OPINIÃO – Celso Amorim é só um homem ridículo – Por Reinaldo Azevedo (Veja)

18 de janeiro de 2010 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

Leiam um texto intitulado “Rottweiler sem dentes”, que está hoje na Folha. Volto em seguida:


Blog Reinaldo Azevedo (Veja)


O Brasil mudou de complexo. Antes, abrigava n’alma o de vira-lata, segundo Nelson Rodrigues, o notável escafandrista da alma brasileira. Agora, na crise haitiana, mostra complexo de rottweiler.

Pena que não tenha dentes. Refiro-me à ciumeira de autoridades brasileiras em relação a rápida e decidida ação do governo norte-americano. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reage com pura masturbação diplomática, ao dizer que se trata de “assistencialismo unilateral”.
Qualquer pessoa que não tenha perdido o senso comum sabe que os haitianos não estão preocupados com a cor do assistencialismo, se unilateral, bilateral, multilateral. Querem que funcione.

No aeroporto da capital, está funcionando, conforme relato desta Folha: “Depois que os americanos assumiram o aeroporto, os voos aumentaram e também o envio de medicamentos e alimentos”.

É claro que precisa haver coordenação, como cobra o chanceler Celso Amorim, mas é bobagem resmungar sobre os Estados Unidos assumirem um papel mais relevante que o das forças da ONU. É brigar com os fatos da vida. Os EUA podem mais que qualquer outro país, o que é escandalosamente óbvio.

Ajuda-memória aos resmungões, extraída do texto de Sérgio Dávila: os EUA enviaram vários navios da Guarda Costeira com helicópteros, o porta-aviões Carl Vinson, com 19 helicópteros, 51 leitos hospitalares, três centros cirúrgicos e capacidade de tornar potáveis centenas de milhares de litros de água por dia.

Nos próximos dias, chegam mais dois navios com helicópteros e uma força-anfíbia com 2.200 fuzileiros e um navio-hospital.

O Brasil tem condições de chegar a um décimo disso? Não. Então que pare de rosnar e reforce o seu pessoal no Haiti, que fez e está fazendo notável trabalho, dentro de seus limites bem mais modestos.


Comento

Não é meu, não. É de Clóvis Rossi, da Folha. Quando se trata de avaliação política, não me lembro de ter concordado com Rossi antes. E ele e seus admiradores podem ficar tranqüilos: não pretendo macular a sua reputação junto a certo leitorado — e, eventualmente, eleitorado —  elogiando-o. Em benefício de Rossi, farei de tudo para  que isso não aconteça. E sei que alguns se esquecerão de ligar a tecla SAP para ler o texto.


Ocorre que há circunstâncias em que as pessoas que têm compromisso com os fatos — independentemente do lugar que ocupem no espectro ideológico ou das opiniões que tenham sobre isso ou aquilo — são obrigadas a constatar… os fatos!!!


A canalha esquerdopata se fingiu de chocada quando escrevi o texto “Haiti: palco e atoleiro”, em que acusei, de pronto, o assanhamento protagonista de Lula. Escrevi depois um outro texto afirmando que não será a tragédia a me impedir de pensar. Alguns pessoas até de boa fé e muitos bocós vieram me dar conselhos: “Pô, numa hora como essa, você diz essas coisas; os haitianos estão precisando…” Como se eu estivesse contra o auxílio àqueles pobres coitados, vítimas dos homens, vítimas da natureza…


Não! Eu sou favorável à ajuda, é evidente. Eu só percebi a mobilização assanhada para tentar desempenhar o papel de um grande líder — e nada posso fazer, a não ser relatar a vocês o que vejo, se fui mais rápido do que os outros; admito que tem acontecido com freqüência. Acontece que a tragédia era imensamente maior do que a jactância de Lula e Celso Amorim. Pedia a intervenção de alguém acostumado a se comportar como sede do Império (alguns acham ruim; eu, como sou imperialista, acho bom). Em questão de horas, os EUA tinham conseguido mobilizar recursos para nós inimagináveis porque intangíveis — não, melhor usar uma palavra mais forte: INEXISTENTES.


E Celso Amorim fez o quê? Começou a rosnar. Ficou à beira de gritar: “Abaixo o imperialismo” quando os EUA resolveram botar ordem no caos do espaço aéreo, uma precondição para se tentar fazer alguma coisa no espaço terrestre, onde o inferno persiste. E passou a bater os pezinhos de anão enciumado (refiro-me à sua estatura interna, não à externa, como sempre). A inenarrável tragédia haitiana abria uma janela de oportunidades para o nosso… protagonismo!!! Ou melhor: “deles”. Abro uma janela para falar nos soldados brasileiros e retorno ao ponto.


Os soldados brasileiros

Não! Isso nada tem a ver com o duro trabalho, certamente heróico, dos nossos soldados naquele país. Muitos perderam a vida. Mesmo antes do terremoto, faziam um trabalho meritório, embora lutassem, NÃO POR VONTADE DAS FORÇAS ARMADAS, a guerra errada. Já estavam lá por causa desse complexo de rottweiler desdentado, enviados pelo governo Lula. Nelson Jobim diz agora que o Brasil deve ficar mais cinco anos por lá… Ele está chutando. Se não sabia, no caos relativo, quanto tempo permaneceríamos nos comportando como polícia em Cité Soleil, como vai saber agora, no caos absoluto? Ele fala o que lhe dá na telha.


A ONU, para não variar, largou o Haiti ao Deus-dará. E o Brasil ficou pendurado na brocha. Nos quase seis anos de intervenção, quase nada havia mudado por lá. O país continuava praticamente sem instituições. As tropas da ONU, lideradas pelos soldados brasileiros, já se viam obrigadas a intervir, militarmente mesmo, em confrontos armados entre gangues. Antes desse terremoto, houve outros, só que políticos. A pá de cal no país foi jogada por um ex-padre esquerdista, doidivanas e, tudo indica, ladrão também chamado Jean-Bertrand Aristide, que governou o país, pela última vez, entre 2001 e 2004. A grande idéia deste cretino para evitar a instabilidade militar foi extinguir as Forças Armadas… Sabem o que isso significava e significa? Que as forças da ONU haviam assumido esse papel. Cinco anos? Jobim não tem noção do que está falando. Agora, Aristide diz estar pronto para deixar seu conforto na África do Sul, onde está exilado, e voltar ao país. Será que sobrou alguma cadeia na parte do país não atingida pelo terremoto?


Retorno ao ponto

A crítica política — assim como a econômica, a gastronômica ou outra qualquer  — não deve ser insensível aos dramas humanos. Ao contrário: a rigor, eles são a razão essencial que nos leva a escrever sobre qualquer assunto: de um tratado de engenharia a um tratado moral. Em tese ao menos, estamos todos empenhados em melhorar a vida do homem.


E uma das formas que a crônica e a análise política têm de demonstrar a sua sensibilidade é acusar a manipulação, a marquetagem, a patifaria. O mundo viu o senhor Celso Amorim tentando medir forças com o governo dos EUA para ver quem iria liderar a ajuda ao Haiti. O gigante não entendeu, até agora, o que é integrar forças da ONU. Por qualquer razão, ele passou a se comportar como uma espécie de governo de fato do Haiti, cobrando que os EUA lhe dessem satisfações sobre os seus atos. É um despautério.


O Haiti pede todos os esforços que estiverem ao nosso alcance. Mas nem aquela tragédia terá feito o número de mortos que um terremoto humano no Sudão chamado Omar Hassan al-Bashir já fez. Este é o nome do ditador daquele país: responde por, ATENÇÃO!!!, 300 MIL MORTOS. E o Brasil de Celso Amorim, não o nosso, nega-se sistematicamente a votar contra o déspota na ONU. Ao contrário: já atuou para protegê-lo. Por quê? Porque quer o apoio dos países islâmicos, especialmente árabes, para ser membro permanente do Conselho de Segurança. Entenderam?


Em nome do protagonismo, o governo Lula tanto pode ignorar os 300 mil mortos de Darfur como pode reivindicar uma espécie de mando sobre os estimados 100 mil mortos do Haiti. Montanhas de cadáveres não são fronteira para as ambições de Lula e Celso Amorim.


E eu continuarei a chamar as coisas pelo nome que as coisas têm. Ainda que isso aborreça muita gente. É o compromisso que tenho firmado com os meus leitores.


DERRUBEM O CRISTO RREDENTOR E PONHAM LÊNIN EM SEU LUGAR!


É… Começo com uma graça amistosa com os que querem banir o crucifixo das repartições públicas com base no fato de que o estado é laico: eu não sabia que havia tantos admiradores do Lênin no Brasil. E agora o que não é tão engraçado: é incrível como aqueles que se querem apegados apenas à racionalidade abrem veredas, sem perceber, para uma visão totalitária da história e do mundo. Por que Lênin?


Acho que já me referi aqui a um trecho da biografia de Trotsky escrita por Isaac Deutscher (a trilogia O Profeta Armado, O Profeta Desarmado e O Profeta Banido). No primeiro volume, acho (cito de memória), há a passagem em que o jovem Trotsky vai visitar Lênin no exílio, em Londres. Os dois saem para passear e falar sobre política. E o líder da revolução soviética vai mostrando ao jovem revolucionário: “Esta é a ponte deles, esta é a catedral deles, esta é a praça deles”. “Eles” , no caso, designava a burguesia. Todo o programa do homicida e liberticida estava contido naquelas pequenas observações. Porque a ponte, a catedral e a praça, evidentemente, não eram “deles”, mas da humanidade.


Não para um marxista chinfrim como Lênin, com a profundidade filosófica de um pires, para quem a história tinha um sentido evolutivo – e Marx o levou a pensar assim, claro. O socialismo seria uma etapa posterior da civilização, e haveria de ter, então, pontes socialistas substituindo as pontes do capitalismo; catedrais do socialismo (não dedicadas a Deus, é óbvio) substituindo aquelas da civilização primitiva. O socialismo, como uma das manifestações mais extremas da Razão – ué, por que não? – deu no que deu. Aliás, a Razão já tinha dado no que tinha dado durante o Terror, na Revolução Francesa, não é? Calma lá! Não me confundam: sou amigo da Razão. Não sou é amigo da mistificação.


O estado laico não mata a história que veio antes dele. Não é preciso esmagar uma catedral com outra, uma ponte com outra. A palavra “cultura”, na origem, remete a “cultivo”. Podemos cultivar a nossa história. Já volto a este ponto. Antes, algumas outras considerações.


Os que não suportam manifestação de religiosidade em espaços públicos e coletivos podem suportar a estátua do Cristo Redentor? Ou haveremos de substituí-la por, sei lá, uma outra de Descartes? Não me venham dizer que, em matéria de Razão, Cristo era páreo para Descartes, não é mesmo? E se uma era tem de esmagar a outra, como queria o nobre companheiro Lênin, acho que é preciso implodir aquele troço que está lá e consagrar – no bom sentido, claro, o não-religioso… – o símbolo do racionalismo. Confesso que seria ao menos engraçado ver os desdentados substituindo o “Pai Nosso” pelo “Cogito ergo sum”. Afinal, vocês sabem, sem uma religião cristã para atrapalhar, os povos costumam ser bem mais livres, como provam aqueles paraísos da Africa subsaariana. Na “suprasaariana”, aí já há o paraíso de Alá… É outro!


Eu não gosto de idéias pela metade. Se é para abolir, POR FORÇA DE LEI, o crucifixo das repartições públicas – fico cá imaginando um barnabé caçador de crucifixos… -, então será preciso abolir também o Natal, a Sexta-Feira Santa etc. Que ONG se atreve a entrar com este pleito e que juiz aceita dar a sentença? “É, com efeito, são feriados religiosos, e o estado brasileiro é laico. Não tem feriado coisa nenhuma!”


Incrível, reitero, como se pode, em nome da razão, abrir as brechas para o pensamento totalitário. Notem bem: o estado brasileiro não é ateu. Não é um estado que, como o chinês e o cubano – dois paraísos para quem fica nervoso quando vê um crucifixo em órgão público – se declare ateu. Ele é laico! Isso quer apenas dizer que não se orienta segundo a lógica, as necessidades e a mística de uma religião. Mas a Constituição brasileira PROTEGE as religiões e o culto religioso. NÃO HÁ UMA LEI IMPONDO CRUCIFIXO NAS REPARTIÇÕES. Aliás, nas que tenho visitado, são cada vez menos freqüentes. QUANDO HÁ LÁ UM CRUCIFIXO E UMA BÍBLIA, NO MAIS DAS VEZES, OS OBJETOS SÃO ECOS DE UM TEMPO EM QUE ESSAS ESFERAS NÃO ERAM TÃO SEPARADAS. Mas é só memória. É só história!


Não havendo a lei que imponha e não tendo aquele crucifixo ou aquela Bíblia qualquer influência nas decisões do funcionário público, obrigar a sua retirada por força de uma determinação legal caracteriza uma óbvia perseguição a símbolo religioso, em desacordo com a Constituição. Mais: ainda de acordo com teses que me parecem obviamente autoritárias, hipertrofia-se o conceito de ESTADO e se esquece o conceito de NAÇÃO. O Estado brasileiro, com efeito, é laico. Mas a nação brasileira é esmagadoramente religiosa. E o país tem sabido conviver com as diferenças. Há terreiros de umbanda e candomblé no Brasil que são tombados e, pois, mantidos e protegidos com dinheiro público. Uma reivindicação dos progressistas em nome da diversidade cultural!


Olhem: as pessoas que compõem a tal ONG que resolveu enroscar com o crucifixo pertencem, na sua maioria, a religiões minoritárias no Brasil. Estão protegidas pelo texto constitucional e, tenho certeza, não enfrentam qualquer animosidade da maioria católica brasileira. Zero! Mas parece que isso não basta. É preciso não inverter a relação de causa e efeito: a maioria do povo não é composta de católicos porque há crucifixos nas paredes das repartições; há crucifixos nas paredes das repartições porque a maioria é católica. Não se trata daquela bobagem de que maioria tem sempre razão. Isso é tolice. Estou evidenciando que há um esforço para apagar um costume, uma tradição, uma manifestação cultural, com a força coercitiva do Estado. Nós lutamos para que os terreiros de candomblé deixassem de ser perseguidos, não para que passássemos a perseguir crucifixos.


Muitos expressam, sei lá, um quase ódio à Igreja Católica por causa de seu passado etc e tal. Não vou entrar nesse mérito agora. Já andei escrevendo sobre isso. O fato é que, hoje em dia, e já há muito tempo, a Igreja tem sido exemplo de convivência com a diferença. Digam-me um só lugar em que cristãos perseguem não-cristãos. Mas eu posso enumerar vários, muitos mesmos, em que os cristãos são terrivelmente perseguidos e, às vezes, esmagados. Outra coisa: sugiro um pouco de cuidado e pesquisa antes de negar o vínculo estreito entre cristianismo e democracia ocidental.


Finalmente, respondo a uma questão que andou aparecendo aqui e ali. Entrando em confronto, inclusive, com alguns amigos conservadores, critiquei a chamada Lei do Véu na França. Acho um absurdo que se proíba o uso do véu numa escola porque é “é um espaço laico, e aqui somos todos republicanos”. Ora… Se é para conter o Islã, em vez de conter, atiça. Mais: deu-se asa uma tolice e a uma inverdade. Proibiram-se tanto o véu islâmico como o crucifixo, o que significa que, para a República francesa, véu e crucifixo tiveram, na formação daquele povo, a mesma importância – ou a mesma desimportância. É uma asnice. Mas compreendo. Nas escolas francesas, um sanguinário tarado como Robespierre ainda é tratado como herói. Em nome da Razão! Pensando bem, vamos derrubar o Cristo e meter Robespierre lá.


As pontes são nossas!


As catedrais são nossas!


As praças são nossas!


Os crucifixos são nossos!


“Nossos?” Da civilização!


*
Sei que o presidente da CNBB fez essa ironia. Mas eu fiz antes. Publiquei esse texto aqui no dia 6 de agosto do ano passado. Como a gente nota, eles não desistem nunca. Se o crucifixo, que teve importância central na formação do povo brasileiro, deve ser banido em nome do estado laico, que esses valentes deixem de ser covardes e extingam todos os feriados cristãos, a começar do Dia de Natal. Covardes tentam tirar a cruz das repartições; corajosos mostram a fuça — em vez de se esconder em documentos escritos à socapa — e defendem a extinção de todos os feriados religiosos.


Anteontem, um desses ongueiros financiados pela Fundação Ford afirmou que aquele programa fascistóide dos supostos direitos humanos foi feito democraticamente. Segundo ele, 14 mil pessoas participaram!!! Reúno isso no meu blog em meia hora. E nem por isso me pretendo legislador. Vão lá, valentes! Tenham a decência de defender uma proposta endossada por 14 mil para 190 milhões. Vamos ver o que eles pensam.

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