Parece que no Brasil foi necessária a valorização do real perante o dólar para que se percebesse, de fato, que uma boa infra-estrutura é essencial para manter a capacidade de competição dos exportadores de produtos agrícolas. Os custos do transporte rodoviário ou ferroviário até os portos de embarque somam-se aos da movimentação da carga a ser colocada nos navios e são essenciais tanto para viabilizar a exportação como para o abastecimento interno, ainda mais em se tratando de mercadorias de baixo valor unitário. Como observava oportunamente o economista José Roberto Mendonça de Barros: “O dólar deixou de encobrir a ineficiência da infra-estrutura.
” Num período em que nossa situação cambial favorecia a desvalorização da moeda nacional, os produtores rurais procuraram aumentar suas margens de lucros comprando terras nos Estados onde eram mais baratas, sem dar grande importância à infra-estrutura de transporte adequada. Numa reportagem em nossa edição de domingo (Com altos custos de produção, produtores deixam o Centro-Oeste, B4) citávamos um produtor de soja que adquiriu terras no Tocantins a um quinto do valor do norte do Paraná, situadas a mil quilômetros do Porto de Itaqui.
A vantagem, em termos de custo de produção, da terra barata vai se diluindo rapidamente à medida que aumenta o custo do transporte, com a forte elevação dos preços do petróleo, enquanto a valorização do real reduz as receitas em moeda nacional. A margem de lucro do produtor de milho de Londrina (PR) é de 56% do preço de exportação, mas cai para 28% com os custos de transporte. Em Goiás, os valores respectivos, segundo a reportagem, são de 51% e 8,5%, mostrando como o transporte reduz fortemente os lucros.
Essa queda de rentabilidade nas novas fronteiras agrícolas tem efeito rápido: no Centro-Oeste, a área plantada com grãos caiu 11,5% entre as safras 2004/2005 e 2006/2007, e no Sul, apenas 3,9%. O mais importante é que são as regiões mais pobres as mais atingidas, justamente onde o emprego na atividade agrícola é quase opção única para a população. Ora, já ficou evidente que a apreciação do real veio para ficar. Cabe, portanto, ao governo voltar a sua atenção para os fatores nos quais não somos competitivos, particularmente a infra-estrutura, dinamizando as Parcerias Público-Privadas para resolver esse problema com efeito mais duradouro do que com políticas assistencialistas.