Pedido da Nestlé para importação de café gera polêmica no setor

10 de setembro de 2014 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

CaféPoint


Por Thais Fernandes


Recentemente a empresa multinacional Nestlé, responsável pelas marcas de cafés Nespresso e Dolce Gusto, manifestou interesse em abrir uma fábrica de cápsulas de café no País. No entanto, de acordo com informações da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca do Espírito Santo (Seag), uma das contrapartidas requeridas pela empresa, é a importação de café verde de outras origens (outros países produtores) para compor um percentual de seus blends. A informação reascendeu a discussão acerca da importação da matéria-prima, cujo principal país produtor é o próprio Brasil.


Para oficializar oposição ao pedido, a Seag – ES enviou um documento oficial ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), à Confederação Nacional da Agricultura e ao Conselho Nacional do Café nesta terça-feira (2/9). Segundo a Seag – ES, a fábrica poderá ser construída no Estado de Minas Gerais, contudo, a ação coibirá a compra de café em todo território nacional, inclusive da variedade conilon, que tem como principal estado produtor o Espírito Santo. O secretário de Agricultura do Estado, Enio Bergoli, destacou, ainda, outro problema da importação do café verde. “A entrada de café de outros países pode trazer junto pragas e doenças inexistentes no território nacional”, explica.


Assinaram também o manifesto, a Comissão da Agricultura da Assembleia Legislativa, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Espírito Santo (Fetaes), o Centro de Desenvolvimento Tecnológico do Café (Cetcaf), a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB/ES), a Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), o Sindicato Rural de Jaguaré, Associação de Irrigantes do Espírito Santo e a representação capixaba na Confederação Nacional da Agricultura (CNA).


Em nota ao CaféPoint, a Nestlé deu seu posicionamento sobre o tema. A empresa afirma que “tem total interesse em trazer para o Brasil uma fábrica de cápsulas e vem desenvolvendo estudos a fim de assegurar a consistência e a sustentabilidade do projeto”. Já foi realizada pelo menos uma visita com o fim de conhecer o café capixaba, segundo noticiou a própria Incaper. Ponderando os benefícios que a fábrica poderá trazer, como a geração e empregos, a Nestlé esclarece que “tem trabalhado, juntamente com vários agentes da cadeia, para extinguir entraves com os quais tem se deparado e, assim, obter esse novo investimento para o Brasil”. Leia a nota na íntegra ao final da reportagem.


Importação de embalagens
Sobre outros pontos da instalação da fábrica, o secretário Enio pontua, ainda, que além da importação de matéria-prima, seriam importadas embalagens para as cápsulas. “É importante deixar claro que não somos contrários aos investimentos que promovam a agregação de valor do café por meio da industrialização, mas sim à forma de importação de café verde, à isenção de impostos para importação de embalagens do exterior e ao baixo nível de comprometimento e de recursos previstos pela empresa em desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil”, destaca Enio Bergoli, que afirma ser “injusta a importação de embalagens desoneradas de tributos, tendo em vista uma série de investimentos que estão em curso no Brasil, neste elo da cadeia produtiva”.


De acordo com a Seag, o protocolo para implantação do investimento, os cafés seriam importados da Colômbia, do Quênia, da Etiópia e do Vietnã para compor em 35% a mistura (blend) desejável na cápsula de café em dose única. Os outros 65% seriam de cafés produzidos no Brasil e, ao longo do tempo, esse percentual subiria para 85%.


Drawback
Na discussão sobre a instalação desta fábrica da Nestlé no Brasil, muito se falou em drawback (que é a importação de matéria-prima com intenção de exportar o produto após sua industrilização), entretanto, o pedido da Nestlé não abrange esta prática. Segundo informações da Seag, a empresa pretende vender suas cápsulas para o mercado interno brasileiro, daí também a preocupação em afetar a “série de investimentos que estão em curso no Brasil”, a que se refere o secretário.


Nota da Nestlé enviada ao CaféPoint em 4 de setembro de 2014


POSICIONAMENTO NESTLÉ
A Nestlé tem total interesse em trazer para o Brasil uma fábrica de cápsulas e vem desenvolvendo estudos a fim de assegurar a consistência e a sustentabilidade do projeto. A empresa acredita no potencial do país e que o investimento resultará em benefícios importantes, tais como o incremento do parque industrial através de uma nova tecnologia, geração de empregos diretos e indiretos e a valorização da produção nacional de matérias-primas, principalmente cafés, incentivando o constante desenvolvimento do produtor local, auxiliando-o a se tornar mais competitivo tanto interna quanto externamente. A empresa esclarece ainda que tem trabalhado, juntamente com vários agentes da cadeia, para extinguir entraves com os quais tem se deparado e, assim, obter esse novo investimento para o Brasil.


Assessoria de Imprensa da Nestlé Brasil
São Paulo, setembro de 2014.

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