26/05/2009 23:05:59 – IG
Além do Lago Malaui, conhecido pelos ecoresorts exclusivos situados ao seu redor e pelos turistas internacionais de alto cacife que os frequentam, existe um outro Malaui – todo um país de centros urbanos animados e caóticos, colinas verdejantes, plantações de chá, montanhas altas e reservas de animais abençoadamente livres dos congestionamentos de jipes de safári.
A primeira vez que Madonna se mostrou interessada em adotar uma criança do Malaui – uma pequena faixa de terra entalada entre o Zâmbia, o Moçambique e Tanzânia – os americanos saíram correndo para procurá-la no mapa. Quando repórteres ou agentes de viagens se lembravam de alguma coisa sobre o país, era somente sobre o lago homônimo, o terceiro maior da África e um destino remoto cada vez mais procurado por europeus e americanos. Porém, numa curta viagem de carro pelo sul do país, cobrindo um total de 400 milhas, o viajante poderá ter uma vivência compacta incluindo muito mais do que o mundo geralmente imagina ser intrinsecamente africano.
Embora as estradas nem sempre sejam boas, viajar pelo país acaba sendo fácil: o inglês é amplamente falado, além de idiomas vernáculos como o chichewa, e o Malaui tem uma democracia aberta e vibrante que expede vistos para viajantes americanos na chegada ao país.
O ponto de partida é Blantyre. Foi dali que minha esposa e eu começamos nossa jornada, aproveitando para também fazer turismo enquanto ela trabalhava em pesquisas médicas no país. “Blantyre é a Nova Iorque do Malaui”, disse-me um amigo malauiano, gabando-se da energia cultural e comercial da cidade (e contrastando a mesma com Lilongwe, a capital política do país). Bem, não é bem assim. Durante o dia, as ruas lotadas de Blantyre pulsam: o Malaui tem 14 milhões de habitantes espremidos em seu pequeno território. Ambulantes vendendo abacates, bananas e cartões de celulares se debruçam na janela dos carros enquanto guardas de trânsito tentam parar motoristas mais afoitos. Mas, por volta das 18h, a cidade fica quieta logo que a maioria dos malauianos volta para casa para jantar cedo.
Ainda assim, com sua topografia acidentada e uma expressiva população de expatriados, Blantyre conta com diversos restaurantes com o ambiente africano que vemos nos filmes, onde você pode aproveitar o fim de tarde sentado em um terraço ao ar livre enquanto beberica um gim-tônica ao estilo malauiano – mais doce e mais aromático do que a versão americana.
No início deste ano, nos juntamos a executivos malauianos no Chez Marky’s, situado nas colinas verdejantes próximas ao centro da cidade, para relaxar no fim do dia com um gim ou uma xícara de café da safra local. Apesar de não fazer parte do cardápio do Starbucks, o café malauiano mzuzu, de aroma frutoso e achocolatado, tem seu lugar entre outros cafés africanos mais conhecidos. Música local cantada no idioma chichewa e sons de sinos que lembram o calípso, provenientes de uma casa vizinha, penetravam no restaurante. Garçons paravam para conversar conosco, geralmente se inclinando para brincar com Caleb, nosso bebê de oito meses. Não é por menos que muitos malauianos, assim como agências turísticas promovendo o país, se referem ao Malaui como “o coração quente da África”.