Olimpíada de 1932 em Los Angeles viagem paga em sacas de café

Por: 16/04/2007 19:04:02 - Agência Estado

 
Maria Lenk, marco da presença feminina no esporte brasileiro

SÃO PAULO – Maria Emma Lenk Zigler foi uma precursora e sua vida como atleta a base para toda a história do esporte olímpico feminino brasileiro. Para as mulheres sempre foi mais difícil ganhar espaço. Das 76 medalhas olímpicas do Brasil, as mulheres têm 10. Maria Lenk abriu caminho ao ser, em 1932, a primeira brasileira a ir a uma Olimpíada – estava na delegação que seguiu para Los Angeles.

Para arcar com as despesas da viagem, cada atleta teria de vender uma cota de sacas de café, também embarcadas no navio Itaquicê. Em Los Angeles, a delegação descobriu que teria de pagar US$ 1 para cada atleta que desembarcasse. Os americanos não aceitavam café como moeda e ficou decidido que só deixaria o navio quem tivesse chance de medalha (32).


“Por cavalheirismo, foi aberta uma exceção e a jovem nadadora Maria Lenk, de 17 anos, desembarcou de graça. Graças a isso, tornou-se a primeira sul-americana a participar dos Jogos”, relata o livro “Sonho e Conquista”, lançado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) em 2005.


Descendente de alemães, nascida em São Paulo em 15 de janeiro de 1915, Maria viajou sem os pais e numa época em que a presença feminina em olimpíadas ainda era interpretada como ameaça aos valores morais. Na Olimpíada de Berlim, em 1936, teve a companhia de cinco nadadoras. Em 1939, bateu os recordes mundiais dos 200 e dos 400 metros peito e passou a ter expectativa de medalha nos próximos Jogos. Mas sua carreira olímpica foi interrompida pela Segunda Guerra Mundial, que impediu a realização das Olimpíadas de 1940 e 1944.


Maria Lenk ainda foi a primeira diretora da Escola Nacional de Educação Física, no Rio; a primeira a participar do Conselho Nacional de Desportos, na década de 60; a primeira mulher da América do Sul a entrar para o Hall da Fama da natação, em Lauderdale, Miami. Como todo pioneirismo tem preço: ao ensinar natação em Amparo (SP), acabou excomungada pelo bispo da cidade, sob a alegação de que seu trabalho era inadequado ao sexo feminino.


A história de Maria Lenk está relacionada à própria participação feminina do Brasil em Olimpíadas. Dos 246 atletas que foram aos Jogos de Atenas, em 2004, 122 competiram provas femininas e 124, as masculinas, quase um empate. Marca expressiva se comparada à participação feminina nas edições anteriores: em Sydney/2000, elas eram 94 dos 204 atletas, e em Atlanta/1996, apenas 66 de 225.


 

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.