07/03/2014
Conforme comunicado em nosso boletim anterior, o presidente executivo do Conselho Nacional do
café (CNC), Silas Brasileiro, integrou a comitiva nacional que participou da 112ª Sessão do Conselho
Internacional da Organização Internacional do Café (OIC), que teve início no dia primeiro de março e
se estendeu até hoje, 7, em Londres (ING). A respeito da pauta de reivindicações que apresentamos
no encontro, cabe destacar o andamento dado a dois pontos, os quais expomos abaixo.
ESTATÍSTICAS — Ao longo do encontro, apontamos a necessidade da revisão do sistema de coleta,
análise e divulgação de dados estatísticos feita pela OIC para chegarmos ao máximo de
transparência na economia mundial do café e reduzirmos as especulações existentes sobre
produção, consumo, exportação e estoques. Após consenso sobre a matéria, o diretor executivo da
Organização, Robério Silva, informou que a entidade assume o compromisso de aperfeiçoar a
compilação, cobrando números confiáveis dos países membros, conforme estabelecido pelo Acordo
Internacional do Café de 2007 (AIC 2007). A delegação brasileira sugeriu, ainda, a criação de um
grupo para, no virtual surgimento de dúvidas sobre as informações transmitidas, fazer a verificação in
loco dos dados.
SUSTENTABILIDADE — O ponto alto da rodada de reuniões da OIC foi a realização de um
seminário abordando o fornecimento sustentável no mercado de café. O evento destacou a posição
dos países consumidores, que buscam cafés sustentáveis nas dimensões ambiental e social, com
restrita observância e com qualidade, contudo com preços baixos e garantia de abastecimento por
parte dos produtores, censurando qualquer projeto de retenção que comprometa o fornecimento.
Expusemos que somos favoráveis e encampamos a bandeira da sustentabilidade em nossas
lavouras cafeeiras, mas que não devemos nos esquecer da questão econômica. Nesse sentido e com
vistas no exposto, o CNC solicitou espaço para uma apresentação, na 113ª Sessão do Conselho
Internacional da OIC, a ser realizada em setembro, também na sede da entidade, em Londres, sobre
a prática da sustentabilidade e da certificação de café no Brasil, que cumpre rigorosas exigências de
mercado, conforme suas próprias leis ambiental e trabalhista determinam, e que, por isso, deve ter
um diferencial para seus cafés, não recebendo o mesmo tratamento do produto de outras nações que
não cumpram ao menos as mesmas exigências.
DEMAIS ASSUNTOS — Ainda na rodada de reuniões da OIC, a República Democrática Popular do
Laos, demonstrando seu potencial produtivo, manifestou interesse em se tornar membro da entidade,
a partir de 2015. O Japão, mesmo não integrando a Organização, mas na qualidade de grande
consumidor, realizou uma apresentação alertando para a necessidade de existir um equilíbrio entre
oferta e demanda, com garantia de qualidade no café por parte dos membros, de maneira que se
evitem excessivas oscilações de mercado. A Coreia do Sul, por sua vez, apontou o entusiasmo dos
jovens locais em consumir café, tornando-se um mercado atrativo, e, por fim, foi mencionado que os
estoques mundiais estão ao redor de 40 milhões de sacas, com produtores e consumidores
responsáveis por cada metade do montante.
MERCADO — Em uma semana de movimento mais fraco no mercado de café, devido ao feriado de
Carnaval no Brasil, os preços futuros da commodity voltaram a apresentar expressiva alta. Na ICE
Futures US, o impacto das condições climáticas adversas nas origens brasileiras foi potencializado pelo movimento de compra de contratos pelos fundos de investimento. Com isso, o vencimento mais
líquido do Contrato C superou os US$ 2 por libra-peso pela primeira vez em dois anos.
Novas estimativas divulgadas por consultorias e traders nesta semana indicam que o clima quente e
seco, atípico para o início do ano, resultará em quebra na safra brasileira 2014/15 de café. A
importadora Wolthers Douqué cortou em 10% sua estimativa para a produção nacional, projetando
agora um volume de 47,7 milhões de sacas. A redução estimada pela consultoria F.O. Licht foi de 8
milhões de sacas, para um total de 48 milhões. As duas entidades preveem aperto no quadro de
oferta e demanda de café, com redução dos estoques mundiais.
Diante desse cenário, o vencimento maio do contrato C acumulou alta de 1.525 pontos na semana,
encerrando a quinta-feira, dia de realização de lucros, a US$ 1,9555 por libra-peso. Ainda no tocante
ao mercado nova-iorquino, a ICE informou que, a partir de maio de 2016, reduzirá o desconto sobre o
café arábica brasileiro entregue na bolsa para cumprir contratos. O desconto cairá dos atuais US$
0,09 para US$ 0,06 por libra-peso. Por outro lado, o prêmio sobre o café colombiano aumentará para
US$ 0,04, ante os US$ 0,02 praticados atualmente.
Na NYSE Liffe, os preços futuros do robusta também apresentaram alta significativa. Com a
valorização do arábica em um cenário de baixos estoques nas torrefadoras, há tendência de aumento
da demanda pelos grãos de conilon, mais baratos. A retração das vendas pelos produtores do Vietnã
e notícias de que o clima frio e seco poderá afetar a próxima safra daquele país, conforme divulgado
pela Associação de Café e Cacau (Vicofa) nesta semana, contribuíram para o movimento de alta. O
fechamento de ontem do vencimento maio do contrato 409 foi de US$ 2.083 por tonelada,
representando valorização de US$ 40 desde a sexta-feira passada.
Seguindo a tendência internacional, o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada (Cepea) para o café arábica atingiu, na quarta-feira, o maior patamar desde 15 de fevereiro
de 2012, sendo cotado a R$ 447,63. Nos últimos dois dias, os indicadores do conilon e do arábica
acumularam alta de, respectivamente, 7,2% e 1,7%, encerrando a quinta-feira a R$ 441,77 e a R$
262,09 por saca.
O dólar continuou a cair ante o real após o feriado de Carnaval, operando em um patamar 0,8%
inferior ao da semana passada. A moeda americana apresentou tendência de desvalorização ante as
emergentes, sendo influenciada pela divulgação de dados fracos sobre a economia americana, em
um cenário de relativo alívio frente às preocupações de ocupação militar russa na Ucrânia.
Atenciosamente,
Silas Brasileiro
Presidente Executivo do CNC