Um segmento chamado café. Milhões de sacas produzidas, bilhões de xícaras consumidas e milhões de pessoas envolvidas e dependentes de toda a movimentação do agronegócio café, desde a semente até a xícara. Segunda bebida mais consumida em todo o mundo e responsável direta por proporcionar momentos de deleite para consumidores desde o menos favorecido até o mais abastardo. Popular e democrática, uma boa definição para uma xícara de café.
Consumido em boa parte do mundo, o nosso “cafezinho” vem ganhando ares de sofisticação, subindo a escala da evolução enquanto produto e trilhando caminhos que outros produtos já trilharam, agregando, atingindo valores expressivos e diferentes níveis de segmentação. Inúmeras casas de café são abertas diariamente, desde as que se propõe a prestar serviços exclusivos, com produtos gourmet e formas diferentes de preparo, até as grandes redes que crescem em escala exponencial, ávidas a disputar uma fatia de um mercado consumidor crescente e que em tempo vem atingindo aos poucos sua maturidade.
No Brasil, desde 1727, quando Francisco de Melo Palheta retornou da Guiana Francesa trazendo na bagagem algumas mudas da espécie arábica e iniciando portanto a produção e a história do café em nosso país, podemos dizer que esta bebida influenciou gerações, exerceu papel preponderante no desenvolvimento do Estado de São Paulo impulsionando a economia e trazendo imigrantes japoneses e italianos, e seguiu sua vocação de cultura migratória partindo para outros estados se estabelecendo em Minas Gerais, que como sabemos, é hoje o maior estado produtor de café do Brasil.
O desenvolvimento de pesquisas trouxe avanços tecnológicos que permitiram a geração de variedades mais produtivas, elevaram as médias de produtividade por área, geraram variedades resistentes a pragas e doenças entre outros avanços que permitiram que o Brasil alcançasse o posto de país com maior média de produtividade por área e com um leque significativo de variedades para serem cultivadas em diversas regiões.
Grande parte do avanço do setor produtivo também se deve a iniciativa privada, no caso o segmento de fornecedores de insumos, defensivos e maquinas agrícolas, além dos equipamentos de pós-colheita, que ano a ano lançam novas soluções em tecnologia que apoiam o cultivo de café em ganhos de produtividade, controle de pragas e doenças, nutrição do cafeeiro, mecanização e manejo em pós-colheita.
Tudo isso resultou num cafeicultor competitivo dentro da porteira. Obviamente que existem várias exceções e que não estamos aqui apontando regra, mas sim buscando traduzir um panorama comparativo a outras épocas e a outros países que também produzem café. Pois bem, o Brasil é de fato um líder dentro da porteira na cafeicultura global.
Acabamos de tecer aqui uma síntese bem resumida do setor produtivo, que é um dos elos da cadeia do agronegócio café, e que nem sempre é o mais favorecido ou que pelo menos nem sempre se sente o mais favorecido. Sabemos que temos no setor produtivo uma gama de cafeicultores que necessitam de mais assistência técnica, de mais difusão de tecnologia, que se encontram ainda endividados haja vista o grande período de dificuldades com preços não remunerativos que viveu o segmento, que ainda se recupera de uma crise profunda, busca folego.
E como explicar períodos longos de crise num setor que cresceu tanto dentro da porteira?
Eis o “X” da questão, sem querer tecer nenhum trocadilho com um bilionário brasileiro que segundo alguns veículos de imprensa quer investir em café.
O “X” da questão é buscarmos a integração da cadeia café.
De nada adianta termos um setor produtivo competente se não possuímos uma cadeia integrada e é claro que isso não se dá da noite pro dia, é preciso muito trabalho e muita conversa. Quando abordamos “cadeia integrada” dizemos respeito não apenas a um setor mas sim um segmento robusto, que trabalha com os elos integrados e que busca junto saídas para os momentos de crise e muito mais que isso, planeja junto melhoria para o segmento.
Uma cadeia integrada é formada por fornecedores de insumos, setor produtivo, cooperativas, torrefadores e exportadores, varejo trabalhando juntos, buscando fortalecer toda a cadeia para que todos os elos saiam ganhando. Quando um elo esta enfraquecido os outros também naturalmente se enfraquecem e acaba virando um efeito cascata, é um processo orgânico e natural de toda e qualquer cadeia.
Toda esta integração, deve ser sem sombra de duvida acompanhada, articulada e liderada pelos governos estaduais e federal, que devem exercer o papel de regulador e mais que isso, ser um agente financiador, integrador e influenciador.
Voltamos a frisar que a integração da cadeia não é tarefa fácil e não é algo que surge do acaso, é um movimento natural que deve surgir para a própria sobrevivência da cadeia. Vemos um grande crescimento no consumo de commodities em geral e mesmo o café sendo um produto com possibilidades de diferenciação ainda é uma commodity, pois também é passível de padronização, o que possibilita a comercialização em bolsas de valores e o torna um produto vulnerável à flutuações em função de movimentos especulatórios, que vão além da lei de oferta e demanda.
Não queremos portanto estar a mercê do mercado e viver oscilando conforme as crises e bolsas oscilam. Queremos o que todo mundo busca, equilíbrio, picos menores de oscilação. Queremos oferecer cafés da qualidade e potencializar nosso consumo interno. Queremos uma cadeia do agronegócio café verdadeiramente forte e para isso é necessário a integração.
Trabalhemos e nos conscientizemos neste sentido e veremos que o “X” da questão é a soma de esforços profícuos de todos os elos da cadeia, que integrados geram um segmento mais conciso, coerente, afasta movimentos especulatórios e privilegia quem legitimamente vive do agronegócio café.
Juliano Tarabal
Especialista em Agronegócio Café