OIC analisa tendências de consumo nos novos mercados consumidores

Analistas detectam crescimento de café robusta nos blends em quase todos os mercados


Na tarde de terça-feira, 5 de março, segundo dia de reuniões do Conselho da Organização Internacional do Café (OIC), em Londres (ING), foi realizado o “Seminário sobre tendências nos novos mercados consumidores de café”, no qual analistas internacionais fizeram explanações focando, principalmente, os países com consumo emergente, como Ásia e Europa Oriental.


O impacto dos novos mercados sobre o equilíbrio entre oferta e demanda mundiais foi apresentado por Rob Simmons, diretor de pesquisas em café e cacau na LMC International. Segundo ele, o crescimento nos mercados tradicionais foi bastante pequeno, mas, por outro lado, nas nações emergentes o consumo dobrou nos últimos vinte anos, chegando, recentemente, a 40 milhões de sacas anuais.


Simmons relatou que o consumo global cresce, atualmente, cerca de 2,5% ao ano, impulsionado pelos mercados emergentes, onde este índice supera os quatro pontos percentuais. Apesar disso, o consumo mundial per capita ainda é bastante baixo, uma vez que grande parte da população não consome café.  Portanto, para o futuro, ainda se prevê um importante crescimento no número de pessoas que bebam o produto devido ao potencial de ingresso desses potenciais consumidores. Na outra ponta, acredita-se que haverá estagnação no nível de consumo de café nos países desenvolvidos.


O diretor de pesquisas da LMC também salientou que os mercados emergentes possuem um alto nível de absorção do café robusta devido ao alto consumo de solúvel e, especificamente no caso brasileiro, em função da alta disponibilidade e dos menores preços desta variedade. Nos mercados “maduros”, também foi verificado um aumento na quantidade de conilon em seus blends, cuja proporção saltou de 35% para 45% nos últimos cinco anos. Por fim, Simmons citou que o consumo tem aumentado 2,5 milhões de sacas ao ano, das quais 2,0 milhões seriam referentes a absorção de robustas  nos novos mercados.


Também ministrando palestra no seminário, a analista Judy Ganes-Chase, CEO da J. Ganes Consulting, mantém a mesma linha de raciocínio, pois espera que o consumo mundial continue aquecido, alicerçado pelos mercados emergentes, com tendência de maior aquisição da variedade robusta, já que estas nações iniciam seus movimentos pelo café solúvel. Ela frisou, ainda, que o processo de limpeza a vapor, iniciado em 2007, também contribuiu para o aumento da utilização de conilon por parte da indústria.


Judy analisou que o aumento dos preços do café arábica nos últimos anos foi outro fator que ajudou a impulsionar o consumo de robusta. Ela apontou que, se nos mercados maduros o aumento da participação do conilon nos blends saltou de 35% para 45%, nos emergentes o crescimento é ainda maior, principalmente pelo alto consumo da bebida em seu formato solúvel. Estes fatos explicam, em grande medida, a frustração de expectativas, que existiam há um ano, para a recuperação dos preços dos arábicas em função da escassez prevista na oferta mundial. Ou seja, o incremento da utilização de robustas “abortou” tal prognóstico.


Em sua apresentação sobre o consumo fora de casa, o brasileiro Carlos Brando, diretor da P&A International Marketing, citou que o ato de beber o produto em cafeterias é um fenômeno impulsionado pelo crescente aumento da classe média em todo o planeta e que está associado a um ambiente agradável, onde as pessoas se encontram. Conforme ele, a Starbucks segue como o maior fenômeno mundial, mas há outros exemplos a serem considerados, como a rede Coffee Day, muito popular na Índia, que atende 400 mil consumidores diariamente, oferecendo xícaras de café a preços mais acessíveis que as redes internacionais. “Bom produto, bom café e bom ambiente promovendo a interação social. Estes são os principais fatores que tem levado o crescimento das cafeterias no mundo inteiro”, explica.


Brando também pontua que outra importante forma de consumo fora de casa é a que ocorre em escritórios comerciais, com destaque para a crescente degustação de cafés solúvel e de máquinas. Entretanto, ele cita que a qualidade não é tão visível nesses ambientes. No Brasil, ele calcula que o consumo fora de casa represente 30% do total. Por fim, o diretor da P&A acredita que um dos desafios que se tem é trazer o consumo de fora para dentro dos lares.


Após as apresentações feitas no “Seminário sobre tendências nos novos mercados consumidores” da OIC, acreditamos que se deva fazer ao menos uma reflexão para a revisão de estratégias dos produtores de café no Brasil.


Atenciosamente,


Silas Brasileiro
Presidente executivo do CNC

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