OPINIÃO
13/08/2010
Ronald Mansur
Em 2005, fui com o Jornal do Campo fazer uma reportagem sobre pecuária leiteira numa pequena propriedade no município de Pinheiro. Cheguei ao Sítio 4 Irmãos, na casa de Nailton Batista dos Santos. Quem me indicou e sugeriu a reportagem foi o agrônomo Kerley Mesquita de Souza, que coordenava o Projeto Educampo, parceria Sebrae/Cooperativa Veneza.
Mas quem é este Nailton Batista dos Santos? Ele veio de Campos, Rio de Janeiro, num grupo de oito famílias para uma fazenda da família Dalmazio no município de Ponto Belo, em 1956. Nailton tinha três anos de idade. Aos pouco o grupo foi voltando, mas Nailton, com 10 anos, ficou morando com a família Dalmazio. Virou meeiro de café e casou-se com a mineira Maria. Vieram os filhos Silvano, Fernando, Ozani e Maria.
O trabalho alimentou o sonho que iguala a todos do meio rural: ter terra, ser dono do seu pedaço. Em 1999, Nailton comprou 9,68 hectares, sendo 6,5ha com 16 mil pés de conilon, 3ha com pastagem e 0,18ha com construções e estradas. Até 2002 alternaram o trabalho no terreno próprio e como meeiro. Iniciaram, então, um novo ciclo, passando a trabalhar no que é seu.
Quando cheguei ao sítio em Pinheiro, a assistência técnica estava começando. Dois fatos se destacavam e me charam a atenção: as metas e a forma de trabalhar, do técnico e do produtor. A produção era de 60 litros/dia. Estabeleceram que, em 2006, chegariam a 150 litros, fato que não aconteceu, pois a produção ficou em 103 litros/dia. Mas no ano de 2007 chegaram aos 166 litros, e em 2008, atingiram 230, e no ano passado, foram 323 litros/dia. Em 2006 foi comprada uma nova área adicional de 4,84 hectares, o que elevou a meta para 500 litros neste ano. Esta meta não será cumprida, porque a família do seu Nailton passou a produzir e selecionar novilhas para serem vendidas. \”Uma nova fonte de renda\”, assegurou Silvano, filho do seu Nailton, \”mas a meta de 500 litros será atingida\”.
Mas antes do leite, eles cuidaram de melhorar o rebanho e as pastagens.
No planejamento participativo, o produtor não é mero executor de tarefas passadas pelo técnico. Ele tem a participação fundamental de quem está tocando o projeto e de quem arca financeiramente com o sucesso ou fracasso. Os investimentos vão acontecendo, como a ordenha mecânica. Seu Nailton, que morava na vila de São João do Sobrado, agora mora na propriedade, bem como o filho Fernando que casou com Lediane, que tem uma pequena casa.
Silvano, sua esposa Ana Paula e a filha Laila, sempre moraram na área do Sítio 4 Irmãos.
Com o sucesso, o Sítio 4 Irmãos virou referência e as visitas começaram a acontecer, bem como dias de campo, onde os produtores vão a uma propriedade considerada como modelo para ver, ouvir e aprender. Além dos técnicos, ouvem sobretudo quem toca o empreendimento, no estilo \”aqui fala quem faz\”.
No Sítio 4 Irmãos existe um livro, daqueles que se usa para atas de associações, para os visitantes assinarem e até escreverem um depoimento sobre o que viram. Lá, existem mais de 1.500 assinaturas de produtores do Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais. Tem gente com mais de uma assinatura. Na primeira vez, ficou com dúvidas e voltou, queria entender a família que planta e aduba capim para alimentar vaca de leite.
No Sítio 4 Irmãos eles sabem que não existe mágica e nem mesmo fórmula preparada para se ter uma produção de leite como eles passaram a ter. Trabalho, competência, técnica e dedicação somados, geraram o sucesso. O agrônomo Kerley fez a sua tese de Mestrado na Universidade de Viçosa sobre o Sítio 4 Irmãos. À família do seu Nailton, a minha homenagem. Vocês merecem!
Ronald Mansur é jornalista e editor do Jornal do Campo, da TV Gazeta.