O progresso convive com a tradição na Aviação Velha

Por: 02/08/2007 05:08:14 - Folha de Londrina







História do Café


Apesar do número crescente de condomínios, o bairro ainda conserva lugares marcantes da história de Londrina











Fotos: Celso Pacheco

A Venda dos Pretos virou referência na região; ‘‘não venderia isso aqui por dinheiro nenhum’’, diz a proprietária


O estabelecimento de Dirceu resistiu ao progresso; a construção tem mais de 60 anos


Propriedades rurais foram repartidas e transformadas em bairro, cujo nome é referência ao antigo aeroporto
O ano é 1938. Aviões levantam poeira ao aterrissarem na Zona Sul de Londrina, atraindo a atenção dos moradores das propriedades rurais que cercam o primeiro aeroporto da cidade. Dezoito anos depois, em meados da década de 1950, o despertar da era do ”ouro verde”, que impulsionou o crescimento de Londrina graças à valorização do café, obrigou o aeroporto a se transferir para uma área mais ampla, na Região Leste. Foi o primeiro golpe que o progresso deu nas propriedades rurais da Zona Sul, que com o passar do tempo foram repartidas e transformadas em bairro, batizado de Aviação Velha, em referência ao antigo aeroporto.

A pista de pouso deu lugar a um campo de futebol, diversão garantida das famílias da região nos finais de semana. ”Naquela época, a população da zona rural era muito grande, então todo mundo se reunia para assistir os jogos no campo, comer pipoca, bater papo”, lembra Wilson Inácio Nascimento, presidente da Associação de Moradores da Aviação Velha, que chegou ao bairro no começo dos anos 1960, vindo do interior de Minas Gerais. A antiga pista hoje abriga algumas chácaras, o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) e o barracão da associação de moradores.

Mas a principal influência causada pelo progresso, que descaracterizou definitivamente o bairro, segundo alguns moradores, foi a avalanche de condomínios que invadiu a Zona Sul, com suas fortalezas cercadas de muros altos e seguranças por todos os lados. Pelas contas do presidente da associação, são mais de dez condomínios. ”O pessoal do condomínio é isolado, não se integra à comunidade local”, reclama Nascimento, complementando que a violência cresceu com a chegada dos condomínios. ”Como são pessoas de alto poder aquisitivo, acabam chamando a atenção dos bandidos”.

O comerciante Dirceu Calegari recebe alguns moradores dos condomínios de luxo em sua venda, um dos poucos estabelecimentos que resistiu ao progresso e ainda contrasta com a modernidade das casas vizinhas – a construção feita de barro tem mais de 60 anos. Ele garante que os vizinhos são simpáticos, e não é o poder aquisitivo que interfere nas amizades. ”Tem muita gente boa.”

Apesar do número crescente de condomínios, a Aviação Velha ainda conserva lugares marcantes da história de Londrina. Um deles é a casa de lazer do professor Zaqueu de Melo, pioneiro que fundou o Instituto Filadélfia e implantou o primeiro curso científico de Londrina, sendo homenageado com o nome do teatro anexo à Biblioteca Municipal.

A casa, que hoje faz parte de um condomínio fechado, era usada pelo professor nos descansos de final de semana. Apesar de abandonada, a estrutura da casa permanece firme, mas infelizmente, as paredes pichadas com xingamentos em inglês desmerecem a importância do local que abrigou uma figura importante da história londrinense.

Outro ponto marcante da Aviação Velha é a Venda dos Pretos, bar e mercearia que virou referência na região. ”A gente é muito querida por todos aqui, o movimento é ótimo. De domingo lota tanto que a gente tem até que mandar os fregueses embora”, conta a sorridente Izolina Francisco, com uma vitalidade de dar gosto aos 68 anos. O comércio é herança do baiano João Marques Neves e, se depender da dona Izolina, vai ser passado às gerações futuras da família: ”não venderia isso aqui por dinheiro nenhum”. Da mesma forma em que não pensa em se desfazer da venda, ela também não cogita a possibilidade de deixar a zona rural: ”A vida aqui é só alegria. Com muita simplicidade, conseguimos levar uma vida tranquila e feliz”.


Marco Feltrin
Reportagem Local

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