Volume maior da matéria-prima, porém, é positivo para torrefador e exportador, diz analista
17/01/2019 Os custos de produção serão decisivos para os produtores de café neste ano. Os que estão menos mecanizados durante o processo de produção, e consequentemente têm custos maiores, vão sofrer mais com a redução atual dos preços.
Carregamento de café no porto de Santos
Carregamento de café no porto de Santos – Paulo Whitaker – 10.dez.out.15/Reuters
A avaliação é de Guilherme Bellotti, analista sênior do Itaú BBA. O preço do café em Nova York é o menor desde meados de 2006, e não há muita perspectiva de alteração. A menos, é claro, que ocorra algum desastre climático em algum dos principais produtores.
Em sua análise, Bellotti se baseia nos números macros do setor. Os preços internacionais do café já caíram próximo de 20% neste ano, e não há muito espaço para altas significativas no curto prazo.
A produção mundial de café está estimada em 174 milhões de sacas em 2018/19, acima dos 159 milhões de 2017/18, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
O consumo deverá ser de 164 milhões de sacas, com estoques de passagem de uma safra para outra de 37 milhões. Ou seja, 23% do consumo mundial.
E os dois principias produtores mundiais, Brasil e Vietnã, mantiveram ritmo de crescimento nesta safra. Na avaliação do Usda, o Brasil produziu 63 milhões de sacas. O Vietnã, 30 milhões.
O Brasil teve um período de bienalidade positiva no ano passado, quando as lavouras rendem mais. A próxima safra será um período de bienalidade negativa, quando tradicionalmente a safra é menor.
Bellotti diz, contudo, que as condições climáticas, por ora, são positivas, e o cenário para a safra não é tão negativo.
Uma das possíveis alterações nesse quadro de boa oferta mundial seria países da Ásia e Colômbia sofrerem os efeitos do El Niño. As regiões de café do Brasil estão menos expostas a esse fenômeno climático.
Se o consumo vem com um crescimento de 3 milhões de sacas por ano, a produção ganha ritmo maior.
O analista do Itaú BBA diz que as renovações de cafezais estão sendo feitas com produto de melhor qualidade genética, o que eleva a produtividade.
Além da utilização de um material genético mais produtivo, os produtores melhoraram as condições de manejo das lavouras. Isso garante que, mesmo sem ampliação significativa de área, a produção cresça.
Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a produtividade do café arábica foi de 33,1 sacas por hectare na safra passada. Em 2016, também uma safra de bienalidade positiva, a produtividade média havia sido de 30,5 sacas.
No cenário atual de boa oferta, os que mais sofrem são os produtores, devido à queda de preços, segundo Gallotti.
Já os torrefatores têm uma maior oferta de matéria-prima a preços mais acessíveis e os exportadores, dentro da mesma estrutura que possuem, movimentam um volume maior de produto. Ganham no giro, diz o analista.
Vaivém das Commodities
A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.
Fonte : Folha