País será pioneiro mundial em café 4C

Publicação: 19/03/07

Por: GAZETA MERCANTIL

Estimativa de exportação, nesta safra, é de 500 mil sacas consideradas “sustentáveis”. O Brasil será o primeiro país no mundo a fornecer no mercado internacional café com a denominação “4C”.


Trata-se do Código Comum da Comunidade Cafeeira que estabelece regras ambientais, econômicas e sociais para produção de um “café sustentável”. A estimativa é que o País exporte 500 mil sacas de café 4C vindas da 2007/08. Em três anos, espera-se que 100% da produção brasileira esteja adequada ao C4.


A projeção foi feita a partir do projeto-piloto realizado pelo Instituto Tótum no Brasil, entre dezembro de 2006 e março deste ano. Foram visitadas 11 fazendas, responsáveis pela produção de cerca de 34 mil sacas no Sul de Minas Gerais e São Paulo. O instituto é o responsável pelo programa de qualidade do Café da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).


O diretor do instituto, Fernando Giachini Lopes, explica que a partir deste piloto foi possível concluir que, mesmo sem conhecer o programa, o cafeicultor visitado tem no seu método de produção práticas que o enquadram no sistema 4C. “Não foram detectadas práticas inaceitáveis entre as fazendas visitadas”, resume. Apesar de não serem impeditivas na concessão do 4C, adequações seriam necessárias em algumas propriedades, principalmente na dimensão ambiental, que recebeu nota intermediária no relatório. Entre elas, uso de práticas de irrigação que desperdiçam água e embalagens de produtos químicos sem retorno ou reutilização indevida.


O resultado do projeto-piloto brasileiro será apresentado em abril aos membros da Associação 4C. A entidade tem sede na Alemanha e foi criada pelos maiores importadores mundiais de café – como Nestlé, Sara Lee e Kraft Foods. A motivação do setor industrial é garantir aquisição de matéria-prima sustentável, atendendo assim a exigência crescente dos mercados compradores, como o europeu, conforme explica o diretor do Instituto Tótum. “A meta é que 70% das importações mundiais sejam de café sustentável”, afirma.


O instituto aguarda o aval de seu credenciamento como representantante da Associação 4C para iniciar a verificação oficial nas propriedades cafeeiras. “Nossa estimativa é de em três anos verificar 100% da produção brasileira”, anuncia. Esta agilidade, segundo Lopes, se deve ao fato de o 4C ser uma verificação e não certificação. Assim, a metodologia adotada visa verificar quais propriedades exercem a atividade dentro do código de conduta estabelecido pelo 4C, que não busca a excelência, mas o atendimento a padrões mínimos de produção sustentável. O diretor do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Guilherme Braga, esclarece que cafés sustentáveis são comercializados no mercado externo em grandes volumes e há muito tempo e com outros níveis de certificação, até mais exigentes, tais como o UTZ Kapeh, o RainForest e o FairTrade. “O café 4C não terá adicional de preço mas, certamente, vai facilitar o acesso do produtor ao mercado, que pode excluir ao longo do tempo aqueles que não produzem com sustentabilidade”, pondera Braga.


O diretor-executivo da Abic, Nathan Herszkowicz, acredita que a verificação 4C vai significar abertura de mercados mundiais aos produtores brasileiros. “E, apesar de o programa não vincular ágios de preços, sem dúvida, essas primeiras 500 mil sacas 4C terão preferência no mercado. É a demanda que vai definir esse valor”, afirma.


Produto mais atraente para exportação


atratividade de exportação para o agronegócio caiu 5% entre 2002 e 2006, impulsionada pelo mau desempenho de produtos como a laranja. Na contramão, o café foi o produto mais atrativo neste período, segundo estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP).


De acordo com a pesquisa, no período, o real foi valorizado 31% frente às principais moedas mundiais, sendo 25,7% em relação ao dólar. Em contraponto, os preços internacionais dos produtos agrícolas subiram 37% no período, amenizando o impacto cambial. Os dois índices serviram de base para os cálculos da atratividade do setor feitos pelo Cepea/USP.


Segundo a pesquisadora do Cepea/USP, Fabiana Fontana, a queda de atratividade foi uma média para uma cesta de 33 grupos de produtos do agronegócio analisados pelo centro. No período, muitos acumularam vantagens, entre os quais o café, cuja venda externa ficou 77% mais atrativa.


O presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Maurício Miarelli, afirma que, de fato, não se pode reclamar do mercado internacional. Mas, apesar de entender que o índice de atratividade considera a taxa de câmbio e os preços internacionais, Miarelli, diz que o indicador deveria avaliar também os custos de produção. O presidente do CNC discorda que os preços compensaram as perdas que o setor teve com câmbio e alta do custo na lavoura. “Entre 2002 e 2004 o dólar caiu muito na comparação com o real e o setor entrou em uma crise profunda. A situação até melhorou em 2005, mas ainda não deu tempo de o setor recuperar suas perdas”, garante Miarelli. Em 2002, a média do câmbio foi de R$ 2,93. Em 2005, foi de R$ 2,43, queda de 20%.


O presidente do CNC diz que, neste período, o custo de produção subiu – mas ele não quantificou -, principalmente pelos gastos com mão-de-obra. “O setor emprega 8,3 milhões de trabalhadores e os encargos aumentaram”, resume.


Outros produtos


O suco de laranja foi o produto que mais teve queda na atratividade no período entre 2002 e 2006. De acordo com o levantamento do Cepea/USP, a venda externa do produto perdeu 27% de atratividade. Isto porque as altas do preço no mercado internacional foram de 5% no período, não compensando a desvalorização cambial. A soja em grão foi o segundo produto que mais perdeu atratividade: 17%. No período, o preço subiu 19%. 

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