O visível déficit mundial de café, tentando enxergar o invisível, por Marco Antônio Jacob

Por: Rede Social do Café

Estamos dia 6 de outubro, são 277 dias transcorridos do ano de 2014, e, já estamos na safra cafeeira brasileira de 2015/2016.


Podemos tentar prever o que ocorrerá na produção brasileira de café para a safra de 2015/2016?


Como não temos bola de cristal, para tentar enxergar o invisível vamos usar o raciocínio lógico, fazendo alguns exercícios matemáticos, mas para isto, devemos retornar um pouco no passado para refrescar nossa memória.


Em dezembro de 2013, sendo conservadores e otimistas, a safra de 2014/2015 seria uma safra de ciclo cheio, dado a bienalidade, então tínhamos uma previsão de colheita de 54 milhões de sacas, sendo 37 milhões de arábicas e 17 milhões de conilon, vejamos abaixo as noticias publicadas em  Janeiro de 2014.


Volcafé


Jan. 6 – “We have found evidence in the field that encourages us to settle on a 51 mio bag crop estimate for the 2014/15 season, with around 35 mio bags of arabica and 16 mio bags of conillon.”


Citigroup


Jan.6 (Bloomberg)—Output in Brazil, the world’s top grower, may reach 52.6m to 53.2m bags in 2014  vs a previous estimate of 58.5m bags, Sterling Smith, a futures specialist at Citigroup Inc.,  said  today in a telephone interview.


Terra Forte


Jan.8 – Therefore our final number stands at 53.7 Mio, however with a strong negative bias.


A 52 / 54 range sounds safer at the moment.  Arabicas 36.250.000 and Conilon 17.440.000.


Neste mesmo Dezembro de 2013, as perspectivas de produção para a safra de 2015/2016 seriam de uma safra menor, pois além do ciclo ser ciclo de safra baixa, houve um grande desinvestimento na produção cafeeira brasileira devido aos baixos preços praticados pelo mercado, pois o café vinha sendo comercializado abaixo do custo de produção.


Então as projeções para 2015/2016 seriam de uma produção 20 % menor para os cafés arábicas, assim um potencial de 30 milhões de sacas, e, para os conilons, também devido também a uma pequena bienalidade, um leve declínio, com a produção estimada de 16 milhões de sacas, projetando assim um potencial produtivo total brasileiro para 2015/2016 de 46 milhões de sacas de café.


No período de Janeiro a Abril, os cafeeiros brasileiros se encontram com os frutos pendentes em fase de crescimento e enchimento do grão, e, a árvore também esta em fase de crescimento vegetativo, assim o cafeeiro precisa de muita água e energia para atender as necessidades de ambos.


Porém em Janeiro de 2014, ocorreu uma extrema anomalia climática, com uma longuíssima estiagem aliado a altíssimas temperaturas, intensa radiação solar e menor umidade relativa do ar sobre quase a totalidade do parque brasileiro de cafés arábicas, uma anomalia jamais imaginada e nunca experimentada.


Como nesta época os cafeeiros necessitavam de alto consumo de água e energia, iniciou uma competição entre frutos pendentes e o crescimento vegetativo, nenhum se saiu vencedor, com perdas para ambos; nos frutos pendentes muitas lojas não se completaram e houve um menor crescimento dos endospermas (sementes), e, também houve um menor crescimento vegetativo, tanto ortotropico (tronco) como das ramas plagiotropicas (laterias).


Em Março, já se podia constatar os danos causados, pois notava-se o menor crescimento vegetativo com varias necroses nas folhas e de ramas vegetativas devido a escaldadura , e ,  com um analise mais profunda , notava-se também danos no endosperma dos frutos pendentes , mas quantifica-los era ainda difícil.


Porém houve um agravante, pois dado a impossibilidade pelas condições climáticas, quase todo o parque cafeeiro deixou de receber tratamentos fitossanitários e nutricionais.


Partindo destes fatos ocorridos, agora no inicio de Outubro, findado a colheita, podemos quantificar a real dimensão na produtividade de 2014/2015 devido a esta extrema anomalia climática ocorrida entre JANEIRO e MARÇO de 2014.


Nos cafeeiros arábicos, foi constatado perdas de 5% a 80%%, dependendo de várias condições especificas


Cafeeiros de primeira safra (com raízes superficiais), em zonas mais quentes, com solos arenosos, houve perda de produção de até 80%.


Cafeeiros adultos, em solos mais argilosos, regiões mais frescas, contra face do sol e irrigados, houve perdas de produção de 5%.


De acordo com dados de pesquisadores, cooperativas e empresas privadas, a perda de produção para a safra de 2014/2015 nos cafés arábicos atingiu um montante de aproximadamente 7/8 milhões de sacas, apontando para uma colheita de cafés arábicas entre 29/30 milhões de sacas, portando a perda foi de aproximadamente 20% dos 37 milhões originalmente previstos, esta projeção é em linha entre as empresas privadas e órgãos de pesquisa oficiais.


Os cafeeiros conilons mantiveram a projeção inicial de 17 milhões de sacas, pois são produzidos em regiões onde não houve problemas climáticos, entretanto há uma discrepância do “trade” brasileiro e as entre as projeções da CONAB/INCAPER, órgão capixaba de pesquisas cafeeiras que afirma que a produção brasileira de conilons em 13 milhões de sacas.


Assim sendo, podemos apontar que a safra brasileira de 2014/2015 será maximamente próxima de 46/47 milhões de sacas.


Para a safra de 2015/2016, dado ao menor crescimento vegetativo registrado até o momento, devido a perversa anomalia climática no primeiro trimestre de 2014, na fase mais importante de vegetação (Janeiro e Março), juntamente aos menores tratos culturais devido a questões econômicas e a impossibilidade de fazê-los durante o período da estiagem como citado anteriormente, e, com o agravante de uma quantidade de cafeeiros sendo reformados (podados) atualmente, uma perda de 30% no potencial produtivo original de cafés arábicos é perfeitamente dentro da realidade, assim outros 9,6 milhões de sacas devem ser eliminados do potencial produtivo.


Ressalto que atualmente temos uma expressiva reforma das lavouras, com esqueletamento, decotes, recepas e arranquios de cafezais adultos, pois como mencionado o crescimento vegetativo foi pífio em muitíssimas lavouras.


Inclusive, as lavouras jovens (cafeeiros com até 5 anos), o crescimento vegetativo foi pequeno,  assim este contingente de lavouras  não terão potencial produtivo satisfatórios.


Não haverá nenhuma mágica ou milagre que fará reverter este quadro, pois a arte de produzir café é a arte de produzir ramas vegetativas no cafeeiro.


Então se deduzirmos 9,6 milhões de sacas do potencial produtivo de cafés arábicos que seriam  originalmente 32 milhões de sacas de café estimados em Dezembro de 2013, encontramos como potencial produtivo para 2015/2016 o montante de apenas 22,4 milhões de sacas .


Para o café conilon, devemos manter os mesmos 16 milhões de sacas de café, pois nenhum problema climático foi relatado.


Então o potencial produtivo brasileiro para 2015/2016, totaliza 38,40 milhões de sacas.


Abaixo apresento dois dados publicados pela COOXUPÉ, para que entendam a gravidade da anomalia climática ocorrida até o presente momento.


..


 


 



Média de chuvas no período de Janeiro a Setembro de 2014 foi apenas a metade do mesmo período de 2013.


 



..A literatura brasileira indica que regiões onde o déficit hídrico é maior que 150 mm , são inaptas para cafeicultura convencional (não irrigada).


 


O condão deste artigo não é estatístico, e nem tampouco uma precisão de acertos numéricos, é apenas uma reflexão matemática.


Então, visível é o déficit no suprimento de cafés para o mercado consumidor mundial, pois a produção brasileira nas safras 2014/2015 e 2015/2016 serão próximas a 85 milhões de sacas, e, os outros países produtores não terão a capacidade de suprir o déficit brasileiro, assim sendo, será necessário o uso dos estoques mundiais para atender a demanda global no período.


Oxalá não tenhamos nenhum outro problema climático nos países produtores de cafés, pois necessitamos que as condições climáticas mundiais sejam extremamente favoráveis a produção de café, pois os estoques podem não ser suficientes para atender a demanda mundial.
 

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