danosos à saúde. Também é cada vez maior o número de pessoas que respeitam o ambiente como filosofia de vida”, afirma Marina Mori, pesquisadora do Ipardes.
A conversão da lavoura convencional para a produção orgânica demanda em média quatros anos e é apontada como uma das dificuldades dos produtores. O acesso à certificação, a falta de orientação aos consumidores sobre a diferença dos orgânicos em relação aos convencionais e a carência de assistência técnica são outros fatores que dificultam o crescimento da atividade. O pesquisador do Ipardes Ivo Melão observa que as grandes redes de supermercados não adquirem produtos orgânicos diretamente do produtor e não deixam claro para seus clientes as diferenças entre produtos orgânicos e convencionais. “Isto acaba confundindo o consumidor, que muitas vezes adquire produtos hidropônicos como orgânicos. Do ponto de vista social, deveria haver maior valorização dos orgânicos, pois são essas propriedades que empregam mais mão-de-obra, empregando mais pessoas no campo e colaborando com a sustentabilidade do ambiente”, enfatiza Melão.
A maior parte da produção de orgânicos no Paraná concentra-se na Região Metropolitana de Curitiba e Litoral. Na RMC os principais produtos são as hortaliças e no Litoral, a banana e o arroz. Na região Oeste são produzidos soja, milho, cana, aves, suínos, leite e peixe; no Sudoeste, soja e frango de corte; no Norte e Noroeste, cana, mandioca, café e frutas; no Centro-Sul, mel, grãos, erva-mate e ervas medicinais.
O estudo foi realizado em parceria com o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), com apoio da Emater, Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) e do Centro Paranaense de Referência em Agroecologia. A pesquisa foi financiada pelo Fundo Paraná, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. A orientação técnico-metodológica foi da doutora em Meio Ambiente da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Karen Folador Karan.
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