Opinião: O direito de conferir

01/10/2009 – Eu que moro num cantinho do mundo chamado de Manhuaçu nas Minas Gerais, criado no meio deste pessoal meio desconfiado e com sabias indagações, aprendi desde cedo que todos temos o direito de conferir para não termos o direito de desconfiar.


Sabemos que a cafeicultura esta passando por uma crise financeira e existencial, nós aqui do mato ficamos ouvimos a todos ditar regras, como, você não pode andar de carro novo, ou você é ineficiente, mas quando falamos algo, não costumam nos dar o devido respeito.


A cafeicultura de conilon/robusta hoje é uma realidade onde a sua produção é mais barata para o produtor e com mais rentabilidade, também é mais rentável na indústria. Isto se deve muito pelo excelente trabalho de um povo e de dirigentes de um Estado ,digo, o Espírito Santo que com seu empreendedorismo chegou a esta realidade, um fato inegável.


A cafeicultura do café arábica, mais tradicional se perdeu em sua tradicionalidade e se escondeu atrás de suas faixas de barões do café e, ficaram vivendo em uma ilusão que nunca seriam destronados, perderam tempo e consequentemente espaço e dinheiro também um fato inegável, portanto essa briga entre produtores de arábica e conilon é ridícula um não vive sem o outro e quem esta ganhando são as pessoas que manipulam esse mercado.


Os produtores de arábica têm que entender que estamos perdendo essa batalha por não falarmos a mesma língua, precisamos urgentemente melhorar nossa produtividade para equipararmos aos de café conilon/robusta, para isso precisamos de apoio como fez o estado do Espírito Santo.


Mas um fato me chamou a atenção esta semana. A Abic uma entidade seríssima, veio a publico dizer que seria contra a rotulação do café, se sabemos hoje que o café arábica não existe em quantidade de produção o suficiente para suprirmos a indústria mundial nem a nacional, portanto o conilon é uma realidade ,e a quantidade a ser consumida quem vai mandar com certeza é sua majestade o consumidor. Eu particularmente acredito que a indústria tem que vender o produto que mais  agrade a  população com ou mais conilon e/ou arábica em seu devido blend.


Agora para não criarmos uma polemica muito grande irei postar só números oficias que qualquer internauta como eu acha navegando pela internet.


No ano safra de 2004/05 a produção brasileira de café números sempre oficias neste caso da Conab foi de 39.272 milhões de sacas e ano 05/06 foi de 32.944, ano 06/07 foi de 42.512, ano 07/08 foi de 36.070 e 08/09 foi de 45.992 dando um total de produção de 196.790 milhões de sacas.


O consumo segundo a Abic também usando mesmo período e também constatando que são números divulgados pela entidade, portanto oficias no ano safra de 04/05 o consumo foi de 15.200 milhões de sacas de café de 60 kg no ano seguinte 05/06foi de 15.900,06/07 foi de 16.700, no ano07/08 foi de 17.380 e no ano 08/09 17.930 dando um total de consumo nestes anos de 83.110 milhões de sacas de café.


A exportação neste período que estamos comentando também são dados oficias da Cecafe, ano de 2004 esses são dados de janeiro a dez, portanto ai também tem  um pouco de estoque de passagem da safra de 2003, vamos aos números 2004 a exportação foi de 26.478.490 milhões de sacas de 60 kg , ano de 2005 foi de 26.190.699 ,ano de 2006 foi de  27.369.957, ano de 2007 foi de 28.180.127, ano de 2008 foi de  29.495.774 dando um total de 137.715.047 milhões de sacas de café.


O governo possuía em seus estoques em 2004 12.528.097 milhões de sacas e hoje possui 602.759 disponibilizando para a indústria um total de 11.925.338 milhoes de sacas.


Tentando fechar a conta se produzimos neste período 196.790 milhões de sacas de café de 60 kg e o governo disponibilizou 11.925.338 milhões o mercado tinha a seu dispor um estoque de 208.715.338 milhões de sacas. Somando as exportações do período e o consumo do período, temos um numero de 220.825.047 milhões de sacas de café.


Concluímos então que houve uma falta de estoque de 12.109.709 milhões de sacas de café de 60 kg. Bom amigo cafeicultor estamos falando agora em um buraco de 12 milhões de sacas de café. Tenho que dizer que não encontrei o estoque de passagem no ano de 2003/04, também tenho que ser justo pois  números são números o que amenizaria este buraco enorme encontrado ate agora, mas:


1-   Os números da Conab estão certos?


2-   Os números da Abic estão certos?


3-   Os números da Cecafe estão certos?


4-   Todos estão certos?


Uma coisa eu tenho que dizer, não se pode contestar os números e temos nós cafeicultores de saber onde esta o erro, particularmente acredito que o erro esta no numero da safra que tem sido sistematicamente maior do que os números divulgados, mostrando que não somos tão insuficientes, mas como diz um conhecido meu, achar ou acreditar não prova nada, o que diz a verdade são os números.


Tenho que dizer também que o país não para de bater recordes de exportação e que os armazéns de café que tenho informação não têm onde por café o que pioraria em muito esse numero negativo, também não levaria esses dados há anos anteriores que acho me daria um delirium tremens com o que descobriria. Se colocarmos aí a previsão deste ano o consumo e a exportação esta numero negativo só tende a aumentar.


Portanto quando nos tiram o direito de conferir nos dão o direito de desconfiar e esse número mostra que algo de muito errado esta ocorrendo em nosso mercado cafeeiro e os prejuízos estão no bolso de quem fica nos cantinhos do mundo a produzir.


Wagner Pimentel


www.cafezinho com amigos.blogspot.com


MANHUAÇU MG

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