Onda de frio tardia pode trazer impactos para a agricultura

Pesquisadores da EPAMIG avaliam efeitos em plantios no Sul de Minas Gerais

(Belo Horizonte – 24/8/2020) – A onda de frio que atingiu a Região Centro Sul no Brasil no último fim de semana trouxe chuvas e baixas temperaturas para várias áreas de Minas Gerais. No Sul do Estado, a formação de geadas e granizo deixou os agricultores em alerta.

O engenheiro agrônomo Pedro Moura, que atua no Campo Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), em Maria da Fé, explica que os períodos de frio são necessários para a indução floral de fruteiras de clima temperado, como a oliveira e o pessegueiro. E que por se tratar de uma região de grande altitude, as plantas da Serra da Mantiqueira, entre os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, já acumularam mais que as 300 horas de frio necessárias. “As estações meteorológicas automáticas em Maria da Fé já registraram neste ano acima de 1.400 horas de frio abaixo de 12 graus”, informa.

O pesquisador destaca que, como as oliveiras já começaram a florir em Maria da Fé, a ocorrência de frentes frias, acompanhadas de fortes chuvas e geadas, pode danificar folhas, flores e, consequentemente, prejudicar os frutos. “As chuvas são benéficas, visto que estamos passando por um período muito seco. Porém, neste momento em que as plantas começam a florescer, dias consecutivos de muitas chuvas e elevada umidade do ar podem prejudicar a polinização”, avalia.

De acordo com Pedro Moura, será necessário acompanhar o comportamento das plantas após as chuvas do fim de semana e as geadas, que ocorreram na manhã desta segunda-feira (24) e que devem se intensificar na terça-feira (25) no município, para identificar possíveis danos. “Após essas brotações, a ocorrência de novas frentes frias intensas e com formação de geadas sobre as plantas pode ocasionar a danificação dessas gemas brotadas, com perdas na florada”, conclui.

Também em Maria da Fé, o pesquisador Emerson Gonçalves avalia que a produção de pêssegos possa ser prejudicada pelo grande período de estiagem, cerca de 70 dias, vivenciado no inverno. “O risco é de derrubar o fruto que já está formado, interrompendo a produção”, explica, acrescentando que essa queda já está sendo percebida nos pomares.

Vinicultura

Na última semana, uma chuva de granizo atingiu a produção de uvas na região de Andradas, também no Sul de Minas. De acordo, com o acompanhamento da equipe do Núcleo Tecnológico EPAMIG Uva e Vinho, apenas um produtor de vinhos de inverno na região não havia efetuado a colheita. “Nesse caso, a tela de proteção dos cachos preservou os frutos e as gemas dos ramos dos danos chuva”, conta o pesquisador Francisco Mickael Câmara.

Já para a colheita de verão, caso dos espumantes, a previsão é de prejuízos. “Alguns produtores já haviam realizado a poda, entre meados e fim de julho, e a chuva coincidiu com a florada”, completa Francisco.

Cafeicultura

Nos cafezais, o inverno seco e a previsão de prevalência dessas condições durante a primavera trouxe preocupações para a próxima safra. “De momento, podemos dizer que as lavouras, que tiveram grande produtividade neste ano, não estão em boas condições para a próxima safra. Isto, devido ao inverno seco e com grande amplitude térmica, dias quentes e noites frias, sentida, especialmente, pela desfolha. Passada esta frente fria e com o aumento das temperaturas, podemos ter o início da florada, mas como não há previsão de chuvas para setembro, fica uma incógnita sobre o pegamento. Precisaremos acompanhar essas condições para determinar como será a safra em 2021”, adverte o chefe de Pesquisa da EPAMIG Sul, Cesar Botelho.

O coordenador do Programa Estadual de Pesquisa em Café da EPAMIG, Rogério Antônio Silva, lembra que cuidados básicos de nutrição pós-colheita, manejo e podas podem amenizar possíveis prejuízos para a lavoura. “Os impactos variam em função da altitude, da intensidade das chuvas e da incidência ou não de geadas. O produtor deve avaliar as condições de sua área e, em caso de dúvidas, buscar a orientação técnica, junto à Cooperativa, à Emater- MG ou de um consultor”, recomenda.

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