“A situação macroeconômica vai se deteriorar
pelo total abandono da agricultura. O governo vai pagar caríssimo por isso.
Serão R$ 20 bilhões a menos de faturamento no setor
Em uma dura análise sobre a atual crise
agrícola, o deputado Delfim Netto (PMDB-SP) afirmou ontem que os graves
problemas conjunturais do setor vão anular os avanços macroeconômicos
impulsionados pelas boas safras anteriores e reduzir o PIB nacional em até R$ 45
bilhões em 2005 – ou 2% do total. “A situação macroeconômica vai se deteriorar
pelo total abandono da agricultura. O governo vai pagar caríssimo por isso.
Serão R$ 20 bilhões a menos de faturamento no setor”, disse, durante seminário
sobre as dificuldades do setor, no Senado.
O cenário traçado pelo
ex-ministro para o setor desembocará num aumento da vulnerabilidade externa do
país e culminará com a volta da inflação em 2006. “O que o governo pensa que
está ganhando em inflação, vai perder lá na frente”, afirmou, ao apontar como
problema central do setor a excessiva valorização do câmbio, puxada pela altas
taxas de juro real. Delfim afirmou que as safras 2002/2003 e 2003/2004 “mudaram
a cara” do Brasil. “A relação dívida/PIB foi reduzida à metade”. O ex-ministro
previu que o Brasil terá um crescimento econômico “medíocre”, abaixo da média
dos últimos três anos, e a relação dívida/PIB voltará a subir. “Certamente,
teremos uma redução das receitas com as exportações”.
Delfim Netto disse
também que o governo não deu “a devida atenção” à crise e não entendeu a “real
dimensão” dos problemas do setor. “A tragédia da agricultura vai se transmitir a
todos os setores da economia. É uma crise monstruosa, porque vai se abater sobre
todo o PIB”, afirmou. A análise de Delfim prevê a redução da área plantada entre
10 milhões e 15 milhões de toneladas. “Brasília está a 40 mil km da agricultura.
Está muito longe do setor”.
O seminário “Grito do Campo -Alerta à
Nação”, que reuniu produtores, pecuaristas e parlamentares, fez novos apelos ao
governo federal para a liberação de recursos ao setor, sobretudo da operação com
as linhas de R$ 3 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) e R$ 1 bilhão com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador
(FAT).
Irritados com a demora na atuação do governo, voltaram a pedir a
intervenção pessoal do presidente Lula, prometido durante o “tratoraço” de junho
deste ano, para convencer as indústrias a entrar no negócio. Pressionado pelos
produtores, o governo aceitou limitar em 8,75% os juros pagos na linha do BNDES,
que é remunerado pela TJLP (hoje, em 9,75% ao ano) – os bancos operadores cobram
até 4% de spread. Houve um acordo para que as indústrias produtoras de insumos
bancassem os 5% restantes e ainda dessem aval para os novos títulos emitidos
pelos produtores para lastrear os empréstimos nos bancos.
De lá para cá
nada aconteceu. “Estamos de saco cheio com esse governo”, desabafou Homero
Pereira, presidente da Federação da Agricultura de Mato Grosso. “É um governo do
mal”, criticou o presidente da Comissão de Pecuária de Leite, Rodrigo Alvim.
Além desse ponto principal, os produtores cobraram as promessas do
governo de autorizar a reavaliação dos ativos dados pelos produtores em garantia
de empréstimos renegociados nos programas de securitização e de saneamento de
ativos (Pesa). A questão está parada no Tesouro Nacional e no Banco do Brasil.
O setor também pediu a prorrogação da parcela das dívidas securitizadas
com vencimento previsto para a próxima segunda-feira. Pelos cálculos da bancada
ruralista, são R$ 240 milhões em jogo. No total, somados os débitos do programa
de recuperação das cooperativas (Recoop) e do Pesa, seriam prorrogáveis R$ 600
milhões. O Ministério da Fazenda se opõe frontalmente à medida. “Eles não
escutam nada, não vêem nada”, acusa o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO),
presidente da Comissão da Agricultura da Câmara.
Outras medidas
solicitadas incluem, ainda, o remanejamento de R$ 2 bilhões do orçamento do
programa de renovação da frota de tratores e colheitadeiras (Moderfrota) para o
crédito de custeio da atual safra, 2005/06. (MZ)