Orgânicos despertam interesse de estrangeiros

Por: Correio Braziliese








Orgânicos despertam interesse de estrangeiros
Produtos brasileiros movimentam US$ 27,4 milhões em feira alemã e mostram potenciais mercados a serem explorados pelo país
Luciano Pires
da equipe do Correio
A agricultura orgânica brasileira não vive mais sob o estigma de ser uma eterna promessa. Aos olhos do investidor estrangeiro, o país celeiro do mundo também pode se tornar um dos grandes na produção de alimentos ecológica, social e economicamente justos. É o que pensam empresários e especialistas do Brasil que estiveram na Biofach, a maior e mais importante feira do segmento, de olho nos orgânicos brasileiros, produtos cultivados sem o uso de adubos químicos ou agrotóxicos.

A edição 2006, realizada no final de fevereiro, terminou com um balanço mais do que positivo para o país. Segundo a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), as 38 empresas participantes fecharam US$ 27,4 milhões em negócios para os próximos 12 meses, superando a previsão inicial de US$ 20 milhões — no ano passado, 87 companhias alcançaram a marca de US$ 31,4 milhões. A Biofach acontece todos os anos em Nuremberg, na Alemanha.

O vigor demonstrado por produtores de frutas e legumes, sucos, doces, café, açúcar, soja, cachaça, peixe e carne, entre outros, renovou o otimismo de quem aposta no crescimento dos orgânicos — hoje, a atividade responde por apenas 1% do mercado interno. Os bons resultados no exterior incentivam, cada dia mais, o aumento da migração de produtores convencionais para o sistema orgânico. “Precisamos aprimorar nossas técnicas de aferição, ter estatísticas mais sólidas para mostrar realmente o que somos”, diz Eduardo Caldas, gestor do projeto Orgânicos da Apex.

Regras
A solução para essa e outras lacunas está na regulamentação da lei 10.831. Sancionada em dezembro de 2003, ela entrará em consulta pública até abril e começará a valer ainda este ano. O texto estabelece parâmetros para o setor e define o papel do Estado nessa indústria até então livre de ingerências oficiais. A medida é considerada um divisor de águas. “O setor vive em função da credibilidade. É importante sinalizar que há uma legislação por trás”, explica Fábio Ramos, diretor da Consultoria Agrosuisse.

Atualmente, os processos de produção são atestados por certificadoras privadas — entre 25 e 30 atuam no Brasil.

Monitoradas por entidades internacionais, as empresas garantem a qualidade do produto e avalizam os métodos aplicados pelo produtor.

Com a lei, a atuação das certificadoras será regulada pelo Ministério da Agricultura, e as metodologias utilizadas por elas, aferidas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).

“A lei vai dar maior segurança ao consumidor, servirá para dizer que o alimento tem qualidade e foi certificado com seriedade”, afirma Roberto Mattar, chefe da Divisão de Aplicação de Mecanismos da Garantia da Qualidade Orgânica do Ministério da Agricultura. Estima-se que existam no Brasil 20 mil produtores orgânicos.

Cachaça sem aditivo

As certificadoras acreditam que a legislação — do ponto de vista prático — afetará muito pouco o trabalho feito com os produtores. Algumas empresas apostam em uma melhor profissionalização do mercado interno, no aumento da demanda e em uma maior conscientização por parte dos consumidores. “O marketing do orgânico é feito por ele mesmo”, reforça Jorge Vailati, gerente de qualidade do Instituto Biodinâmico (IBD), uma das maiores certificadoras em atividade.

Imaginar que os negócios no Brasil ganharão novo impulso a partir da regulamentação da lei não é exagero. Que o diga Marcos Vaccaro, dono da Fazenda Vaccaro, propriedade localizada na Chapada Diamantina, a 700km de Salvador (BA). Com quatro participações na Biofach, Marcos lembra que nunca um estande brasileiro havia sido tão visitado. “O produto nacional é de altíssima qualidade. O interesse do mundo vem crescendo muito”, resume. O Brasil exporta aproximadamente 70% de tudo o que produz, quase sempre para Europa, Estados Unidos e Japão. Em 2004, as vendas externas chegaram a US$ 115 milhões.

A especialidade da Fazenda Vaccaro é a fabricação de cachaça orgânica. A aguardente Serra das Almas chega a países como Itália, Alemanha, França e Suíça desde 2003. E os planos de conquistar novos mercados são ambiciosos. “O custo de produção ainda é um entrave, pois nossa cachaça é artesanal. Mas nada que atrapalhe as previsões de crescimento”, finaliza o fabricante. (LP)

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