Diante das altas volatilidades dos últimos 60 dias, aproximadamente 40 centavos de dolar por libra, que correspondem a US$ 53,00 por saca, é necessário relembrarmos o que ocorria nos cenários do mercado de café antes da anomalia climática ocorrida no primeiro trimestre de 2014.
Podemos considerar, sendo conservadores e otimistas, que em Janeiro deste ano o potencial produtivo dasafra brasileira de café para 2014, era de 54 milhões de sacas, sendo 37 milhões de sacas de cafés arábicos e 17 milhões de sacas de conilon, não se esquecendo que esta safra é “ON”, isto é, apesar de que o evento da bienalidade haver se reduzido, este é um ano de safra cheia brasileira. Relembrando das previsões na primeira quinzena de Janeiro 2014, segue abaixo alguns reportes do início do ano:
Volcafé
Jan. 6 – “Nós encontramos evidências no campo que nos encorajam a estimar um volume de 51 milhões de sacas para a safra 2014/15, com 35 milhões de sacas de arábica e 16 milhões de sacas de conilon”.
Citigroup
Jan.6 (Bloomberg) – “A produção no Brasil, o maior produtor mundial, deverá alcançar entre 52,6 milhões e 53,2 milhões de sacas em 2014, sendo que a primeira estimativa apontava para 58,5 milhões de sacas, de acordo com Sterling Smith, especialista em mercados futures do Citigroup Inc”.
Terra Forte
Jan.8 – “Nosso número final para a estimativa é 53,7 milhões de sacas, porém, com um vies negativo. Uma média de 52 a 54 milhões de sacas é mais segura no momento. O volume de arábicas deverá ser de 36,250 milhões e de conilon de 17,440 milhões de sacas”.
O que ocorreu depois, isto é, após a primeira quinzena de janeiro de 2014?
Uma extrema anomalia climática, com uma longuíssima estiagem, altíssimas temperaturas e intensa radiação solar sobre o parque cafeeiro brasileiro de cafés arábicas, uma anomalia jamais imaginada e nunca vista.
Esta anomalia acima descrita, mas com uma intensidade muito menor é chamada de veranico, que , quando e aonde ocorreu o veranico, trouxe quebras aproximadas de 10% sobre a produção.
Voltando ao início de janeiro, sabíamos que os tratos culturais já eram deficitários devido ao baixo preço do café, pois o arábica estava sendo vendido abaixo do custo de produção.
Sendo assim, quais eram as perspectivas de produção para a safra de 2015?
No parque produtivo de cafés arábicas, sendo 2015 um ano de safra “OFF”, isto é, de menor produção, aliado a piores tratos culturais devido aos preços baixos, poderíamos estimar que a produção para a safra de cafés arábicas em 2015 seria menor que a de 2014, assim sendo uma produção de 34 milhões de sacas seria próxima a uma realidade. Para os conilons, dadas as condições econômicas e fisiológicas das plantas, devido também a uma pequena bienalidade poderíamos esperar um leve declínio em relação à safra de 2014, sendo assim, poderíamos projetar 16 milhões de sacas para a safra de 2015, então o total potencial produtivo brasileiro seria na ordem de 50 milhões de sacas de café.
Partindo destas premissas, qual a real dimensão na produtividade devido a esta extrema anomalia climática ocorrida entre janeiro e março de 2014?
Safra de 2014: tendo como base o artigo do Prof. Rena publicado em Março de 2014, uma perda de 22% de produção nos cafés arábicos não irrigados é perfeitamente plausível, no montante de 7,04 milhões de sacas, assim sendo, a previsão de safra para 2014, chega-se em 29,96 milhões de sacas de cafés arábicas e 17 milhões de sacas de conilons, perfazendo um total de 46,96 milhões de sacas .
Safra de 2015: O menor crescimento vegetativo registrado até o momento, devido à perversa anomalia climática no primeiro trimestre de 2014, na fase mais importante de vegetação, juntamente aos menores tratos culturais devido a questões econômicas e a impossibilidade de fazê-los durante o período da estiagem, uma quebra de 25% no potencial produtivo de cafés arábicos de sequeiro, num total de 7,25 milhões de sacas é realista e conservadora dentro dos fatos apresentados, vejam que o crescimento vegetativo é muito aquém destes 25% estimados para a quebra.
Importante salientar que neste ano de 2014 teremos um expressivo esqueletamento nos cafezais adultos, pois como mencionado, o crescimento vegetativo é pífio em muitíssimas lavouras.
Inclusive, os cafés jovens (lavouras até 3 anos), o crescimento vegetativo foi menor ainda, assim este contingente de lavouras novas não terão potencial produtivo satisfatórios.
Não houve nenhuma mágica ou milagre que fará reverter este quadro, pois a futura florada já está definida nos cafeeiros. A arte de produzir café é a arte de produzir ramas vegetativas.
Até o presente momento, em importantes regiões cafeeiras, as chuvas acumuladas desde setembro de 2013 são muito abaixo das médias históricas, como estará o déficit hídrico no solo em setembro de 2014? Pois dependemos desta variável para o bom pagamento da florada e futura produção de café.
As lavouras de cafés arábicas que já foram colhidas nesta época do ano encontram-se em estado bastante deplorável (sofridas) para a época.
Assim, estes 25% estimados para a quebra é bastante conservador, então, poderemos estimar otimistamente, que a produção de cafés arábicas para a safra de 2015 tem o potencial de produção em 26,75 milhões de sacas, e, se somarmos os 16 milhões de sacas de conilons, obteremos um total de 42,75 milhões de sacas de café.
Estimativas | Milhões de sacas | Biênio | Perdas | |||
| 2014 | 2015 | 2014 + 2015 | |||
Janeiro de 2014 | Total | arábica + conilon | 54 | 50 | 104 | |
Total | conilons | 17 | 16 | 33 | ||
Total | arábicas | 37 | 34 | 71 | ||
arábicas | irrigado | 5 | 5 | |||
arábicas | sequeiro | 32 | 29 | |||
Anomalia climática | quebra | -22% | -25% | |||
perda | -7,04 | -7,25 | –14,29 | |||
arábicas | sequeiro | 24,96 | 21,75 | |||
arábicas | irrigado | 5 | 5 | |||
Maio de 2014 | Total | arábicas | 29,96 | 26,75 | 56,71 | -20,13% |
Total | conilons | 17 | 16 | 33 | ||
| Total | arábica + conilon | 46,96 | 42,75 | 89,71 | -13,74% |
O condão deste artigo não é estatístico, e nem tampouco uma precisão de acertos numéricos, é apenas uma reflexão de matemática.
Então, previsível é o déficit no suprimento de cafés para o mercado consumidor mundial, que se encontra extremamente frágil, pois nos próximos 24 meses o consumo de café mundial será na ordem de 295 milhões de sacas, e, a produção brasileira será próximo a 89,71 milhões de sacas, e, os outros países produtores não têm a capacidade de suprir este déficit, assim sendo, será necessário o uso dos estoques mundiais para atender a demanda mundial.
Oxalá não tenhamos nenhum outro problema climático nos países produtores de cafés, pois necessitamos que as condições climáticas mundiais sejam extremamente favoráveis a produção de café, pois os estoques podem não ser suficientes para atender a demanda.
Abaixo gráfico de preços iniciando em 1973 até 28 de MAIO de 2014.