O setor privado representado na Organização Internacional do Café (OIC) se mostrou nesta quarta-feira (24-05) reticente a ceder assentos específicos em seu conselho consultivo a representantes dos pequenos produtores, como reivindicam 13 cooperativas e a ONG Oxfam com o apoio de vários governos. O Conselho Consultivo do Setor Privado (PSCB, na sigla em inglês) fez nesta quarta uma reunião paralela à 95ª sessão ordinária do Conselho da OIC, reunido desde a segunda-feira até esta quinta com o objetivo de debater o próximo Acordo Internacional do Café.
Ao término da reunião da indústria, o diretor da Associação Britânica do Café (integrada na Federação Européia), Euan Paul, disse que “o sentimento geral é que os pequenos produtores e suas necessidades estão perfeitamente representados nas estruturas atuais”, razão pela qual “não há nenhuma necessidade de criar assentos específicos”. Segundo Paul, a estrutura atual do organismo, com oito associações representantes dos produtores – divididas em quatro grupos, de acordo com o tipo de café -, e oito dos consumidores, permite a participação dos pequenos cafeicultores, que podem ter acesso ao grupo de produtores ao se integrar nas associações pertinentes que defendam seus interesses.
No entanto, a Oxfam e as cooperativas sustentam que, na prática, esses pequenos produtores não têm acesso fácil às estruturas de poder (como associações empresariais) nem sequer em nível nacional, e consideram que a criação de assentos específicos no PSCB garantiria sua presença no debate.
A proposta da Oxfam é ampliar de oito para 12 os assentos do conselho destinados aos produtores, de modo que haja um porta-voz dos pequenos cafeicultores em cada grupo correspondente a um tipo de café (naturais brasileiros e outros arábicas naturais; colombiano suave; outros suaves; e robusta).
“Não se pode esquecer que os pequenos produtores são responsáveis por 70% da produção mundial de café e que, apesar disso, suas preocupações e interesses quase não são levados em conta”, disse Seth Petchers, porta-voz da Oxfam.
Os interesses do pequeno cafeicultor, como, por exemplo, negociar um preço mínimo que garanta sua subsistência, freqüentemente esbarram com os interesses do livre mercado, que é regido pela relação entre oferta e demanda. “O que a OIC pode fazer pelos pequenos produtores, e de fato já está fazendo, é fomentar o aumento do consumo no mundo inteiro”, acrescentou Paul.
Igualmente fiel às leis do mercado se mostrou a Associação Nacional do Café dos Estados Unidos, que em sua proposta ao conselho ressaltou que “os pequenos produtores já estão atualmente representados no PSCB através das associações de produtores reconhecidas”. Curiosamente, essa posição contrasta com a expressada pelo Governo dos Estados Unidos no seio do Conselho da OIC, onde Washington apoiou uma maior representatividade dos pequenos produtores no organismo em geral, através do futuro Acordo Internacional, e no conselho do setor privado em particular.
Há alguns casos, como o de Honduras, em que os interesses dos pequenos agricultores estão bem representados através de suas delegações governamentais, embora ainda precisem ter “mais voz como bloco”, como aponta Dagoberto Suazo, dirigente da cooperativa Central. “Nós conseguimos nos integrar na delegação do Governo depois de muita luta”, disse Suazo, que acrescentou que os pequenos cafeicultores dos demais países teriam de fazer o mesmo. “No final, todos os pequenos produtores deveriam se organizar para apresentar um bloco homogêneo”, concluiu.
Redação
Fonte: Agência EFE