05/08/09
O piso das projeções indica moeda norte-americana – que já caiu mais de 21% neste ano – cotada a R$ 1,80 no final de 2009 e R$ 1,70, em 2010
O mercado financeiro – que, na primeira semana de janeiro, projetava o câmbio de dezembro a R$ 2,25, segundo a mediana das expectativas dos analistas consultados na pesquisa semanal Focus do Banco Central – viu a cotação do dólar recuar mais de 21% neste ano, o que já torna a moeda norte-americana uma das piores aplicações financeiras de 2009. Considerando o pico da moeda nos últimos meses, de R$ 2,519, alcançado no dia 4 de dezembro, e a cotação do fechamento do pregão de ontem, de R$ 1,823, a queda até agora já superou 27%. Não há outra pergunta a fazer, neste momento, a não ser: até aonde pode chegar o dólar?
“Nosso cenário projetado é de que o dólar busque a cotação de R$ 1,80, mas não descartamos que rompa este nível para baixo”, afirma o economista-chefe da consultoria LLA Investimentos, Sergio Manoel Correia. “Seria muito factível o dólar chegar a R$ 1,70. Ele não tem motivos para subir”, diz. De acordo com pesquisa dos serviços AE Mercado e AE Taxas, da Agência Estado, junto aos principais negociadores de câmbio (dealers) listados pelo Banco Central, a mediana das expectativas para a cotação do dólar no final deste mês está em R$ 1,89 e para o encerramento do ano, em R$ 1,90 (veja mais na tabela abaixo). O piso das projeções para o final de 2009 aponta a taxa de câmbio a R$ 1,80.
A razão para a queda do dólar, avalia Correia, está principalmente na entrada de moeda estrangeira no Brasil na forma de investimento em carteira – conta do balanço de pagamentos que engloba recursos estrangeiros para a compra de papéis, como ações ou títulos de renda fixa. A balança comercial, que registra a diferença entre as exportações e as importações brasileiras, também tem tido saldo positivo, mas pesa menos que a conta de investimento em carteira, na avaliação do economista. “Os últimos dados macroeconômicos divulgados pelo mundo têm sido positivos, o que favorece o bom humor internacional”, diz. “Afirmar que o movimento de queda do dólar se manterá até o final deste ano talvez seja exagero, mas ainda é cedo para o câmbio voltar a subir.”
O presidente do grupo Fitta, especializado em câmbio turismo, André Nunes, concorda que o fluxo de recursos externos para o Brasil é fator preponderante para a queda do câmbio – que, segundo ele, deve recuar até a faixa entre R$ 1,65 e R$ 1,70 no final do ano. “Voltou a entrar dinheiro no País, seja para renda variável, renda fixa ou investimento direto”, afirma. “O Brasil anda muito popular. Tem sido visto como o país das oportunidades”, ressalta o executivo, destacando que espera ver o dólar de volta em R$ 1,647 – patamar que antecedeu a intensificação da crise financeira internacional , no início de setembro do ano passado.
Cotação no mercado futuro
A “sobra” de dólares no mercado devido ao fluxo de recursos para o Brasil é, na opinião do economista e diretor da corretora de câmbio NGO, Sidnei Nehme, menos importante para explicar a queda da moeda do que os movimentos especulativos dos investidores estrangeiros no mercado futuro. “Há dinheiro entrando no País, mas também dinheiro saindo, e o excedente tem sido neutralizado com leilões de compra realizados pelo Banco Central.”
Nehme explica que o ingresso de recursos direcionados à compra de ações ou outros títulos é seguido por operações de venda de contratos de dólar no mercado futuro na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). “A intenção dos estrangeiros é obter ganho duplo: com a aplicação e com a variação cambial.” Explique-se: um investidor que traga US$ 1 mil para o Brasil os converte, atualmente, em cerca de R$ 1.830. Supondo que os ganhos da aplicação elevem o montante a R$ 2 mil, esse investidor conseguiria obter mais dólares se o câmbio estivesse em R$ 1,70 (US$ 1.176) do que em R$ 1,83 (US$ 1.093). “Por isso vendem dólar no mercado futuro e operam para fazê-lo cair, influenciando a formação do preço no mercado à vista.”
Esse tipo de sistemática especulativa, segundo Nehme, não é controlável pelo Banco Central. Por isso, o economista não consegue precisar até que ponto a cotação do dólar possa chegar. No entanto, ele ressalta que os números divulgados pela Bolsa nos últimos dias podem dar indicações de que o movimento comece a arrefecer. “Os estrangeiros tinham uma posição líquida vendida no mercado futuro de dólar de US$ 4,5 bilhões na sexta-feira (31 de julho), que passou para R$ 2,6 bilhões na segunda-feira (3 de agosto)”, afirma. Se seguir neste ritmo, Nehme acredita que nos próximos meses a cotação do dólar possa voltar à faixa entre R$ 1,90 e R$ 1,95.
Por isso, para quem planeja viajar para o exterior nas férias do final do ano, Nehme afirma: “É momento de comprar dólar.” Em breve, acredita, é possível que a moeda esteja mais cara. “E mesmo que compre uma passagem pagando em parcelas, se fizer isso agora o turista ‘trava’ o preço em uma cotação mais baixa.” A recomendação de Nunes, do grupo Fitta, é para que os interessados comecem a comprar dólares agora, mas não de uma vez. “Recomendamos ao turista que não compre moeda num só momento, pois sua chance de errar é grande. O ideal é comprar um pouco por mês, pois na média conseguirá um preço interessante.” (Mariana Segala)