Pecuária no meio de árvores

Por: Estado de Minas por Beth Melo








Sistema
agrossilvipastoril melhora condições ambientais, dos animais e também do
solo

O sistema
agrossilvipastoril, que prevê árvores, pasto e animais na mesma área, está
conquistando pecuaristas, por proporcionar aumento da produção de carne e de
leite, além de ajudar na preservação do ambiente. “As árvores protegem o solo
contra a erosão, conservam a umidade do solo e a água, embelezam a paisagem e
aumentam a biodiversidade do ecossistema”, diz o pesquisador Luiz Aroeira, da
Embrapa Gado de Leite. Ele diz que, na Zona da Mata mineira, o sistema é usado
nas regiões de morros, para prevenir a erosão e recuperar áreas degradadas. “Os
ganhos ambientais são significativos.”

“Para o bom resultado do sistema
agrossilvipastoril, porém, é importante a utilização de árvores que possibilitem
a entrada de luz e permitam o crescimento das forrageiras”, diz Aroeira. Ele
destaca, como mais indicadas para essa finalidade, leguminosas como angico,
gliricídia, leucena ou os arbustos cratilia e
guandu.

CONSÓRCIO
Para aumentar a produtividade da pastagem,
ele recomenda o consórcio de gramínea e leguminosa rasteira ou herbácea. Segundo
Aroeira, as pastagens consorciadas nesse sistema produzem mais forragem, que
permanece mais verde, mesmo na seca. “O resultado é o maior ganho de peso dos
animais na seca, comparados aos que são criados somente em pastos comuns.” Nos
experimentos, comprovou-se o aumento diário de 300 gramas no peso das novilhas,
ante 150 a 200 gramas nas novilhas criadas no sistema convencional na época da
seca .

Adepto da agricultura orgânica desde 1997, o produtor Ricardo José
Schiavinato, de Serra Negra (SP), entrou no sistema agrossilvipastoril há dois
anos. Para ele, a principal vantagem proporcionada pelas leguminosas associadas
à pastagem é o aumento da proteína disponível aos animais, substituindo a ração
fornecida no cocho. “Sem ração, eliminei 20% dos custos.” Quando o sistema
estiver completo, ele acredita que, por causa da melhora do bem-estar animal, a
produção de leite deve crescer 30%.

Ele cita outros benefícios: as
árvores no pasto funcionam como quebra-vento, mantendo a umidade do solo,
aumentando a fixação de nitrogênio e melhorando a qualidade do
pasto.

SISTEMA VOISIN
Na fazenda, onde o gado é criado no
sistema voisin, em piquetes de 2 mil a 2.500 metros quadrados, as árvores foram
plantadas nas divisas dos piquetes. Além das leguminosas leucena, gliricídia e
eritrina, também foi usado o arbusto flor-do-mel, de folha bastante palatável, e
a flor, parecida com uma margarida grande, atrai inimigos naturais. “Com exceção
da gliricídia, que é podada e jogada no pasto para os animais, as outras
espécies são consumidas direto pelo gado. No inverno, os animais recebem
suplementação com silagem de cameron.”

Os animais fazem dois pastejos
diários. Depois da ordenha, vacas e bezerros ficam juntos no pasto e, ao redor
das 14 horas, são apartados. “As vacas vão para o segundo pasto, normalmente de
melhor qualidade, onde têm disponível, além de capim, as leguminosas”, diz. A
fazenda produz 300 litros de leite/dia, transformados em iogurte, ricota, queijo
e manteiga.

CAFÉ, LEITE E GALINHA
Com produção diária de 100
litros de leite orgânico, Mônica Veloso começou sua criação de gado girolando,
em Juiz de Fora (MG), há quatro anos. “A produção orgânica levou-me ao sistema
agrossilvipastoril”, conta, e acrescenta que a produção de leite aumentou, com a
melhor qualidade do pasto. Antes, as vacas produziam de 8 a 9 litros; hoje, de
10 a 13 litros/dia.

Também cultiva café orgânico sombreado com árvores e a
integração animal, nesse caso, é feita com galinhas caipiras para ovos e corte.
“As folhas que caem das árvores dão os nutrientes suficientes para o cafezal,
mantendo o equilíbrio térmico e o sombreamento, e as fezes das aves adubam o
solo.”

Entre os benefícios do sistema, estão a sombra para o animal, a
manutenção da umidade do solo para o pasto e a facilidade no controle dos
parasitas. “As gramíneas e os estilosantes (leguminosas) brotam
fácil.”

Com o ambiente propício, Mônica diz que os pássaros retornaram
aos pastos e ajudam no controle dos parasitas, além de comerem as ervas daninhas
das pastagens. Os gastos com ração também caíram. Hoje, apenas as vacas em
lactação recebem 1 quilo de ração/dia por animal. “Pretendo abolir a ração
quando melhorar mais a pastagem.” Ela também enxugou os custos com banho para
eliminar parasitas do gado, que é feito à base de ervas, agora, porém, com maior
espaçamento. “Isso significa redução da mão-de-obra.

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