O SEGREDO DOS CAMPEÕES DO CERRADO MINEIRO

18 de novembro de 2014 | Sem comentários Origens Cafeeiras Produção

O SEGREDO DOS CAMPEÕES DO CERRADO MINEIRO


O segredo dos campeões do Cerrado Mineiro


Quais os segredos para fazer de um café um produto campeão e disputado mundo afora? Nós fomos atrás das respostas com os Campeões da Região do Cerrado Mineiro.


AC Café e Eduardo Pinheiro Campos. Esses são os nomes dos campões em qualidade na Região do Cerrado Mineiro. Recentemente eles venceram o II Prêmio Região do Cerrado Mineiro; AC Café na categoria Cereja Descascado e Eduardo Pinheiro Campos na categoria Natural, levando também o 2º e 3º lugares da categoria Cereja Descascado. Mas o que eles fizeram para chegar lá? Por que eles se destacaram em um universo de 4.500 produtores que compõe a Região do Cerrado Mineiro, única Denominação de Origem para Cafés no Brasil? Fomos buscar essas respostas. E encontramos o saber fazer das pessoas.


 AC Café – empresa com jeito de família


Quem nos recebe na AC Café é Fellipe Pacheco, Supervisor de Qualidade da empresa, logo junta-se a nós Carlos Roberto Piccin, Diretor Operacional da AC; ambos justificam a ausência de Carlos Borges, Gerente de Qualidade que junto a Fellipe e Piccin estão à frente da revolução que está sendo empregada na empresa em busca da máxima qualidade. Deixando a cidade de Araxá para trás, fomos para a Fazenda Santa Lúcia, de onde saiu o café campeão.



“A qualidade do café começa na qualidade das pessoas” esse é o mantra que Piccin repete justificando os resultados e as vitórias que o café da Fazenda Santa Lúcia tem conquistado nos concursos em que participa. Logo nas primeiras conversas a máxima se concretiza.


No laboratório de prova, Ueliton Rodrigues está torrando algumas amostras que logo irão para a mesa de prova, ele nos conta que ao provar o lote que viria a ser o campeão notou algo especial e decidiu chamar o time de qualidade para compartilhar a sensação; “cana de açúcar, era doce como cana de açúcar”, nos contou. Na AC os lotes passam por uma prova prévia para que seja decidido como o café será preparado, mantendo assim, toda a qualidade que está na planta.


No armazém, que hoje tem capacidade para 40 mil sacas, mas será ampliado para 120 mil, conhecemos Mário Augusto Pereira Flores, com 9 anos de AC é ele quem comanda o benefício, rebenefício e estocagem dos grãos. Orgulhoso ele conta que começou como faxineiro do armazém e que hoje é responsável por manter a mesma qualidade que está nos 300 gramas da amostra que é provada. “Meu desafio é não deixar perder a qualidade, preciso dar a todo o lote o tratamento perfeito para que ele corresponda à amostra provada, é um grande desafio” – conta ele.


Na pausa para o almoço, no refeitório da Fazenda Santa Lúcia conhecemos mais uma dessas histórias inspiradoras. Terezinha Ferreira nos recebe com um sorriso e um aroma de comida quentinha que abre o apetite, ela nos conta que está há quase 30 anos na fazenda, e foi lá que criou os filhos e fez os melhores amigos. Terezinha conta ainda, orgulhosa, que João Paulo Ferreira, seu filho é o Gerente da outra fazenda da mesma empresa, a Santa Rosalia, distante 65 quilômetros de onde estamos.


É na oficina que conhecemos um dos trunfos usados na Fazenda Santa Lúcia. Uma máquina de colher uvas e azeitonas que agora colhe grãos em um terroir diferente. Piccin explica que máquina se mostrou mais eficiente, tanto na preservação da qualidade do grão e da árvore como na rapidez com que executa, “cerca de 4 vezes mais rápido”. Com 8 anos na fazenda, o operador da nova tecnologia, Eurípedes dos Reis Resende diz que a perfeição da colheita é seu trabalho; “tenho que ter muita responsabilidade para não perder o que feito anteriormente na lavoura, preciso passar na velocidade certa, no talhão certo. Colhedeira, lavador e terreiro tem que estar em sintonia para que o café não perca qualidade em nenhum momento”.



A repercussão do II Prêmio Região do Cerrado Mineiro deu a Fellipe Pacheco ainda mais trabalho. Ele conta que começou a receber e-mails e telefonemas de pessoas querendo comprar o café campeão, “até de Israel eu recebi pedido”. Porém os grãos tão especiais já se esgotaram e a preocupação de Fellipe, Carlos e Piccin já é começar a pensar nos lotes da próxima safra. Pois segundo esse time a qualidade começa muito antes do período da safra, está na escolha dos tratos, nas sementes e em algumas técnicas que Piccin ainda não quis revelar.



Fazendas Dona Nenem e São João Grande – o Café Dona Nenem


Eduardo Pinheiro Campos é engenheiro civil e tem suas atividades principais em Belo Horizonte (MG). Nas premiadas Fazendas Dona Nenem e São João Grande em Presidente Olegário, distantes 8 quilômetros uma da outra,  seu braço direito é Renato Souza, quem nos recebe.  Há 4 anos com Eduardo, Renato exerce as funções de Coordenador Administrativo e de Qualidade, e é ele que nos guia pelos cafezais. Renato confidencia que sua grande paixão é a pós-colheita; do momento em que o café chega ao lavador até o essencial descanso dos grãos por 40 dias em tulhas de madeira.



Se junta a nós o experiente agrônomo Alino Pereira Duarte, que há 20 anos trabalha no Café Dona Nenem. Ao andar pelas lavouras nos conta que seu grande orgulho é ter participado da formação do cafezal, segundo ele cada detalhe da fazenda tem sua mão. O segredo da qualidade dos cafés, ele não tem medo de contar: os pés de café são plantados de modo a receber a incidência dos raios solares de maneira balanceada, ficam metade do dia na sombra e a outra metade no sol; para ele é o que equilibra o sabor adocicado dos grãos. Duarte chama atenção ainda para o manejo do mato, que segundo ele mantém os inimigos naturais do café no mato e longe do cafezal.


Durante nossa expedição pelas lavouras e pelos talhões vencedores de três das seis posições disputadas no II Prêmio Região do Cerrado Mineiro, quem nos encontra é Lázaro Seixas. Ele explica que começou na fazenda como técnico agrícola, mas que foi incentivado a estudar, hoje agrônomo conta com orgulho que há três anos está na gerência geral da Fazenda São João Grande. Seixas, como é chamado, é taxativo em dizer que no terreiro não se faz qualidade, apenas se mantém ou perde. “A qualidade do café está presente desde a escolha da semente para o preparo da muda, tratos culturais, momento certo de entrar na colheita, entre outros; a qualidade é uma soma do trabalho bem feito de uma equipe comprometida” – analisa.



Com metade da vida trabalhando na Fazenda, Hélio dos Reis Nascimento é um dos operadores de máquinas mais experientes do time, diz com orgulho que se sente parte responsável pela qualidade do café, “faço tudo com muita responsabilidade e cada prêmio que ganhamos é mais um degrau que subimos”.


Hélio ainda faz uma constatação interessante; ao passar mais tempo na fazenda do que em casa, considera que os colaboradores formam uma verdadeira irmandade. E essa irmandade não fica apenas nas relações que se construíram, mas estão na prática também. Márcio, Marcos e Hermes Soares da Conceição três irmãos que executam tarefas diferentes, mas que se complementam e que precisam de muita sintonia. O primeiro está na colhedeira; o segundo no terreiro e no despolpador e o terceiro está no benefício e rebenefício do café.  Os três setores são o coração da safra, precisam trabalhar em perfeita harmonia para que o café não perca a qualidade em nenhuma das etapas e a sintonia dos irmãos é a chave do sucesso. Também nas Fazendas Dona Nenem e São João Grande amostras são provadas previamente para que se estabeleça quais cafés serão preparados como Cereja Descascado e quais serão Naturais.



O resultado da qualidade passa por cada uma dessas pessoas, que dedicam maior parte de suas vidas aos resultados que vem chegando em forma de troféus. Um desses exemplos é Nilson José de Jesus que tem orgulho de ter em sua carteira de trabalho apenas uma empresa, Fazenda Dona Nenem, são 37 anos dedicados a ela.



Projetos sociais e meio ambiente


Tanto na AC Café como no Café Dona Nenem dois temas são tão importantes quanto a qualidade do café: meio ambiente e preocupação social. A limpeza e a coleta seletiva do lixo são vistos em todos os setores. Áreas de preservação permanentes foram recuperadas e fauna é monitorada e protegida.


Na AC Café uma horta abastece a cantina onde todos os funcionários das fazendas almoçam. Uma vez por semana os colaboradores ainda recebem verduras e legumes para levar para casa, tudo fresquinho e com muita fartura. A empresa mantém ainda algumas ações na escola da comunidade de Antinha, onde está localizada a Fazenda Santa Lúcia. Dia das crianças, ações de saúde, manutenção de atividades da escola são algumas das ações que a AC faz questão de executar na comunidade que a recebe.


No Café Dona Nenem um projeto de futsal é mantido pela fazenda. Celso Machado Rosa, há 30 anos na Fazenda e responsável pelo RH, é o treinador do projeto “Futsal do Futuro” que atende cerca de 35 crianças de 06 a 14 anos na comunidade de Santiago de Minas e funciona a mais de dois anos, sendo um do projeto querido por todos.


Por Sônia Lopes
Assessoria de Comunicação Federação dos Cafeicultores do Cerrado 

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