O RISCO DE FICAR VENDIDO A DESCOBERTO Por Rodrigo Costa

MERCADO DE CAFÉ – COMENTÁRIO SEMANAL – DE 28 DE SETEMBRO A 3 DE OUTUBRO DE 2015*

O decepcionante dado da criação de postos de trabalhos nos Estados Unidos durante o mês de setembro não impediu que os mercados acionários recuperassem depois de um início de semana que teve como destaque as perdas fortes de uma das maiores tradings do mundo, a Glencore. A gigante tem sofrido, entre outras coisas, com a perspectiva de baixo crescimento chinês.


O dólar americano escorregou no período inclusive contra as moedas dos países emergentes e os produtores de commodities, levando o Real a fechar a semana com alta de 1.07%, cotado a 3.9330.


As bolsas de café oscilaram erraticamente para cima, conseguindo na sexta-feira romper alguns níveis importantes de resistência, atraindo assim alguns fundos a cobrir uma pequena porção das suas posições vendidas.


No 6º Coffee Dinner da Suíça, evento que já se fixou como o mais importante dos que acontecem entre os países consumidores, foi um sucesso em atendimento e organização. Como não poderia ser diferente na Basiléia a conversa principal nas rodas era a florada brasileira e o potencial da produção de 2016/2017.


Algumas companhias e analistas estão começando a rascunhar seus números, considerando o parque instalado, esqueletamentos, crescimento vegetativo da planta e a florada que todos falam ter sido a melhor e mais bonita já vista. Entre os mais otimistas há os que falem em até 68 milhões de sacas de potencial, isto se as condições climáticas forem perfeitas. Curioso mesmo foi ver alguns participantes influentes mencionando que não será maior do que 56 milhões de sacas, e muitos crendo ser menor que 60 milhões de sacas.


Os leitores que tiveram a oportunidade de ver minha apresentação da BM&F, em maio último, devem se lembrar de eu ter citado que uma safra de 60 milhões é baixista para os preços, dados os dois últimos anos seguidos de déficit e que  não chegará a ser totalmente recomposto com um superávit de 5 milhões de sacas.


Outro fator a ser considerado é justamente as “condições climáticas ideais”. O inverno quente que tivemos no Brasil e as temperaturas se mantendo elevada no começo da primavera no mínimo servem de alerta aos produtores que há pouco mais de um ano viveram uma seca prolongada durante os primeiros meses do ano.


Sem falar que a florada que abriu em setembro precisa ter uma sequência maior de chuvas, que por ora tem sido esparsas e com a previsão ainda não apontando para o retorno de precipitações volumosas.


Fora isso há os fundos com uma posição vendida grande, os diferenciais muito firmes (inclusive encarecendo mais recentemente) e muita gente que está short basis. Os baixistas argumentam sobre a posição grande comprada dos comerciais, a desvalorização do Real e do Peso Colombiano, a entrada da safra colombiana e Vietnamita, além do carry-over no próprio Vietnã.


O fato é que entre hoje e a safra que potencialmente poder ser grande, há muita água para rolar e certamente haverá uma utilização crescente dos estoques certificados da bolsa, assim como de estoques não certificados nos destinos que tem preços bem mais atrativos do que os diferenciais oferecidos no FOB – que refletem a reposição.


Para terminar o quadro mais construtivo aos preços, não parece que o Vietnã vai ser tão agressivo nas vendas de café, e os produtores devem seguir segurando seu produto nos preços praticados atualmente. Um dos motivos é a melhor opção de vender pimenta do reino a US$ 9,400.00 a tonelada, ao invés de vender café a US$ 1,700.00 a tonelada. A cultura de black-pepper  tem crescido muito no país e indica uma limitação do aumento das safras futuras vietnamitas. 


O coringa capaz de mudar bastante a equação é o câmbio, com destaque o Real, mas até este eventualmente pode voltar a enfraquecer, não tanto em função dos Estados Unidos estarem arrefecendo um pouco o mercado de trabalho, mas pelo pânico ter diminuído.


O retorno potencial de ficar vendido em café abaixo de US$ 120 centavos por libra não me parece compensar o risco alto da posição, que não apenas precisa de muitas novidades baixistas mas pode sofrer uma forte inversão caso tudo não ocorra de forma ideal para os cafezais brasileiros.


Se o Real não voltar a enfraquecer eu arriscaria até dizer que talvez já tenhamos visto as mínimas do contrato “C”. Claro que as primeiras subidas do terminal serão mais difíceis de ser sustentadas já que devem ser aproveitadas para que os produtores negociem a safra  16/17.


Vale notar que o meu tom construtivo para preço não significa um mercado muito acima de US$ 150 centavos, ou seja, o contrato de arábica pode estar indicando um intervalo entre 120.00 e 150.00, isto se não houver problemas climáticos.


Uma excelente semana e muito bons negócios a todos,


*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

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