Orgânica: opção para começar

Horta utiliza adubo com menor solubilidade e produtos à base de óleo de plantas para combater pragas

19 de outubro de 2005 | Sem comentários Café Orgânico Produção
Por: Fernanda Yoneya Especial para o Estado

A horta orgânica pode ser uma boa opção para quem quer iniciar um cultivo. Embora os produtos orgânicos disponíveis no mercado sejam mais caros que os convencionais, agrônomos afirmam que não há nenhuma comprovação de que o manejo orgânico de hortaliças seja, também, mais caro. A recomendação dos técnicos, no entanto, é que o produtor que optar pelo sistema orgânico seja consciente quanto às particularidades do cultivo. “Costumo dizer que o mais difícil em se cultivar organicamente é conscientizar o produtor”, afirma o pesquisador Sebastião Wilson Tivelli, do Instituto Agronômico (IAC).

ADUBOS
O cultivo orgânico se diferencia do convencional por não utilizar adubos solúveis, de origem mineral, como uréia e fósforo. Como substituição, são utilizadas fontes de nutrientes de menor solubilidade, como tortas de mamona, farinha de osso, farinha de casco e de chifres. “Também se usa como fertilizantes estercos animais, compostos orgânicos, que é a mistura de esterco com restos vegetais, adubação verde e rochas naturais, como calcário e fosfatos”, explica o pesquisador Francisco Vilela Resende, da Embrapa Hortaliças.

Outra diferença do sistema orgânico é que é abolido o uso de agrotóxicos, ou qualquer outro produto obtido de forma sintética. Transgênicos também não são permitidos. Segundo o pesquisador do IAC, quem for começar uma horta doméstica pode reaproveitar o lixo úmido produzido em casa para fazer adubo. “Após ser compostado, o lixo residencial, como casca de frutas, pó de café e restos de comida, exceto papel higiênico, é uma excelente fonte de nutrientes para a horta. Com isso, há a reciclagem de lixo e a produção de composto orgânico em casa”, ensina.

CUIDADOS
O sistema de produção orgânica, segundo Resende, apresenta problemas relacionados, principalmente, ao controle de pragas e doenças, ao manejo de ervas daninhas e em relação à nutrição das plantas. “São problemas como os da horta convencional, mas que exigem cuidados específicos.” Como as hortaliças são espécies de cultivo intensivo e exigentes em nutrientes, os adubos orgânicos, por serem absorvidos de forma mais lenta pela planta, não conseguem atender às exigências da horta em termos de quantidade de nutrientes e na velocidade necessária. Por isso, aconselha o pesquisador, recuperar a fertilidade do solo é fundamental. “Os microrganismos do solo são essenciais para disponibilizar nutrientes. Por isso, é preciso preparar muito bem o solo.”

Outra diferença é relacionada à mão-de-obra, já que o cultivo orgânico, às vezes, é mais trabalhoso. “Na horta orgânica o revolvimento do solo deve ser reduzido, o controle de plantas daninhas é feito manualmente e o preparo e aplicação de adubo são mais trabalhosos. Enquanto na horta convencional fala-se em até duas toneladas de adubo por hectare, no cultivo orgânico, essa quantidade salta para até 30 toneladas por hectare”, calcula.

Caso o produtor queira migrar do cultivo convencional para a produção orgânica, Resende esclarece que se trata de um processo lento. Somente após alguns meses de manejo orgânico, é que o solo e o ambiente irão recuperar o equilíbrio natural.

PRAGAS
Por dispensar o uso de agrotóxicos, o combate a pragas e doenças requer atenção redobrada. Enquanto o sistema convencional tem à disposição produtos específicos para cada deficiência, a horta orgânica deve buscar tratamentos naturais alternativos. Uma saída é fazer o controle biológico na horta. Em caso de doenças, a opção é recorrer a produtos à base de óleo de plantas, como o nim, e extratos vegetais. “Podem ser usados, ainda, caldas ou biofertilizantes”, afirma Resende. “É importante evitar ao máximo o aparecimento de pragas e doenças.”

Por isso, a dica é escolher hortaliças mais fáceis de serem cultivadas organicamente. “As hortaliças com folhas têm menor incidência de pragas e possuem ciclo menor. Pode-se, então, começar com chicória, por exemplo”, aconselha Tivelli. O pesquisador explica que quanto menor for o ciclo da planta, menor é a chance de um ataque. Depois das folhosas, quem quiser diversificar a horta pode optar pela cenoura, beterraba ou nabo, “raízes de nível intermediário de dificuldade”. Tomate e batata são os cultivos mais difíceis. “O tomateiro tem muitas doenças e possui ciclo mais longo. Tudo isso dificulta.”

Para driblar esses possíveis ataques, o produtor deve procurar diversificar sua produção. “Uma horta orgânica usa muito a rotação e sucessão de culturas e cultivos consorciados”, diz Resende. Outra alternativa é a construção de cercas vivas, normalmente de espécies que floresçam o ano inteiro. A intenção é promover o controle biológico: as cercas, normalmente feitas de girassóis ou de outras plantas que tenham flores, têm a função de atrair insetos e atuar como barreira contra pragas e doenças. Outro conselho é fazer bom uso da água na horta orgânica, utilizando apenas o necessário. Além disso, água em excesso favorece a proliferação de pragas e propicia a lixiviação do solo, que é a perda de nutrientes.

SAIBA MAIS: Embrapa Hortaliças, tel. (0–61) 3385-9000; IAC, tel. (0–19) 3231-5422

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