Se o clima se transformar, isso [apostas de recuperação da produção global nesta temporada] pode não ocorrer, aumentando os receios de escassez mais uma vez”, disse a analista de mercado Judith Ganes-Chase ao site internacional Agrimoney
Evolução do El Niño nos últimos meses – Foto: Divulgação/CPC |
Com as chances cada vez maiores de ocorrência do fenômeno climático El Niño desenvolver-se no Hemisfério Norte no fim do Verão ou no Outono, de acordo com o Serviço Nacional de Clima dos Estados Unidos, as expectativas dos envolvidos no mercado do café de recomposição dos estoques globais do grão ficam cada vez menores.
“Se o clima se transformar, isso [apostas de recuperação da produção global nesta temporada] pode não ocorrer, aumentando os receios de escassez mais uma vez”, disse a analista de mercado Judith Ganes-Chase ao site internacional Agrimoney.
O Centro de Previsão de Clima, do Serviço Nacional de Clima dos EUA, uma das seis agências científicas que compõem o NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), disse em sua projeção mensal que as chances são de 50% de ocorrência do fenômeno entre agosto e dezembro. Na última ocorrência, em 2016, o El Niño, caracterizado pelo aquecimento das temperaturas da superfície do Oceano Pacífico, foi relacionado a danos às safras de importantes produtos agrícolas, incêndios e inundações repentinas.
Na época, a safra de café em países da América do Sul e Sudeste Asiático – em maior intensidade – foi impactada. No Brasil, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP), as condições geradas pelo El Niño foram benéficas para a safra 2016/17.
“Ainda é muito incerto dizer o quão extremo ele se tornará e a maioria dos meteorologistas aposta apenas em um evento moderado, mas com o passar do tempo as ideias do retorno de um forte El Niño não estão sendo descartadas tão rapidamente”, pondera Ganes.
O Rabobank revisou recentemente para baixo sua previsão para a produção global de café na safra 2017/18, para 153 milhões de sacas de 60 kg, ante 155,4 milhões de sacas. Levando em conta uma produção menor que a esperada no Brasil e na Indonésia, estima-se um déficit de 5,3 milhões de sacas (2,7 milhões de arábica e 2,6 milhões de robusta).
“Os preços do café tendem a subir a partir de maio, mas se depois o inverno não apresenta geadas, o mercado começa a recuar e cai fortemente para baixa com a safra brasileira”, pondera Ganes.
Recentemente, o co-chefe da corretora agrícola da Marex Spectron disse ao Agrimoney que os estoques do Brasil já estão baixos. Depois dos leilões de estoques do governo brasileiro, com operação de venda concluída na semana passada d pouco mais de 3,5 mil sacas arábica com idade de 15 anos. “Pensamos que o armário no Brasil está vazio” em termos de estoques estatais, disse.
Para o analista da corretora inglesa, os estoques privados também estão “muito baixos” e as remessas do Brasil “continuarão declinando ao longo do próximo ano para 18 meses”.