Por Coriolano Xavier, Vice-Presidente de Comunicação do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM.
Quando comecei a trabalhar no agro, lá por idos do século 20, conhecendo pouco ainda do setor e das lidas da terra, um paciente pesquisador em melhoramento de plantas gravou em minha cabeça que a semente é o fator controlável de maior impacto potencial para o resultado das lavouras. Dizia ele que escolher uma boa semente é um contrato com o futuro.
Atualmente, quase todo dia se vê notícia sobre descalabros da administração pública. Nas pesquisas de opinião, os políticos estão no pódio da desaprovação e, nas mídias sociais, multiplicam-se as ondas de críticas a governantes. Mas, sob um olhar realista, o que existe nos gabinetes e plenários do poder fomos nós, como cidadãos, que colocamos lá.
Toda eleição é essencial. Porém, faz tempo que não vejo uma tão crucial como a de 2018, para fazer do voto uma ferramenta mais eficaz e produtiva. No próximo pleito, teremos um duplo desafio de escolha: um passado político a renovar e uma trilha de retomada econômica a desenhar e a construir. Vai ser um momento para tentar lavar o país e projetar um futuro.
O voto é como a semente. É o momento que temos para somar em torno de algumas ideias e ideais, plantando um potencial para o futuro nosso, da sociedade e do país. Se a cada safra observamos com expectativa a germinação das sementes, o comportamento das plantas e o seu resultado, por que não dedicar a mesma atenção para fundamentar e decidir o voto?
Pode-se começar, por exemplo, pelas principais coisas que precisam melhorar no Brasil, ou em nosso Estado, e que tenham conexão com nossa família, trabalho, negócios, comunidade, progresso e bem-estar. Não adianta pensar em tudo, isso não é realista. O melhor é selecionar alguns fatores chaves, meia dúzia talvez, pois até o universo foi construído aos poucos.
São demandas como melhoria na educação, na infraestrutura de transportes, na segurança, reforma tributária, reforma política, redução da desigualdade social, geração de emprego, incentivo à agropecuária, à exportação, controle da inflação, etc. Há muito por se fazer no país, claro, mas é preciso formar um pensamento e um juízo sobre as ações mais urgentes.
Com algumas prioridades na cabeça, o próximo passo será imaginar o que cada um dos candidatos precisará falar especificamente sobre os temas priorizados, para que comece a despertar o seu interesse e confiança. E aqueles que conseguirem isso, em alguma medida, representarão o voto que se alinha melhor com as suas expectativas.
Isso não vai resolver tudo, pois em gestão política, econômica e social de um país ou de um estado, as coisas caminham por meio de convergências, consensos e de modo gradual. Mas poderá ser uma boa semente, para um novo tempo da governança brasileira – no legislativo, no executivo federal e nos executivos estaduais. O país está precisando disso.
Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) divulgada em setembro, sobre intenções de voto para 2018, mostra um aspecto preocupante: todos os seis presidenciáveis que estão na praça têm índice de rejeição acima de 50%, em escala que vai até 64%. Prenúncio de uma eleição de escolha negativa (voto no “menos ruim”) ou de abstenção brutal.
Cenário que é porta-aberta para aventuras eleitorais. Mas o que o país precisa hoje é de ideias e ideais. Consciência e seriedade – a começar pelo voto, plantando boas sementes.